A emissão diária do gás por quilo de ganho de peso foi de 614,05 gramas no pasto consorciado, cerca de 70% a menos do peso degradado
O uso da leguminosa guandu BRS Mandarim consorciada com os capins Marandu e Basilisk aumentou o ganho de peso dos bovinos e resultou na emissão de metano por quilo obtido. A produção diária do gás por quilo de ganho de peso foi de 614,05 gramas no pasto consorciado, cerca de 70% a menos do que no degradado, com 2.022,67 gramas.
Essa foi a conclusão da pesquisa, desenvolvida em parceria entre a Embrapa Pecuária Sudeste, a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) e o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena/USP), de Piracicaba (SP)
A pesquisa avaliou o desempenho e a emissão de metano entérico (resultante do processo digestivo) de novilhos Nelore em três diferentes sistemas de produção, incluindo o consórcio com guandu BRS Mandarim.
A produtividade também foi melhor no tratamento consorciado com guandu – os animais ganharam 478 gramas por dia, enquanto no pasto degradado, o ganho foi de peso médio anual foi de 302 gramas por dia, um aumento de 58% na comparação.
De acordo com o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), Alexandre Berndt, qualquer tecnologia que reduza metano, com baixo custo, e que contribua para a eficiência do sistema de produção e para a sustentabilidade é desejável e deveria ser adotada.
O experimento
Realizado de julho de 2020 a julho de 2021, na Fazenda Canchim, em São Carlos, SP, na sede do centro de pesquisa da Embrapa Pecuária Sudeste, o experimento utilizou 27 animais utilizados, entre 15 e 16 meses. Eles foram pesados mensalmente e o metano medido pela técnica do gás traçador de hexafluoreto de enxofre (SF6) por cinco dias consecutivos na estação das águas e na seca.
No experimento, foram realizados três tipos de tratamentos. Um deles foi a pastagem recuperada das gramíneas Urochloa decumbens cultivar Basilisk e Urochloa brizantha cultivar Marandu com calagem e adubação de correção com fósforo (P), potássio (K), enxofre (S) e micronutrientes e fertilização nitrogenada com 200 kg de nitrogênio (N) por hectare ao ano na estação chuvosa divididos em três aplicações, com taxa moderada de lotação animal;
O segundo tipo de tratamento ocorreu em pastagem degradada com baixa taxa de lotação animal, e, o terceiro, em pastagem recuperada com calagem e fertilização corretiva com P, K, S e micronutrientes e consorciada das gramíneas Urochloa decumbens cultivar Basilisk e Urochloa brizantha cultivar Marandu com guandu BRS Mandarim, com taxa de lotação animal moderada.
De acordo com o médico veterinário Althieres Furtado, mestrando na área de Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP, sob orientação do professor Paulo Henrique Mazza Rodrigues, foram realizadas três repetições de cada tratamento, com ajuste da taxa de lotação pela técnica put and take. O método coloca e retira animais da pastagem, de acordo com a oferta da forragem em cada época do ano.
Os ganhos
Os bovinos no tratamento consorciado com guandu ganharam 478 gramas por dia, seguido do recuperado, com 387 gramas por dia e, por último, no degradado, com 302 gramas por dia de média de ganho de peso anual.
A emissão diária de metano por quilo de ganho de peso foi de 2.022,67 no pasto degradado; 1.053,55 no recuperado; e 614,05 gramas de metano por quilo de ganho de peso no consorciado. A recuperação com o consórcio de guandu emitiu 70% a menos e a recuperação com uso do fertilizante nitrogenado emitiu 48% a menos que o pasto degradado.
Para o pesquisador André Pedroso, da Embrapa, esse resultado foi possível porque, além de diminuir a emissão de metano entérico, o consórcio com feijão guandu e a recuperação de pastagens melhoraram o desempenho dos animais, com aumento no ganho de peso médio diário.
A mensuração
As coletas de metano dos animais são feitas por meio automatizado ou manual. Na Embrapa Pecuária Sudeste são utilizadas as duas formas. No experimento, a mensuração usada foi a manual.
Na mensuração manual, uma canga tubular é acoplada a um cabresto, colocado atrás da cabeça do bovino, armazenando por 24 horas os gases emitidos pelo gado, sendo um deles um gás traçador fornecido ao animal com taxa de emissão conhecida, o que permite mensurar a emissão dos outros gases. Após esse período, o tubo é retirado e vai para análises no laboratório.
Já o GreenFeed, é uma tecnologia automatizada usada para medir, com maior rapidez e precisão, a emissão de metano (CH4) e gás carbônico (CO2) dos animais. O equipamento reconhece o bovino pelo brinco eletrônico e fornece uma quantidade de alimento ao animal assim que um sensor detecta sua presença no cocho. No mesmo momento, ele aspira e mede os gases emitidos durante a alimentação. Assim, a emissão é monitorada continuamente.