A claudicação, mais conhecida como “manqueira”, é um sintoma muito comum das enfermidades articulares que acometem os pequenos animais. Nosso objetivo é esclarecer rapidamente quais são os principais componentes de uma articulação e o seu metabolismo normal e assim comentar sobre os diversos fatores que predispõem o animal a apresentar artrite e/ou artrose, que levam ao aparecimento de dor e sensibilidade articulares. Este entendimento torna-se importante para a instituição da terapia adequada e avaliação da resposta frente ao tratamento, além de fornecer subsídios para o aspecto preventivo destas enfermidades, que é mais econômico e evita sofrimento ao animal.
Uma articulação é composta pelas extremidades ósseas (epífises ósseas), pelas cartilagens articulares anexas a estas extremidades, pela membrana sinovial e pelo líquido sinovial (aquilo que conhecemos como “água do joelho”, no caso desta articulação). Ligamentos, músculos e tendões ajudam na fixação da articulação, permitindo seu funcionamento perfeito. A artrite, processo inflamatório da articulação, leva ao aparecimento de alguns sinais como aumento de sensibilidade na região, o que leva à claudicação, aumento de volume e de temperatura e, em casos mais graves, perda de amplitude da movimentação, ou seja, quando não tratada pode levar à perda da capacidade de flexão e extensão da articulação. Já a artrose possui um caráter mais crônico, e está definida como sendo o processo degenerativo da articulação. Em geral é menos lesiva quando comparada à artrite, até porque teoricamente possui uma evolução mais lenta, porém, requer o mesmo protocolo de tratamento, que está fundamentado na diminuição do processo inflamatório e na reconstrução do tecido cartilaginoso lesado.
A diminuição da inflamação é importante uma vez que diminui o inchaço e a dor na região, propiciando o retorno da movimentação normal da articulação. Os principais compostos utilizados para este fim são os antiinflamatórios não-esteroidais (AINE’s), sendo que alguns se destacam por possuírem predileção para o tecido músculo-esquelético. A administração de medicamentos antiinflamatórios isoladamente, no entanto, não é o suficiente para o tratamento de enfermidades articulares; inclusive, pode até ser perigosa, uma vez que o animal, sentindo menos dor, poderá aumentar o grau de lesão das estruturas articulares, já danificadas pelo processo inicial. Sendo assim, o protocolo ideal de tratamento seria a associação entre compostos antiinflamatórios e os chamados protetores articulares – que são produtos à base de glicosaminoglicanos – os componentes que formam a cartilagem articular. Uma vez estabelecido um processo inflamatório na articulação, as superfícies articulares, compostas por cartilagem, perdem sua composição natural, diminuindo a concentração de glicosaminoglicanos (com destaque para o sulfato de condroitina tipo A), o que faz com que elas tenham uma menor capacidade de absorção de impactos, levando a uma lesão ainda maior. Ainda, o inchaço da região leva a uma diminuição da viscosidade do líquido sinovial, o qual é responsável pela lubrificação e pela nutrição das superfícies articulares. Isto acaba por agravar ainda mais o processo que, quando não tratado, torna-se cada vez mais lesivo e comprometedor para a movimentação da articulação.
Desta maneira, o principal protocolo de tratamento de enfermidades articulares em cães consiste na diminuição da inflamação estabelecida, através da administração de compostos antiinflamatórios, e na suplementação com princípios que tenham a capacidade de recompor o tecido cartilaginoso lesado. O sulfato de condroitina tipo A, principal constituinte da cartilagem articular, por exemplo, pode, inclusive, nos casos mais graves, ser administrado pela via injetável. Em casos específicos, poderá ainda ser utilizado em associação ao ácido hialurônico, um outro tipo de glicosaminoglicano, que está relacionado com a viscosidade do líquido sinovial. A administração de ácido hialurônico aumenta a capacidade de lubrificação deste líquido, pelo aumento da viscosidade, e diminui o grau de lesão do tecido cartilaginoso.
Apesar de tudo isso ser fundamental para a recuperação do animal, mais importante que o tratamento é o caráter preventivo, que evita o sofrimento do animal e é comprovadamente menos custoso, conforme comentado anteriormente. Além do frio, são alguns fatores que predispõem o aparecimento de dor e sensibilidade articular nos cães: caráter hereditário de algumas enfermidades, como a displasia coxo-femural, em raças de grande porte (muito comum no Pastor Alemão e no Rottweiler); ambientes com piso liso, que levam a um sobreesforço da articulação coxo-femural; obesidade (dados recentes estimam que 25 a 35% dos cães estejam acima do peso); idade (animais idosos são mais predispostos à artrose) e a alimentação. Sendo o tecido cartilaginoso bastante dinâmico, ou seja, mantém-se em constante equilíbrio entre estímulos lesivos do dia-a-dia e reparação de micro-lesões provocadas por estes estímulos, a prevenção deve incluir a administração oral de componentes que auxiliam na reposição do tecido cartilaginoso lesado, que leva ao aparecimento de dor. Os principais produtos existentes no mercado para este fim são à base de sulfato de condroitina, devendo ser administrados diariamente (ou de acordo com o nível de atividade de cada animal), por via oral, misturado ao alimento ou diretamente na cavidade oral.