As propriedades medicinais do alho são milenares e têm sido comprovadas pela ciência (leia quadro abaixo). Em 2001, pesquisadores britânicos do Garlic Centre publicaram um estudo no qual afirma que pessoas que tomam uma pílula de alho por dia estão menos propensas a resfriados comuns. Agora, uma pesquisa da Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) e da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília (UnB) comprova que o alho pode curar problemas bem mais graves que uma simples gripe.
O estudo, realizado pela doutoranda Ester Yosino da Silva e orientado pelos pesquisadores da Unidade Celso Luiz Moretti e Leonora Mansur Mattos, buscou informações sobre o efeito do composto ativo mais comum do alho, a alicina, na redução do colesterol e na prevenção do infarto agudo do miocárdio. Segundo Ester Yosino, o objetivo do estudo foi determinar o efeito do armazenamento sobre a concentração de alicina e de outras características químicas e físicas em diferentes cultivares de alho. A segunda etapa foi avaliar os efeitos da substância na redução de colesterol e na prevenção do infarto agudo do miocárdio em cobaias.
Foram utilizadas duas variedades de alho brasileiro (Caçador e Peruano) e uma de alho chinês (Jinxiang). De acordo com Leonora Mansur, a pesquisa também avaliou outras características químicas e físicas da hortaliça e apontou uma vantagem para o produto nacional. “As variedades brasileiras avaliadas apresentaram mais propriedades funcionais que o alho chinês”, afirma.
Efeitos positivos
A pesquisadora da Embrapa destaca que a pesquisa com cobaias confirmou os efeitos positivos do consumo de alicina. Ela explica que o estudo utilizou ratos que foram divididos em dois grupos. O primeiro recebia uma dieta rica em gordura enquanto o segundo tinha um cardápio equilibrado. Os dois grupos recebiam doses iguais da substância e, nos dois casos, foi observada a redução nos níveis de triglicerídeos e de colesterol. A pesquisa também confirmou a ação do alho na prevenção do infarto. De acordo com o pesquisador Celso Moretti, para animais com colesterol normal, o alho não evitou o infarto agudo do miocárdio, mas para aqueles com colesterol alto, houve uma diminuição do risco do infarto.
Os efeitos benéficos foram confirmados, mas, se você tem colesterol alto, não precisa comprar caixas e mais caixas de pílulas de alho. Ester Yosino explica que a dosagem de alicina recomendada para pessoas ainda não pode ser determinada. Para isso, são necessários estudos específicos com seres humanos. Outra questão é a volatilidade da substância. Segundo a pesquisadora, a alicina forma-se apenas quando o dente de alho é cortado ou macerado e entra em contato com água. E tão rapidamente quanto surge, ela degrada. O calor e o tempo são fatores que fazem a substância desaparecer. Por isso, a melhor forma de obter alicina é saborear o alho in natura, cortado ou esmagado, ou em pó.
Mas Ester Yosino alerta que o consumo excessivo da hortaliça também pode causar riscos à saúde, como anemia. De acordo com ela, o consumo máximo diário recomendado pela literatura científica não deve ultrapassar dez gramas, cerca de três dentes grandes, no caso do produto in natura, ou até seis gramas de alho em pó.
Medicamento da Babilônia aos tempos modernos
O alho é o membro da família das liliáceas, a qual pertencem a cebola, o alho poró e a cebolinha. Nos últimos 5.000 anos, essa hortaliça tem sido utilizada por babilônios, egípcios, fenícios, vikings, chineses, gregos, romanos e hindus como medicamento para os mais diversos fins. De acordo com Ester Yosino, há relatos de utilização do alho como remédio para desordem intestinal, flatulência, vermes, infecções respiratórias, doenças de pele, ferimentos e sintomas do envelhecimento.
Na Idade Média e na Segunda Guerra Mundial, ele foi usado para tratar feridas superficiais dos soldados. “O alho era tirado da terra ou cortado em fatias e aplicado diretamente nas feridas, para inibir a propagação de infecções.” No século XVIII, Louis Pasteur documentou que o alho matava bactérias e o médico e missionário Albert Schweitzer utilizou o alho para tratar da cólera, tifo e amebíase, na África.