Chega ao mercado um defensivo biológico feito a partir de uma cepa do fungo Cordyceps javanica, com eficiência no controle de ninfas (forma jovem) e adultos do inseto
A luta contra a mosca-branca (Bemisia tabaci), praga que causa danos a mais de 40 cultivos no Brasil, ganhou mais um aliado.Uma parceria público-privada entre a Embrapa e a empresa canadense Lallemand Plant Care coloca no mercado o inseticida biológico Lalguard Java.
Uma alternativa sustentável para o controle do inseto, que apresenta resistência a vários inseticidas químicos sintéticos, o que dificulta e encarece seu manejo.
A mosca causa prejuízos diretos (sucção da seiva, injeção de toxinas e distúrbios fisiológicos) e indiretos, pela excreção de substância açucarada, que favorece o crescimento de fungos nas folhas. Além disso, é vetor de diversas doenças transmitidas por vírus nas plantas.
Baixo impacto ambiental
O Lalguard Java foi formulado a partir de uma cepa do fungo Cordyceps javanica, que demonstra eficiência no controle de ninfas (forma jovem) e adultos de mosca-branca, especialmente por seu comportamento classificado como “caçador”.
Isto é, cresce extensivamente a partir de insetos mortos e infecta outros insetos nas folhas, o que resulta em alta mortalidade da praga.
Aliado a isso, é inofensivo a seres humanos e outros vertebrados por apresentar baixo impacto em insetos benéficos, que atuam como inimigos naturais de pragas no campo.
Diferentemente de pesticidas químicos, o Lalguard Java é inócuo para o meio ambiente e deixa zero resíduo em alimentos.
A entomologista da Embrapa Eliane Quintela, uma das responsáveis pela pesquisa que deu origem ao produto, explica que o novo bioinseticida foi testado em todas as safras (verão, seca e inverno) para controle de mosca-branca nas culturas que são atacadas pela praga.
Segundo ela, trata-se de mais uma opção às limitadas estratégias de controle desse inseto.
“Esse bioinseticida confere proteção às plantas, deixa zero resíduo no alimento e é compatível com outros inseticidas, herbicidas e adjuvantes. O produto reduz também a possibilidade de resistência da mosca-branca e causa baixo impacto em insetos benéficos às lavouras, sendo uma alternativa aos defensivos químicos convencionais”, acrescenta Quintela.
Como é o bioinseticida
Trata-se de um formulado em pó molhável, aplicado via pulverização foliar, que contém conídios do fungo, ou seja, estruturas de germinação, que penetram na mosca-branca por contato.
Isso significa que não há a necessidade de ingestão, o que é um aspecto importante, pois não depende da alimentação do inseto para a infecção.
A cepa do fungo se multiplica dentro do hospedeiro, produzindo muitos esporos, que são as estruturas de disseminação do fungo, podendo ser espalhados pelo vento, pela chuva ou pelo próprio inseto, causando novas infecções.
De acordo com o fabricante Lallemand Plant Care, o Lalguard Java possui bom tempo de vida de prateleira, ou seja, cerca de um ano, se armazenado em condições adequadas e com controle de temperatura.
A entomologista destaca o potencial do novo insumo como ferramenta a ser incorporada aos programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) em cultivos de importância socioeconômica para o Brasil, como algodão, soja, feijão, tomate, batata, melão, melancia e plantas ornamentais, entre outros.
“A perspectiva de uso do Lalguard Java deve estar alinhada com o conjunto de práticas de MIP voltadas à manutenção equilibrada do nível populacional da mosca-branca no campo, agregando a rotação de culturas e de cultivares, realizando o monitoramento de insetos nas lavouras e observando os períodos de vazio sanitário estabelecidos em cada localidade do País, onde plantas hospedeiras de mosca-branca não podem ser cultivadas”, conclui Quintela.