Consórcio de hortaliças em sistema agroflorestal é uma estratégia para diversificação e aumento da produtividade
Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) comprovaram o uso racional da água em produção da alface em cultivo solteiro e consorciado com rúcula e rabanete, em sistema agroflorestal (SAF) e a pleno sol, quando irrigados por gotejamento.
Conforme Laísa Hurpia da UFSCar, adotando o mesmo manejo da água de irrigação, considerando a exigência hídrica da alface e seguindo às recomendações para o bom desempenho nos dois sistemas de cultivo, constatou-se menor aproveitamento da água disponibilizada na irrigação, na maior parte do tempo do experimento, no tratamento com monocultivo de alface a pleno sol.
“Este fato pode ser explicado, em parte, pela menor evapotranspiração, decorrente da menor quantidade de folhas e raízes, ou seja, da menor densidade de plantas no sistema de monocultivo quando comparada com a densidade de plantas no policultivo”, explica Laísa.
Ela afirma que, geralmente, a eficiência do cultivo consorciado depende principalmente do nível de competição e complementaridade, espacial e temporal, entre as culturas componentes, ou seja, capacidade destas em maximizar a produtividade e o uso dos recursos disponíveis no local.
Produtividade
Neste sentido, o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Joel Queiroga explica que, considerando que SAF geralmente proporciona maior produção por unidade de área e melhor aproveitamento de insumos disponibilizados no processo de produção, como por exemplo, a água de irrigação, a hipótese era que o cultivo consorciado de hortaliças também tivesse maior produtividade e uso mais eficiente da água.
“E isso se confirmou. Com o uso da mesma quantidade de água de irrigação no cultivo consorciado e solteiro, no consórcio, além da produção de alface, foi possível também cultivar rúcula e rabanete”, informa. “Isso corresponde a um aumento de produção de massa seca de hortaliças por unidade de área de 129,5%, em média (SAF e pleno sol), em relação ao monocultivo,” acrescenta.
Queiroga destaca que a seleção de espécies a serem consorciadas é muito importante, nesse caso, em que as três espécies foram implantadas na mesma ocasião, após a colheita da rúcula e do rabanete de ciclos mais curtos. Assim, a alface, que possui um ciclo mais longo e exige maior quantidade de água com o passar do tempo, teve espaço e insumos disponíveis e suficientes para o seu desenvolvimento.
De acordo com o pesquisador, a adoção de consórcios de hortaliças em SAFs é uma importante estratégia para os agricultores aumentarem a produtividade e a diversidade de produtos, e também aproveitarem com mais eficiência os insumos disponibilizados no processo de produção.
Resultados
Segundo a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Aline Maia, os resultados mostraram também que a utilização do consórcio de hortaliças proporcionou uso mais eficiente da água de irrigação, considerando que, de maneira geral, os parâmetros avaliados de produção da alface, nesse sistema, não foram muito diferentes dos observados no cultivo solteiro.
“Obtivemos resultados interessantes, como por exemplo, o diâmetro horizontal que embora não tenha apresentado diferenças significativas entre os dois sistemas, tanto no SAF como a pleno sol, foi superior no consórcio quando comparado com o cultivo solteiro”, explica Aline.
Outro importante resultado diz respeito à produção de matéria seca, que no SAF apresentou diferença significativa e foi superior no consórcio quando comparado com o monocultivo. O mesmo não ocorreu a pleno sol. “Neste caso, observamos que o sistema de consórcio apresentou uma interação positiva no SAF quando comparado com a produção a pleno sol”, conclui Aline.