Se a resposta é sim, siga as dicas do agrônomo Gilberto Cardoso e aprenda a maneira eficaz de acabar com essa incômoda praga
Apesar de serem bastante conhecidas de quem pratica horticultura, jardinagem, ou se dedica a outras plantações, seja profissionalmente ou por lazer, as cochonilhas, ainda causam estragos significativos. Isso porque, após aplicarmos todos os produtos indicados e considerarmos já exterminadas de nossas hortas, jardins ou plantações, elas voltam a aparecer, como num “passe de mágica”.
O retorno indesejável e frustrante dessa praga nas plantas pode ser evitado com alguns cuidados, segundo o engenheiro agrônomo Gilberto Cardoso, do site Pergunte ao Agrônomo. “Precisamos entender o ciclo de vida das cochonilhas, pois esta é a informação mais importante se o seu desejo é controlar definitivamente essa praga”, afirma.
Segundo o especialista, a cochonilha é um inseto sugador, quer dizer, se alimenta da seiva das plantas, seja através das raízes, folhas, pseudobulbos, axilas (junção do pecíolo com o caule) e, até mesmo, dos frutos, causando seu enfraquecimento.
Espécies
O agrônomo explica que são várias as espécies de cochonilhas, de diferentes tamanhos, que podem variar entre 0,5 a 8 milímetros de comprimento.
Quanto à coloração das cochonilhas, além das cores marrom e branca, existem outras menos conhecidas, como as róseas, pretas, verdes e amareladas.
Cochonilha branca ou cochonilha farinhenta (Planococcus citri, P. ficus, Pseudococcus longispinus, P. maritimus e P. viburni)
Tem como principal característica a secreção cerosa, de cor esbranquiçada, cobrindo todo seu corpo.
“Os machos adultos quase não se alimentam da planta, porque servem exclusivamente para o acasalamento, deste modo, morrem após o ato para procriação. Todos os machos dessa espécie são alados, ensina Cardoso.
Cochonilha-de-carapaça ou cochonilha-pardinha (Selenaspidus articulatus)
Sua coloração varia de castanho-amarelado a castanho-escuro. Ataca folhas, pseudobulbos, rizomas, raízes, pétalas e sépalas.
Essas cochonilhas são facilmente disseminadas quando as plantas estão muito agrupadas. Correntes de ventos podem acelerar a disseminação dessa praga para todo o local de cultivo.
“É comum a aquisição de plantas com essa praga, sendo o principal motivo delas estarem presentes nos lares”, explica o especialista.
Cochonilha-rosada (Maconellicoccus hirsutus)
De acordo com a Embrapa Meio Ambiente, a espécie cochonilha-rosada tem pouca ocorrência no Brasil.
“Temos sorte de ainda não haver grande incidência desse inseto no País, porque atacam culturas muito importantes da agricultura brasileira, como o café, milho, citros, goiaba, feijão, uva, entre outras”, ressalta Cardoso.
Cochonilha-corante ou cochonilha-do-carmim (Dactylopius coccus)
O agrônomo salienta uma curiosidade desta diferenciada cochonilha, que, ao contrário do que se imagina, não é sinônimo apenas de prejuízo, pois essa espécie pode estar presente em diversos produtos alimentícios, têxteis e cosméticos.
“Alimentos como iogurtes, biscoitos doces recheados, sucos e muitos outros produtos que possuem corante vermelho, a coloração é obtida através de uma substância produzida por essa espécie de cochonilha”, revela.
Cardoso explica que a cochonilha-do-carmim é praga exclusiva dos cactos, principalmente do cacto conhecido como pera espinhosa, ou figo de Barbary.
“O ciclo de vida da cochonilha-corante pode variar de 102 a 180 dias, dependendo das condições climáticas do local. “À primeira vista, pelo longo tempo que essa espécie leva para completar seu ciclo de vida, podemos imaginar que ela demora pra se estabelecer na planta e causar prejuízos, porém, não se engane”, avisa.
Segundo o especialista, definitivamente, a cochonilha-corante é perigosa, “porque cada fêmea pode ovipositar mais de 500 ovos de uma única vez”.
Cochonilha-cabeça-de-prego (Chrysomphalus ficus)
Medem aproximadamente dois milímetros e, quando atingem a fase adulta, adquirem a forma de uma escama circular, por isso, é conhecida por esse apelido peculiar.
