O café, que até quinze anos atrás tinha como grande consumidor o público mais velho, está conquistando os jovens. É isso o que aponta a mais recente pesquisa “Tendências de Consumo de Café” realizada anualmente, desde 2003, pela ABIC – Associação Brasileira da Indústria do Café com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O estudo mostra que de 2003 a 2010 o percentual de pessoas que declararam, espontaneamente, ter o café entre as bebidas habituais e que o haviam consumido no dia anterior e no dia da pesquisa aumentou de 85% para 91% na faixa dos 15 aos 19 anos; de 83% para 90% na faixa dos 20 aos 26 anos; de 86% para 94% na faixa dos 27 aos 35 anos e acima dos 36 anos, de 96% para 98%.
Para a ABIC, esse rejuvenescimento do público consumidor é resultado da divulgação que tem sido feita, ao longo das duas últimas décadas, dos estudos científicos que comprovam os benefícios do café para a saúde humana, se consumido diariamente e em doses moderadas de 3 a 4 xícaras ao longo do dia. Além disso, a oferta pelas cafeterias de variedades mais suaves e adocicadas, a exemplo das receitas que combinam café com leite vaporizado, calda de chocolate, chantilly e até sorvete, também tem colaborado para atrair os consumidores mais jovens.
“O aumento da demanda de café e a educação do consumidor de todas as faixas etárias sempre mereceram um grande estímulo e centraram as campanhas de marketing e de comunicação da entidade”, diz Almir José da Silva Filho, presidente da ABIC. Para ele, os bons resultados obtidos fizeram com que todos os programas da ABIC sirvam hoje de exemplo para inúmeros países produtores de café que desejam alavancar o consumo em seus mercados internos. É o caso do Selo de Pureza ABIC, lançado há 22 anos e que fez a mercado brasileiro de café passar de pouco mais de 6,4 milhões de sacas, no final da década de 1980, para 19,1 milhões de sacas em 2010.
Cresce consumo fora do lar
A pesquisa, de caráter quantitativo e que retrata o perfil do consumo em 2010, foi realizada pela empresa Ivani Rossi Conhecimento Aplicado a Negócios e teve como amostra 1.680 entrevistas pessoais e domiciliares, feitas com pessoas acima dos 15 anos, em 19 municípios de portes variados e de todas as regiões. No Sudeste, a pesquisa foi aplicada nas capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e nas cidades de Juiz de Fora (MG) e Sorocaba (SP). No Sul, foram entrevistados consumidores de Curitiba e Porto Alegre, e da cidade de Joinville (SC). No Norte e Nordeste as entrevistas foram feitas nas capitais Belém, Recife e Salvador e no município de Campina Grande (PB). No Centro-Oeste, o estudo foi feito em Goiânia e em Brasília. Somam-se ainda quatro cidades rurais com menos de 10 mil habitantes: Três Cachoeiras e Bom Princípio, do Rio Grande do Sul; Taiuva, em São Paulo, e Cairu, na Bahia.’
Essa pesquisa anual tem como objetivo identificar a posição do café nos hábitos de consumo das pessoas e levantar informações que permitam acompanhar a evolução do mercado e detectar novas oportunidades, oferecendo aos interessados no segmento subsídios para alavancar seus negócios. Exatamente por isso, desde 2007 o estudo o consumo nas padarias, setor que possui mais de 61 mil unidades espalhadas em todo o Brasil e que é, portanto, importante canal de comercialização. Em três anos, o hábito do consumo de café nas padarias cresceu de 16% para 25% em todo o país, principalmente na região Sudeste (de 18% para 26%).
Nacionalmente, o tipo de café mais pedido nas padarias é o coado (75%), seguido pelo ‘espresso’ (25%). Mas esse percentual varia entre as regiões, com o ‘espresso’ sendo bem solicitado no Sul (45%) e no Sudeste (34%). Por faixa social, o café ‘espresso’ é mais pedido pela Classe A (55%) e o café coado pela Classe D (97%).
O crescimento do hábito de se tomar café nas padarias cresceu na esteira do surpreendente aumento do consumo de café fora do lar: 307% no período de oito anos. Saltou de 14%, em 2003, para 57%, em 2010. Nos diversos pontos de consumo fora de casa, o café coado ou filtrado tem a preferência de 94% dos consumidores. Já o consumo de café ‘espresso’ e de café gourmet cresceu 21,3%.
Hábitos de consumo
A pesquisa mostra que o café coado ou filtrado, puro e sem leite, é preferido em todos os momentos: no desjejum, por 55%; durante a manhã, por 86%, após o almoço, por 91%, à tarde, por 57% e após o jantar, por 71% dos entrevistados.
Já o café instantâneo é mais consumido com leite: 74% no café da manhã; 83% no período da manhã; 91% após o almoço; por 57% à tarde, e por 69% após o jantar.
O café ‘espresso’ é consumido puro por 100% dos entrevistados em dois momentos: após o almoço e após o jantar. Também é consumido puro no café da manhã, por 87%; durante a manhã, por 85% e à tarde, por 88%.
O café coado no coador de pano ou filtrado no filtro de papel, para consumo no lar, continua sendo o preferido por 97% dos entrevistados. A mulher ainda é a principal responsável pela compra do café consumido em casa: 77%. Elas também as maiores responsáveis pelo preparo do produto.
