A startup BioHop espera desenvolver cultivares mais adaptadas ao clima brasileiro para fabricação de cervejas “tropicais”
Sendo a primeira biofábrica voltada para a produção in vitro de mudas de lúpulo no Brasil, a BioHop quer ir além, e desenvolver novas cultivares de lúpulo mais adaptadas às condições climáticas do país, através do uso de ferramentas biotecnológicas.
Hoje a startup realiza suas pesquisas nos laboratórios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e conta com uma equipe formada por bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). A startup também integra o Hub de Startups apoiado pela SNA – o SNASH.
A ideia da empresa é não só trazer mais produtividade ao lúpulo produzido no Brasil, como também fornecer uma matéria-prima original para produção de cervejas com aroma e sabor tropicais.
“Queremos uma cerveja 100% brasileira. O lúpulo precisa de um impulsionamento do mercado para diminuir a importação do produto, que é um dos mais caros para indústria cervejeira, explica Cassia Coelho, fundadora da BioHop.
A fundadora da startup acredita que a produção nacional do lúpulo pode levar a uma redução da produção nacional de cerveja em 50%.
De olho nas cervejarias artesanais
Segundo ela, a empresa está de olho no enorme crescimento das cervejarias no Brasil, em especial as artesanais. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja – CervBrasil, o setor cervejeiro contribui com 1,6% do PIB nacional e gera 2,7 milhões de empregos.
Somente em 2021, foram registradas 200 novas cervejarias e outras 34 cancelaram os registros, o que representa uma expansão de 166 novas empresas no mercado cervejeiro no país, segundo levantamento do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“Estamos visando o mercado de bebidas, devido ao registro de cervejarias artesanais. Há uma busca por novas variedades, com aroma e sabor diferentes, que refletem o clima tropical. Queremos ser exportadores de bebidas com características tropicais”, aposta Cassia.
Ela explica que o crescimento da demanda pelo lúpulo, principalmente de aroma, é de cerca de 20% ao ano. Além disso, em 2020, houve um aumento de área cultivada somente de 110%. Entretanto, ainda faltam cultivares mais adaptadas ao clima no país.
“Há uma ausência de plantas adaptadas ao nosso clima. A maioria das mudas que nós temos são importadas da Europa e dos Estados Unidos. Algumas estão se dando bem, mas há uma carência de adaptação de novas variedades”, conta.
Cássia ainda destaca o retorno financeiro de quem produz lúpulo. A fundadora da BioHop aponta que o cultivo da planta necessita de pequenas áreas, o que favorece pequenos agricultores. Além disso, o lúpulo de aroma possui alto valor agregado, podendo um quilo chegar a valer R$ 700.
Produção de mudas in vitro
No Brasil, há poucos produtores de mudas, sendo a maioria importadas. Além disso, a maior parte das mudas produzidas aqui são por estaquia, o que, segundo Cassia, favorece a incidência de doenças.
“Estamos propondo a produção de lúpulo com cultivo in vitro e fornecimento de mudas ao longo de todo o ano, com três safras ao ano”, diz Cassia.
Entre as vantagens da produção de mudas por micropropagação (in vitro) pode-se citar o alto rendimento por planta matriz, obtenção de plantas isentas de patógenos, produção de mudas em qualquer época do ano, produção intensiva de mudas sadias em curto período de tempo e espaço reduzido.
Também é possível a clonagem de plantas de difícil propagação vegetativa por métodos convencionais e preservação de plantas matrizes sem risco e infecção.
Além dessas vantagens, a micropropagação, a longo prazo, possibilita a redução dos custos de produção e aumento da produtividade das plantas.
Pesquisa genética para farmácia e cosméticos
Além da indústria de bebidas, a BioHop também espera desenvolver pesquisa genética capaz de identificar compostos e ativos do lúpulo, que possam ser aplicados na fabricação de medicamentos e cosméticos.
“Nossa ideia é desenvolver um banco de diferentes cultivares visando não só adaptação ao clima tropical, mas a identificação de compostos para indústria farmacêutica pode ter interesse de aplicação em medicamentos”, afirma Cassia.
“Também queremos desenvolver variedades através da construção genética com maior proporção desses princípios ativos”, completa.
Apesar da maior parte da produção de lúpulo ser direcionada para as cervejarias, o lúpulo tem sido estudado cientificamente por seus múltiplos efeitos bioquímicos benéficos e potenciais aplicações fitoterápicas.
Segundo estudos compilados pela BioHop, o extrato de lúpulo demonstrou ter efeitos inibitórios diretos sobre vários tipos de câncer, incluindo câncer de cólon, pele e osso e leucemia.
Isso ocorre devido à capacidade de regulação de diferentes vias bioquímicas de células cancerosas por parte de componentes presentes no extrato da planta.
O lúpulo também pode ser utilizado para desenvolvimento de tratamentos alternativos de sintomas da menopausa, uma vez que o lúpulo possui biomoléculas consideradas mimetizadores de estrogênio (fitoestrogênios).
Outro uso alternativo do lúpulo é na formulação de antibióticos, uma vez que vários estudos mostraram o potencial dos extratos de lúpulo em interferir e inibir o crescimento de bactérias, fungos e protozoários e atuar como agentes antivirais.
Esses estudos demonstram um papel importante do lúpulo para “além das cervejas” e apontam várias possibilidades para investimento e direcionamento da produção de lúpulo.
Melhoramento genético de plantas
O método utiizado pela BioHop prara melhoramento genétrico do lúpulo é o CRISPR. É uma das técnicas mais modernas para a edição gênica de diversos organismos, incluindo plantas.
O sistema CRISPR tem enorme potencial de acelerar o melhoramento genético de plantas, auxiliando os agricultores a superarem os principais desafios que acometem as lavouras.
Desafios como sensibilidade ao calor, ao estresse hídrico, susceptibilidade a pragas e doenças são apenas alguns dos problemas que já estão sendo estudados em plantas, empregando a nova técnica.
Além disso, o sistema CRISPR deve auxiliar na recuperação da biodiversidade, através do desenvolvimento de novos germoplasmas e até novas culturas.
Com isso, as plantas desenvolvidas com essa nova técnica poderão contribuir não apenas nos desafios agrícolas, mas também nas questões ambientais.
Conheça o SNASH – SNA Startup Hub
Redação A Lavoura