“O macho adulto é bem menor que a fêmea, medindo cerca de 0,7 milímetros, possui coloração mais clara”, diz o agrônomo.
Danos causados por cochonilha
A cochonilha pode estar associada a doenças, de acordo com o especialista. “Um exemplo é a Dysmicoccus brevipes, também conhecida como cochonilha-pulverulenta, que, nas lavouras de abacaxi, está associada a uma doença virótica, conhecida por murcha-do-abacaxi. É essa espécie da praga que transmite esse vírus para a planta”, salienta.
O engenheiro agrônomo esclarece que, por serem insetos sugadores, os danos estão relacionados à sucção da seiva das plantas, sendo os seguintes os principais malefícios que as cochonilhas podem causar:
• Injetam toxinas nas plantas;
• Má-formação de folhas e frutos;
• Clorose (amarelecimento) em plantas e em mudas e, eventualmente, seu secamento, causando redução fotossintética;
• Secreção de substância adocicada onde a fumagina (doença que ocorre em vegetais) se desenvolve, fazendo com que a área para fotossíntese diminua, uma vez que diminui a respiração e transpiração das plantas;
• Enfraquecimento e subdesenvolvimento da planta e dos frutos;
• Transmitem doenças, principalmente vírus;
• Retardo do início da produção;
• Queda prematura de flores;
• Ocasionalmente causam a morte das plantas;
• Queda de produção nas culturas atacadas.
Como acabar de vez com a cochonilha
Para realmente controlar essa indesejada praga, o agrônomo sublinha que é preciso entender o ciclo de vida das cochonilhas. “Esta é a informação mais importante para exterminá-la, de uma vez por todas, de sua horta, jardim, ou plantação, porque não adianta nada eu passar a receita do melhor inseticida se ciclo de vida dos insetos não for interrompido”, alerta o especialista.
Para ele, à primeira vista, parece complicado entender, “mas não é”, frisa, acentuando que, “ao se aplicar o inseticida, é possível até matá-las e, inclusive, atingir várias fases de seu ciclo, como as fases de ovo, de ninfa e adulta. Porém, nem sempre o inseticida atinge todas as cochonilhas presentes na planta”, lembra Cardoso.
O agrônomo exemplifica afirmando que, “quando o inseticida é pulverizado para matar as cochonilhas, pode acontecer de sobrar alguns de seus ovos, por estarem em locais de difícil acesso à pulverização do produto. Assim, quando a ninfa eclodir do ovo, o ciclo vai continuar e as cochonilhas estarão novamente presentes nas plantas”, adverte.
Segundo o especialista do site Pergunte ao Agrônomo, para evitar que isso ocorra, “é extremamente necessário a reaplicação do inseticida para atingir as várias fases do desenvolvimento da praga. Este é o segredo!”, revela.
Ele acrescenta ainda que, dependendo da espécie, será preciso reaplicar o inseticida após 10 dias, e repetir o processo por até três vezes.
“Aplica-se uma vez, depois de 10 dias aplica-se novamente e, após mais 10 dias, efetua-se a última aplicação”, enfatiza.
Cardoso aconselha verificar quantos dias a cochonilha que está na planta completa seu ciclo de vida e dividir esse valor por três (número de aplicações).
“De acordo com o valor encontrado, esse será o intervalo de tempo entre as três aplicações. Simples assim!”.
Inseticidas naturais para cochonilha
Todos os produtos recomendados pelo agrônomo foram testados e aprovados em cartilhas agronômicas, artigos científicos e testes concretos. “Então, pode confiar”, afirma Cardoso.
Óleo mineral + detergente neutro
Para o preparo deste inseticida natural, será necessário acrescentar, em um litro de água, 1% de óleo mineral (10 ml de óleo) e 1% de detergente neutro (10 ml). Em seguida, é preciso agitar bem para fazer as pulverizações foliares para o controle das cochonilhas.
Calda de fumo + água de sabão
- Para preparar a calda de fumo:
Picar meio palmo de fumo de corda e colocar em um litro de água com uma xícara (café) de álcool. Deixar de molho durante 24 horas. Por fim, é importante identificar o recipiente que irá conter o inseticida, para evitar acidentes.
- Para preparar a água de sabão:
Bata misturar uma colher (sopa) de sabão de coco raspado em um litro de água quente para dissolver todo o sabão.
