A constatação é do pesquisador Antônio Fernando Guerra: a cafeicultura do Cerrado tem vantagens sobre as demais do país porque nessa região o clima é muito bem definido e o período de colheita inicia-se exatamente quando termina a chuva. Ele explica que assim é possível produzir todos os anos café de boa qualidade. “Acredito que o futuro da cafeicultura nacional esteja na região do Cerrado. Por conta do clima propício, da topografia adequada para a mecanização e das tecnologias disponíveis temos todas as condições de sermos competitivos na produção de cafés de qualidade”, avalia o pesquisador.
Guerra defende que se os produtores rurais substituíssem por café parte das áreas irrigadas no Cerrado cultivadas com lavouras anuais (trigo, feijão, milho) seriam poupados em torno de 70 dias de irrigação no período seco do ano. Isso seria ambientalmente benéfico, pois permitiria economizar água e energia, justamente na época em que a água é mais escassa na região do Cerrado. Segundo ele, no entorno de Brasília, muitos produtores que tradicionalmente plantam grãos já estão interessados em mudar de atividade. “A cultura de grãos irrigada, no preço que está o insumo, e no preço de venda do produto, está quase inviável. No entorno do DF vários produtores já estão fazendo essa troca”, informa.
Manejo adequado
Para que a cafeicultura no Cerrado seja viabilizada, a irrigação possui papel fundamental, já que se trata de uma região cuja distribuição de chuvas é irregular. Mesmo assim, cerca de 95% dos produtores que usam a irrigação não utilizam nenhum critério técnico de manejo da água. Para auxiliar os produtores nessa tarefa, a Embrapa Cerrados disponibiliza um programa gratuito, simples e eficiente que busca orientá-los nesse sentido. A intenção é tornar essas informações cada vez mais acessíveis. A partir de dados referentes à idade do cafeeiro, ao tipo de solo e às condições climáticas regionais, é possível determinar a lâmina líquida de água a ser aplicada em cada irrigação. Essa ferramenta denominada Programa de Monitoramento de Irrigação está disponível na página eletrônica da Embrapa Cerrados (www.cpac.embrapa.br).
Segundo Guerra, é possível economizar 30% da água e da energia usadas na irrigação durante todo o ano se o produtor souber com clareza quanto aplicar de água e quando parar. “Se juntarmos a essa tecnologia a questão de adequação de fertilidade do solo e conhecimento sobre como manter uma estrutura adequada das plantas, com tudo isso, é possível se chegar a um pacote tecnológico que já está disponível para se ter competitividade e sustentabilidade nessa área”, afirma o pesquisador.