Para 48% dos entrevistados, são determinantes de compra: a marca com a qual está habituada e a data de validade. Os consumidores passaram também a avaliar nas embalagens itens que antes não eram observados, como tipo de café, peso, composição do produto e dados do fabricante.
Do total de entrevistados, 15% afirmaram comprar café semanalmente; 26% a cada 15 dias e 57%, uma vez por mês. A embalagem almofada é preferida por 60% e a embalagem a vácuo (tijolo) por 36%. Os consumidores do Sudeste (60%) e os do Centro Oeste (92%) preferem embalagem almofada. Os do Sul (76%) e os do Nordeste (48%) preferem café embalado a vácuo.
Qualidade e certificação
A qualidade é cada vez mais importante para o consumidor, conforme atesta a pesquisa: para 55% dos entrevistados, um bom café é aquele que é saboroso e deixa um sabor gostoso na boca; 39% apontaram também o aroma agradável e gostoso, e 31% disseram que um bom café é aquele que dá vontade de repetir. Já 45% disseram ter a intenção de pagar mais por um bom café. “Essa nova percepção decorre do intenso trabalho realizado pela ABIC com o PQC – Programa de Qualidade do Café, lançado em 2004 e que certifica os produtos nas categorias Tradicional, Superior e Gourmet”, explica Almir Filho.
Do total de entrevistados, 50% afirmam conhecer os benefícios do consumo regular do café. O principal – “mais disposição” – foi apontado por 70% em 2010. Em segundo lugar na lista de benefícios citados, ficou “melhora a memória e a concentração”, apontado por 30%. “Os entrevistados cada vez mais associam o consumo de café a sensações positivas, dizendo que ele anima e melhora o humor, por exemplo. E isso é resultado de todas as campanhas educativas feitas na área de Café e Saúde, cujo objetivo é justamente mostrar os benefícios do consumo diário e moderado do café”, esclarece o presidente da ABIC.
Por outro lado, o estudo mostra que ainda continua baixo o conhecimento dos cafés sustentáveis: 72% disseram desconhecer, contra 74% em 2008. Mas, quando informados do que se trata – “Sabia que os cafés sustentáveis são cafés cuja produção preserva o meio ambiente e garante melhores condições de vida aos trabalhadores?” – cresce o interesse pelo produto: 72% optariam por ele. Desde 2007, a ABIC possui o PCS – Programa Cafés Sustentáveis do Brasil, que já certifica 42 marcas.
Consumo consistente
O café continua praticamente insubstituível: entre 2003 e 2010 aumentou de 65% para 69% o número de consumidores que dizem que não haverá substituto para ele.
A pesquisa mostra também que o café se mantém como a segunda bebida com maior penetração na população acima dos 15 anos, atrás apenas da água e à frente dos refrigerantes. Em 2010, essa penetração foi confirmada por 95% dos entrevistados, que afirmaram ter o café entre as bebidas habituais e ter consumido no dia anterior e no dia da entrevista. Por região, a pesquisa mostra que em 2010, a penetração do café foi de 99% no Sudeste e no Sul; de 87% no Norte/Nordeste e de 96% no Centro-Oeste.
Para a pesquisadora Ivani Rossi, o alto índice de penetração não tem apresentado mudanças drásticas. “E nem deveria. Não é um produto de moda, sequer sazonal. É um consumo consistente identificado ao longo dos anos”. Foi de 91% em 2003; subiu para 94% em 2004; chegou a 97% em 2009 e ficou em 95% em 2010. Para ela, essa consistência do consumo em patamares tão elevados leva a outra consideração: a manutenção desses altos indicadores exige um esforço em cadeia, desde o controle da produção até o momento de consumo. “Esse é o grande desafio da indústria porque, questionando o consumidor sobre o que pensa que é um café de qualidade e um bom café, as respostas caem em um mesmo aspecto que à primeira vista parece simples, mas que na verdade é a resultante do esforço da cadeia: aroma, saboroso, sabor que deixa na boca”.
Marília Moreira, Assessoria de Imprensa ABIC
Sistema para detectar fraudes em café
Um sistema fototérmico para detecção de adulteração e qualidade do café torrado e moído foi desenvolvido pela Embrapa Instrumentação, São Carlos-SP.
O equipamento Analisador de Alimentos e Café (Alic-C), foi transferido à empresa Quimis Aparelhos Científicos LTDA, de Diadema-SP, para fabricação e comercialização.
Sistema fototérmico
O aparelho pode detectar o teor de impurezas no pó de café, torrado e moído, em segundos, indicando, assim, fraudes e adulterações. O princípio de funcionamento é baseado na emissão de ondas térmicas, que detectam a presença de matérias estranhas.
De acordo com o pesquisador Washington Melo – responsável pela pesquisa – as técnicas atualmente utilizadas para detecção de fraude em café em pó são morosas, porque precisam de tratamento prévio da amostra, são destrutivas, empregam substância química nociva e apresentam alta subjetividade. “O sistema desenvolvido pela Embrapa Instrumentação é de fácil manejo, não é destrutivo, não necessita de tratamento químico da amostra, proporcionando um trabalho rápido, confiável e limpo”, assegura o inventor. Segundo ele, a adulteração do café torrado e moído é prática que ocorre desde a década de 70. “O Ali-C possibilitará maior avanço na fiscalização do produto devido à rapidez no processo de análise comparativamente a outras metodologias”, explicou.