Espécie milenar, a oliveira (Olea europaea L.) é uma das plantas mais antigas cultivadas pelo homem e desperta fascínio, não só por sua versatilidade como, principalmente, por sua longevidade.
Muito bem adaptada aos países do Mediterrâneo, que têm o azeite como um dos principais produtos da pauta de exportação, a oliveira começa a ganhar espaço no Brasil, em especial no relevo acidentado dos arredores da Serra da Mantiqueira com destaque para o Sul de Minas Gerais
A maior responsável pelo avanço da cultura nessa região de clima frio é a Fazenda Experimental da Epamig, em Maria da Fé, que abriga o Núcleo Tecnológico Epamig Azeitona e Azeite. Ali, pesquisadores desenvolveram novas tecnologias de propagação e manejo da oliveira, favorecendo, nos últimos cinco anos, um crescimento médio de 20% ao ano na área plantada. Segundo a Epamig, a cultura já ocupa 700 hectares, com 350 mil plantas em vários estágios de crescimento, distribuídas por 50 municípios, dos quais 40 no Estado de Minas Gerais.
O crescente interesse pela cultura ganhou impulso em 2008, com a repercussão da extração do primeiro azeite extra virgem brasileiro, o que também favoreceu a importação de um equipamento italiano pela Epamig, com capacidade para extrair azeite de 2.400 kg de azeitonas/dia. Em 2011, a produção de azeite na região foi de 500 litros; em 2012 chegou a 3.200 litros e a previsão para 2015 é que alcance 400.000 litros, o que demandará mais 20 máquinas extratoras como a da Epamig. Por isso, a ideia é que pelo menos cinco unidades sejam instaladas estrategicamente junto aos locais que concentram a produção.
Opção de plantio
A cultura também é uma opção ao tradicional plantio de batata-inglesa, em declínio no município de Maria da Fé, com aproximadamente 15 mil habitantes e altitude média de 1.300 metros, que completou 100 anos em junho. O custo de implantação não é baixo: em torno de R$ 10 mil por hectare, em espaçamento de 6 m x 4 m. Mas o que leva um produtor esperar cerca de seis anos para ter retorno do investimento? É justamente a longevidade da oliveira, que produz bem até por volta de 60 anos, e o valor do azeite brasileiro, “precioso” líquido que vem sendo comercializado a R$ 50,00 o frasco de 250 ml. E tem quem pague.
Anos de pesquisa
A oliveira chegou em Maria da Fé pelas mãos do agricultor Emídio Ferreira dos Santos, natural de Santiago de Besteiros, Portugal, que desembarcou no Rio de Janeiro em 1933. Dois anos depois, no armazém de secos e molhados em que trabalhava, conheceu o contador mariense Edmardo Alves Torres, que o convidou para administrar a Fazenda Pomária, em Maria da Fé. O salário de 250 mil réis e o gosto pela região e pelo trabalho levou Emídio a convencer a esposa a mudar-se para o Brasil com os dois filhos pequenos. Mas com uma recomendação: que trouxesse na bagagem – mesmo que clandestinamente – mudas e sementes de oliveiras, macieiras, nogueiras, carvalhos e cerejeiras. Na Praça de Maria da Fé foram plantadas as primeiras mudas vindas de Portugal.
Variedades para azeite
Foram necessárias décadas de dedicação dos pesquisadores da Epamig para que seis das 80 variedades de oliveiras do Banco de Germoplasma, selecionadas entre as mais de 150 estudadas na fazenda experimental, chegassem ao campo. Hoje, a empresa de pesquisa recomenda, com segurança, as variedades Arbequina, Koroneiki, Arbosana e Maria da Fé para produzir azeite, e Ascolano e duas linhagens de Grappolo (que possui dupla finalidade) para a produção de frutos de mesa.
Gerente da Fazenda Experimental de Maria da Fé desde 2004, Nilton Caetano de Oliveira também coordena o Núcleo Tecnológico Epamig Azeitona e Azeite. O biólogo chegou à fazenda numa época em que as azeitonas colhidas ainda eram esmagadas com o pé e a unidade, assim como outras instituições estaduais, sofria com os altos e baixos da pesquisa, em decorrência da pouca disposição dos sucessivos governos em apoiar a atividade científica. Em vez de desanimar, ele viu ali um bom desafio para driblar a chegada da aposentadoria.
Agregação de valor
Os avanços obtidos na produção de mudas, no manejo das plantas e a difusão desse conhecimento por meio de boletins técnicos, informes agropecuários, circulares técnicas e até o recém-lançado livro “Oliveira no Brasil s Tecnologia e Produção”, com coordenação técnica do pesquisador Adelson Francisco de Oliveira, atraíram interessados na implantação de uma cultura perene que, apesar de demandar quatro anos, em média, para começar a produzir, até atingir seu potencial máximo de produção aos sete anos, é longeva e permite a agregação de valor com a venda de mudas e de azeitona em conserva, além do azeite.
