O extrato da planta S. barbatiman, popularmente conhecida como ‘barbatimão’, ‘barba-de-timão’ ou ‘casca da virgindade’, que possui algumas atividades terapêuticas já descritas como cicatrizante, anti-hemorrágica e antimicrobiana, foi agora estudada e analisada por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) como neutralizante do veneno da cobra surucucu, uma das mais letais e a maior serpente venenosa da América do Sul.
Segundo os biólogos Rafael Cisne de Paula e André Fuly, do Instituto de Biologia da UFF, os acidentes ofídicos são um problema de saúde pública grave nos países tropicais, o que torna a pesquisa por novos agentes antiofídicos de grande importância.
Embora a maioria dos acidentes ocorra na zona rural, há certas evidências, dizem os pesquisadores, de uma possível adaptação das serpentes às periferias das cidades, pois as precárias condições de saneamento básico propiciam a proliferação de roedores, que servem de alimento para as serpentes.
As vítimas são, preferencialmente, do sexo masculino, com idades entre 15 e 49 anos e, em 70% dos casos, são atingidos os membros inferiores.
Atualmente, o tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde para as mordeduras de cobra é a administração endovenosa de soro antiofídico, que é produzidas em três grandes centros: os institutos Vital Brazil, em Niterói, e Butantã, em São Paulo, e a Fundação Ezequiel Dias em Belo Horizonte.
Esse soro é produzido segundo os métodos descritos por Vital Brazil, que consistem na imunização de cavalos com venenos de várias espécies, sendo, portanto, uma produção cara e de difícil distribuição, devido à exigência de conservação em baixas temperaturas, além de causar vários efeitos colaterais.
As mordeduras de cobra causam efeitos sistêmicos e locais no organismo das vítimas. Os efeitos sistêmicos implicam em alterações nos sistemas cardiovascular, respiratório, urinário, hemostático e nervosos, que resultam em distúrbios de coagulação, hemorragia, hipotensão e óbito. Os efeitos locais incluem edemas, equimoses, necrose de tecidos e hemorragia local, além de reação inflamatória e dores.
O soro, hoje administrado, reverte os efeitos sistêmicos, conseguindo, na maioria das vezes, evitar o óbito, mas é ineficaz contra os efeitos locais, que terminam por deixar seqüelas, às vezes, incapacitadoras, devido à amputação ou atrofia de membros.
A serpente estudada pelos pesquisadores André Fuly e Rafael Cisne, a surucucu, tem uma letalidade muito superior às demais cobras peçonhentas encontradas no Brasil. O elevado índice de óbitos provocados pela surucucu pode ser atribuído à quantidade de veneno inoculada ou à variedade de componentes tóxicos presentes na sua secreção.
Os sintomas e sinais decorrentes do seu envenenamento são caracterizados por intensa dor local, choque de hipotensão, bradicardia, diarréia, hemorragia, dentre outros. Vários sintomas são semelhantes aos produzidos pelas jararacas, mas outras manifestações biológicas são relatadas para o veneno bruto dessa serpente, como as atividades neurotóxica, hemolítica (de destruição das hemácias) e coagulante.
Acidentes com surucucu predominam nos meses quentes e chuvosos
Neste estudo, os pesquisadores analisaram 12 plantas da flora brasileira, que apresentaram graus diferentes de inibição do veneno. No entanto, o extrato da planta S. barbatiman foi o que atuou efetivamente na inibição do veneno da surucucu, tendo sido, inclusive, submetido ao aquecimento de 80° C, durante 30 minutos, oferecendo a mesma proteção.
Essa qualidade é muito importante num tratamento antiofídico, uma vez que a maioria dos acidentes ocorrem na zona rural, geralmente sem energia elétrica para a conservação de medicamentos a baixas temperaturas, além de ocorrerem com mais freqüência nos meses quentes e chuvosos.
Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste esse aumento ocorre entre os meses de setembro a março, enquanto que na região Nordeste, o aumento é de janeiro a maio e, na região Norte, observa-se de maneira uniforme durante todo o ano. O estado brasileiro com o maior número de registros de ocorrência é o Pará, seguido de Minas Gerais, Bahia e São Paulo.