- O inseticida:
Depois de pronto, é preciso acrescentar 5 colheres (sopa) da calda de fumo em um litro de água e misturar com um litro da água de sabão. Finalmente, pulverizar as plantas com essa mistura ou regá-las, atentando para molhar bem, principalmente por baixo das folhas.
Samambaia do mato + água
Primeiramente, será necessário se obter 500 g de folhas secas, ou 100 g de folhas frescas ou secas de samambaia do mato. Depois, é preciso colocá-las em um litro de água por 48 horas. Em seguida, coar e diluir em 10 litros de água.
Querosene + óleo mineral + amido
Para conseguir fazer esse inseticida, deverão ser misturados 300 ml de óleo mineral, 20 ml de querosene e 100 g de amido em 10 litros de água.
Produtos encontrados no comércio
Existem diversos produtos famosos para o controle de cochonilhas comercializados em mercados e lojas especializadas. De acordo com o especialista, um deles, “o óleo de neem composto (significa que o produto possui extratos vegetais)”.
Entretanto, Cardoso adverte que a árvore de neem tem efeito tóxico para abelhas. “Assim, deve-se ter cuidado ao aplicar o óleo de neem, sendo imprescindível a aplicação depois das 17h-17h30min, pois as abelhas já terão retornado para as colmeias”.
Segundo ele, ainda são necessárias mais pesquisas sobre a matéria para se ter um conhecimento mais aprofundado.
Como evitar cochonilhas
O especialista do site Pergunte ao Agrônomo é taxativo em afirmar que “mesmo depois de fazer todos os procedimentos para controlar as cochonilhas das plantas, não significa que o seu trabalho já terminou”.
Para ele, é imprescindível prestar bastante atenção, a fim de se evitar que elas retornem. “Cochonilhas podem ‘pegar carona’ de várias formas: no manuseio, através do vento, em gotas de chuva e nas plantas próximas que estejam infestadas, voltando causar infestações e danos no jardim, na horta ou na plantação”.
Para que isso não ocorra, Cardoso aconselha utilizar soluções repelentes de insetos frequentemente, isto é, pelo menos a cada 10 dias ou 15 dias. E ensina algumas receitas naturais para deter a praga:
Repelente de pimenta-do-reino com alho e sabão
- Extrato de Pimenta-do-reinoMisturar 100 gramas de pimenta-do-reino em um litro de álcool. Deixe em repouso por uma semana. Em seguida, é preciso coar e guardar em um recipiente de vidro com tampa, identificando o conteúdo.
- Extrato de alhoMisturar 100 gramas de alho amassado com um litro de álcool e colocar em uma garrafa ou recipiente de vidro com tampa. Deixe em repouso por uma semana. Logo depois, coar e guardar identificando com um rótulo o conteúdo.
- Mistura finalCada vez que utilizar o produto, é necessário dissolver 50 gramas de sabão de coco em um litro de água quente; acrescentar um copo de extrato de pimenta, mais meio copo de extrato de alho. Misturar bem e, depois, acrescentar água até completar 20 litros.
Repelente de pimenta
Misturar 500 gramas de pimentas vermelhas (malagueta) em um liquidificador com dois litros de água até a maceração total. Em seguida, coar o preparado e misturar com cinco colheres (de sopa) de sabão de coco em pó, acrescentando mais dois litros de água.
O repelente está pronto para pulverizar sobre as plantas.
Como e quando aplicar o repelente
Cardoso orienta que, antes da aplicação do repelente, é recomendável fazer a irrigação, “para não se correr o risco de ‘queimar’ nenhuma parte da planta e, também, para melhorar o espalhamento do produto”.
O agrônomo frisa que “qualquer produto que será aplicado nas plantas, seja fertilizante, repelente natural ou químico, deve ser pulverizado em horários cuja temperatura esteja mais amena, de preferência ao final da tarde”
Ele ainda adverte para nunca aplicar qualquer produto caso a planta esteja debaixo do sol direto, “pois a temperatura pode aumentar e as gotículas de água esquentar de tal maneira que, em alguns casos, ‘cozinham’ a folha”, enfatiza.
O especialista recomenda ainda aplicar o repelente também no solo dos vasos, “para tentar alcançar as cochonilhas que estiverem dentro dele”.
Finalmente, Cardoso explica que, para controle eficaz da praga, “é importante utilizar repelentes específicos e na quantidade adequada para cochonilhas, para que não ocorra qualquer tipo de resistência aos produtos.