A manipulação da arquitetura do algodoeiro com reguladores de crescimento é uma estratégia agronômica que contribui para a abertura mais rápida e uniforme dos frutos
Mais de 90% da produção de algodão herbáceo no Brasil ocorre no Cerrado, sobretudo nos estados de Mato Grosso, Bahia e Goiás. Na cotonicultura do cerrado são cultivadas extensas áreas, usadas variedades com alto potencial produtivo, altas doses de fertilizantes, muitos defensivos agrícolas, sendo imprescindível o uso de máquinas e implementos. Nesse sistema produtivo também é essencial o uso de reguladores de crescimento, para que os algodoeiros não cresçam demasiadamente e comprometam o manejo e o rendimento da cultura, e ainda que as plantas apresentem altura adequada ao manejo e à colheita mecânica.
O algodoeiro herbáceo apresenta hábito de crescimento indeterminado, ou seja, durante a fase reprodutiva, ele continua a emitir estruturas vegetativas, que podem competir entre si pelos produtos da fotossíntese. Quando o algodoeiro é cultivado em condições em que a disponibilidade de água, de nutrientes e as condições climáticas são favoráveis ao crescimento, há produção excessiva de estruturas vegetativas, o que pode interferir negativamente na produção final, pois o crescimento vegetativo exagerado predispõe a queda de estruturas reprodutivas, principalmente de botões florais, flores e frutos jovens.
Os algodoeiros que crescem de forma descontrolada, dependendo da condição do ambiente, podem apresentar maior apodrecimento ou queda das maçãs posicionadas nos primeiros ramos frutíferos.
Para a colheita mecanizada, o ideal é que os algodoeiros tenham altura de no máximo 1,30 m; acima deste limite, pode interferir negativamente na eficiência do processo. Além disso, a colheita mecânica dos algodoeiros de porte alto favorece a contaminação da fibra com galhos, folhas e cascas dos ramos, depreciando a sua qualidade.
Porte
As variedades de algodão usadas no Brasil geralmente apresentam porte médio a alto, ou seja, crescem vigorosamente, sendo necessário o uso de reguladores de crescimento. A manipulação da arquitetura do algodoeiro com reguladores de crescimento é uma estratégia agronômica que normalmente não gera incremento de produtividade, porém, observa-se melhoria da eficiência da aplicação de inseticidas, fungicidas e da penetração da luz, a qual contribui para a abertura mais rápida e uniforme dos frutos. O controle do crescimento do algodoeiro por meio do uso de fitorreguladores é uma estratégia agronômica muito usada no Brasil e em vários outros países, e tradicionalmente essa prática agrícola ocorre via pulverizações nas folhas.
Os dois fitorreguladores de crescimento usados na cotonicultura brasileira são o cloreto de mepiquat e o cloreto de clormequat. São substâncias químicas sintéticas, que apresentam efeito sobre o metabolismo vegetal, inibindo a formação do ácido giberélico, com consequente redução do crescimento, por causa da menor elongação celular.
Sintomas
Os principais sintomas dos reguladores de crescimento sobre os algodoeiros são: redução do comprimento do caule; diminuição do número de nós, do comprimento dos ramos vegetativos e reprodutivos; redução da área foliar; folhas com coloração verde-escura e mais espessas e melhor retenção de frutos nas primeiras posições.
Efeitos
Os efeitos dos reguladores de crescimento sobre o algodoeiro dependem de alguns fatores, como temperatura, disponibilidade de nutrientes no solo, população de plantas, cultivar, disponibilidade de água no solo, precipitação pluvial, dose, época e forma de aplicação. Destes, é importante destacar a dose e a forma de aplicação.
Com relação à dose, ela pode variar de 50 a 100 g/ha do ingrediente ativo, a depender do porte e das condições do solo e da lavoura, da época de semeadura, em síntese, da expectativa de crescimento do algodoeiro.
Cultivares* | Dose (g/ha) do ingrediente ativo cloreto de mepiquat ou de clormequat |
Porte alto | 85 a 100 |
Porte médio | 60 a 85 |
Porte baixo | dose £ 50 |
* espaçamento entre fileiras – 76 a 90 cm
Quanto à forma de aplicação, o parcelamento das doses dos reguladores de crescimento cloreto de mepiquat ou de clormequat tem efeito mais marcante sobre o manejo da altura dos algodoeiros. As pulverizações devem ser iniciadas quando eles atingirem a altura de 30 a 45 cm, em função do porte da variedade. A partir dessa fase, normalmente observa-se intenso crescimento vegetativo, razão pela qual monitoramentos constantes são necessários objetivando definir as demais pulverizações para o controle da altura.
O momento em que é realizada a primeira aplicação é fundamental, pois o atraso compromete os resultados.
1ª APLICAÇÃO
– CULTIVARES DE PORTE ALTO: 30-35 cm de altura
– CULTIVARES DE PORTE MÉDIO: 35-40 cm de altura
– CULTIVARES DE PORTE BAIXO: 40-45 cm de altura
Parcelamento da dose (em % da dose total)
Primeira | Segunda | Terceira | Quarta |
10% | 20% | 30% | 40% |
As aplicações subsequentes (segunda, terceira e quarta) devem ocorrer quando houver retomada do crescimento. Para isso, quando a taxa de crescimento for maior que 1,5 cm/dia recomenda-se aplicar novamente o fitorregulador. É essencial dividir a área em talhões homogêneos, de acordo com a cultivar, época de semeadura, condições de fertilidade do solo e adubações etc.
A partir da emissão dos primeiros botões florais deve-se avaliar, pelo menos a cada sete dias, o crescimento do algodoeiro. O monitoramento do crescimento deve ser constante, pois após o término do efeito residual do fitorregulador aplicado (normalmente de 10 a 14 dias em função de uma série de fatores e condições do ambiente de cultivo), o algodoeiro volta a crescer à taxa maior que 1,5 cm/dia, carecendo de nova aplicação.
Geralmente, quando se usa cloreto de mepiquat – produtos comerciais com 250 g/L do ingrediente ativo, o tempo mínimo entre a aplicação e a ocorrência de chuva deve ser de 4 horas, para evitar que o cloreto seja lavado. Em caso de chuva após as pulverizações, provavelmente será preciso reaplicar, total ou parcialmente. Isso dependerá do produto, da dose, do intervalo entre a pulverização e a ocorrência da chuva; da intensidade da chuva e da fase de desenvolvimento do algodoeiro.
Quando o algodoeiro apresenta flor aberta no terceiro nó de cima para baixo sua intensidade de crescimento tende a reduzir. A partir dessa fase não é mais necessário aplicar regulador de crescimento. Se tudo tiver ocorrido bem, nessa fase as cultivares de porte médio e alto deverão estar com altura média entre 115 a 125 cm, desde que as pulverizações anteriores tenham sido realizadas adequadamente.