Nem todas as flores são benéficas. Quando o canavial floresce, é um mau sinal para o setor, pois a sacarose dirigida à geração de flores não será utilizada para desenvolver a lavoura nem produzir açúcar. Para evitar essa ocorrência, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) vem pesquisando a fundo os mecanismos do florescimento da cana-de-açúcar – e agora conta com um reforço infraestrutural de peso, com a inauguração do Laboratório de Biotecnologia do Centro de Cana do IAC.
A instalação conta com 550 m², o que permitirá a ampliação dos estudos, a capacitação de recursos humanos e parcerias com o setor de produção. Além do laboratório, foi inaugurada a primeira câmara de fotoperíodo do país, que viabilizará o sincronismo do florescimento, e haverá o lançamento de três variedades IAC de cana-de-açúcar.
O Laboratório de Biotecnologia, construído com recursos do estado de São Paulo e da FAPESP, abrange as áreas de sequenciamento de DNA, microscopia, diagnóstico molecular e expressão gênica. De acordo com Silvana Aparecida Creste Dias de Souza, pesquisadora do IAC, a nova infraestrutura permitirá desenvolver grandes projetos e atrair profissionais altamente qualificados. Além da equipe do Instituto, o Laboratório conta com grupo de jovens pesquisadores vindos de outras instituições. “Eles estão deslumbrados com a oportunidade, rara no Brasil, de ter um espaço científico privilegiado, onde as informações sobre biotecnologia serão aplicadas no melhoramento genético”, revela a pesquisadora. “O conhecimento precisa ser aplicado ou ele morre por falta de conexão. É preciso atrelar as ferramentas da biotecnologia a um programa competitivo de melhoramento, capaz de incorporar as informações”, afirma.
O Programa Cana IAC de melhoramento já desenvolveu 20 variedades da cana nos últimos oito anos, integrando estudos em clima, solos, fisiologia, fitossanidade, nematologia, irrigação e outros. Os projetos buscam atender às demandas e, para Silvana, uma necessidade imediata é entender o mecanismo de florescimento.
Controle da floração
A pesquisadora explica que, com os recursos trazidos pelo novo laboratório e com o funcionamento da câmara de fotoperíodo, será possível induzir o florescimento da cana em Ribeirão Preto, independentemente dos trabalhos na unidade de hibridação do IAC em Uruçuca, na Bahia. Lá, as condições ambientais são ideais para o florescimento, mas visam ao desenvolvimento de novas variedades. “Precisamos entender os mecanismos do florescimento, mas, nas lavouras, precisamos inibi-lo, pois ele reduz a produção de açúcar”, explica.
Estudos sobre esse estágio datam de 1940, quando foi iniciado o melhoramento de cana no mundo. “Com os novos recursos, poderemos realizar cruzamentos, pouco explorados até o momento, dentro da espécie Saccharum. Ela possui genes valiosos para características importantes no melhoramento, como sacarose, seca, fibra e biomassa”, avalia.