Reconhecimento agrega valor econômico à fruta, além de destacar sua história e características únicas
A qualidade da Maçã Fuji da região de catarinense de São Joaquim foi reconhecida pelo selo de Indicação Geográfica (IG), na espécie Denominação de Origem (DO). A conquista foi conferida dia 3 deste mês, pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), e atesta as características exclusivas da fruta, relacionadas ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos, e o processo de produção desenvolvido há cerca de cinco décadas. Com a IG, a Maçã Fuji da região de São Joaquim tem mais condições de agregar valor econômico e conquistar novos mercados.
Esse reconhecimento é resultado da parceria firmada entre o Sebrae/SC, a Associação de Maçã e Pera de Santa Catarina (Amap), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), a Secretaria Estadual de Agricultura da Pesca e do Desenvolvimento Rural e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Segundo o gerente de desenvolvimento regional do Sebrae/SC, Paulo Cesar Sabbatini Rocha, conquistas como essas fazem parte das prioridades do Sebrae/SC que, em parceria com outras entidades, busca a valorização dos territórios e seus produtos únicos e tradicionais, que mobilizam a cadeia produtiva em si, além de gerar desenvolvimento e integração a outros elos da cadeia. “A IG reconhece o trabalho do agricultor familiar catarinense e consolida os esforços na busca por uma produção de qualidade, que gera empregos e renda”, afirma.
Para Mara Rúbia Romeu Pinto Muller, da Secretaria Estadual de Agricultura da Pesca e do Desenvolvimento Rural, que atuou na expedição de delimitação da área no Estado, esse reconhecimento atesta a excelência de Santa Catarina no desenvolvimento e aprimoramento de produtos de modo geral, em especial aqueles relacionados ao agronegócio.
“A região de São Joaquim foi reconhecida como uma área de produção delimitada com qualidades distintas e definidas pelo território, a partir de estudos da relação entre o homem, o produto e o território, caracterizando os fatores históricos, culturais e naturais para o produto”, afirma Mara. “Além de agregação de valor ao produto, há outros benefícios, como o incremento do turismo nas regiões que recebem o selo de Indicação Geográfica”, acrescenta.
Metodologia francesa
Segundo Rocha, do Sebrae/SC, o projeto de construção da IG da Maçã Fuji utilizou princípios de metodologia francesa denominada “Cesta de Bens e Serviços Territoriais” , trazida para o Brasil pelo Laboratório de Estudos da Multifuncionalidade Agrícola e do Território (Lemate), da UFSC. Essa ferramenta busca revelar, organizar e promover de forma conjunta os principais recursos e ativos de uma região, especialmente os específicos, ou seja, aqueles que não podem ser reproduzidos em outro local com os mesmos atributos qualitativos impressos pelo território.
“Com essa metodologia, a Maçã Fuji foi um dos três produtos âncora selecionados para promover o desenvolvimento da serra catarinense de forma sustentável e inclusiva, juntamente com os vinhos de altitude de SC e o Mel de Melato da Bracatinga do Planalto Sul Brasileiro”, destaca Rocha.
Projeção da região
A presidente da Epagri, Edilene Steinwandter, destaca o trabalho multidisciplinar desenvolvido pela instituição para a conquista dessa IG que, segundo ela, mobilizou profissionais da extensão e de três unidades de pesquisa da Epagri. “A IG da Maçã Fuji da Região de São Joaquim avaliza um trabalho histórico da Epagri, que colocou Santa Catarina na posição de maior produtor da fruta no País”, recorda a presidente, lembrando que o Estado realiza pesquisas em pomicultura desde 1970.
A Maçã Fuji foi introduzida na região de São Joaquim, na década de 1970, a partir de uma política pública de estímulo à produção de frutas de clima temperado. Trazida do Japão e cultivada nas colônias japonesas estabelecidas na região, na mesma época, a maçã Fuji tornou-se um produto econômico de importância central para a economia local. Com o reconhecimento da qualidade da Maçã Fuji da região de São Joaquim, o município foi projetado nacionalmente e ganhou o título de Capital Brasileira da Maçã.
Pelo alto grau de adaptabilidade às condições da Região de São Joaquim, o produto possui características diferenciadas na qualidade dos frutos quando comparada às demais regiões produtoras do País. A região possui o maior número de produtores, detém a maior produtividade do Brasil e colhe 66% do total de produção nacional dessa cultivar.
Condições ideais
A altitude de 1.100m, ideal para a produção da fruta, proporciona pelo menos 700 horas de temperaturas abaixo de 7,2°C no inverno, garantindo uma boa indução natural da brotação e do florescimento, necessária para o desenvolvimento fisiológico do cultivar. O clima tipicamente mais frio da região de São Joaquim resulta em ciclo vegetativo mais longo com floração antecipada e colheita mais tardia, favorecendo um processo de maturação mais prolongado, que possibilita a colheita de frutos com maior tamanho e peso. As temperaturas mais baixas nas semanas que antecedem a colheita também favorecem a ocorrência do distúrbio fisiológico chamado pingo de mel, que deixa o fruto mais doce.
A ocorrência de noites frias no período de quatro a seis semanas que antecede a colheita resulta em amplitude térmica suficiente para a síntese de antocianina, favorecendo a pigmentação com uma coloração vermelha mais intensa da casca, característica das frutas da região, que são mais crocantes e suculentas que as produzidas em outras localidades.
O selo do INPI reconhece a Maçã Fuji produzida em área delimitada da Região de São Joaquim, com o total de 4.928 km², que engloba os municípios de São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Urupema, Urubici e Painel. Ao todo, são 6.719 hectares, produção anual estimada em 176.854 toneladas, 2.104 unidades produtoras, 90% das quais são pequenas propriedades, além de duas associações, seis cooperativas e 12 empresas.
Valorização
Segundo o diretor administrativo da Associação de Maçã e Pêra de Santa Catarina (Amap), Diego Nesi, os trabalhos dos parceiros para a conquista do selo começaram há cerca de quatro anos e representam um avanço, valorizando o produto e o turismo. “Ele acrescenta que a qualidade da Maçã Fuji já era reconhecida no nosso município e o selo veio projetar o reconhecimento nacional e internacional, como uma das melhores maçãs do mundo.
Para o produtor orgânico de maçã, pera e caqui da Fazenda Ecológica Terra do Sol, Velocino Salvador Bolzani Neto, o selo valoriza a conquista e a união de entidades em busca do selo de Indicação Geográfica. “A IG abre um horizonte de oportunidades para as agroindústrias e produtores e, com a comercialização da Maçã Fuji na região, teremos mais geração de renda, emprego e oportunidades”, afirma e acrescenta que a IG representa uma conquista que há muito tempo o setor sonhava. “Com todos esses parceiros, o trabalho fluiu.”