Boa adaptação
O espírito gregário e as vantagens da produção cooperativada levaram os investidores de novos pomares de oliveiras a se reunirem, desde 2009, na Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive). A maioria, profissionais liberais e empresários interessados em diversificar suas atividades e investimentos. “Gente que não precisa ter retorno rápido”, explica Nilton Caetano. Muitos deles motivados pelo espírito preservacionista, já que a oliveira se adapta a áreas com declive de até 50% e é perene.
Ganho de tempo
Não é raro a oliveira atrair pessoas com este sobrenome. Além de Nilton, faz parte da equipe da Epamig em Maria da Fé o engenheiro agrônomo e pesquisador Luiz Fernando de Oliveira da Silva, que está terminando o doutorado. Sua pesquisa busca adaptar a espécie a regiões menos frias. Um processo complicado, que induz a floração por meio de hormônios. “As plantas se reproduzem quando passam por algum estresse, natural ou artificial. Elas acham que vão morrer e produzem frutos para perpetuar a espécie. A partir dessa premissa, podemos fazê-la produzir em locais nos quais ela não frutificaria naturalmente”, explica o pesquisador.
Novo método
Luiz Fernando conta que o antigo método de propagação da oliveira demandava três anos, partindo da germinação da semente, para a produção do porta-enxerto, e posterior enxertia de ramos adultos, já produtivos. Hoje, é feito pelo enraizamento de estacas, o que reduziu em dois anos o tempo de produção de mudas. Das plantas jovens são cortados ramos de 10 a 15 centímetros, mantendo-se quatro folhas (dois pares) na extremidade.
A estaca é imersa em solução com hormônio AIB (Ácido Indolbutílico), na concentração de 3.000 mg/l, por 5 segundos, e depois plantada em substrato inerte apropriado (areia ou perlita) nas casas de vegetação. Manter a temperatura entre 23O e 27OC e a umidade em torno de 80% são cuidados essenciais ao longo do processo de 60 dias, mas, ainda assim, o índice de enraizamento médio é de 30%.
Nova tecnologia
Essa nova tecnologia de multiplicação fez o custo da muda baixar de R$ 17,00, pelo método anterior, para R$ 8,00 a unidade. Atualmente estão sendo produzidas 30 mil mudas/ano, mas a demanda exige o dobro. Com o aumento de produtores e o consequente ganho de escala, a meta da Epamig é fazer com que o preço da muda caia para R$ 5,00. “Assim, conseguiremos um argumento melhor para atrair o interesse dos pequenos produtores”, estima Nilton Oliveira, que também vem trabalhando junto aos órgãos de fomento a criação de linhas de crédito com condições diferenciadas e específicas para a implantação dessa cultura, com retorno de longo prazo.
Líquido que vale ouro
As plantas começam a produzir a partir dos quatro anos de idade, mas só atingem a plena produção aos sete anos. Comparativamente, o mesmo tempo que o eucalipto demora até atingir ponto de corte. A principal vantagem da oliveira é a longevidade, já que plantas de 60 anos ou mais continuam frutificando. Em um hectare, é possível produzir azeitonas suficientes para a extração de 1.000 litros de azeite, o que pelo atual preço renderia R$ 200 mil.
Baixar preço
A maturidade dos pomares e a produção em maior escala poderão, também em 2015, baixar o preço do azeite para até R$ 50,00 o litro, fundamental para incrementar as vendas, uma vez que os R$ 200/litro não competem com o produto importado da Espanha, Portugal, Itália, Grécia, Argentina e Chile. Espera-se, também, elevar o consumo per capita brasileiro, de 200 ml anuais, muito abaixo da marca na Espanha, de 12 litros/ano, e mais ainda quando comparado aos gregos, que consomem 23 litros/ano. Mesmo ao preço de R$ 50,00 o litro, mais atraente para o consumidor, um único hectare ainda daria um retorno de R$ 50 mil.
O rendimento médio na extração é de 13%, ou seja, para se obter 1 litro de azeite, são necessários 7,4 kg de azeitonas. Os frutos são colhidos no ponto certo de maturação, sem que tenham contato com o chão, e devem ser esmagados até 48 horas após, sob pena de o azeite perder qualidade.
Denominação de origem
A valorização de bens e serviços produzidos em determinada região, considerando ativos intangíveis como cultura, conhecimentos tradicionais e recursos locais, estão associados à oferta de produtos diferenciados e com qualidade artesanal. Assim, as marcas coletivas, a certificação e a indicação geográfica, assumem papéis importantes para atender a uma nova demanda mundial, que considera detalhes da produção, como o conceito de sustentabilidade, por exemplo.
Indicação geográfica
Gilberto Mascarenhas, da Organização de Cadeias Produtivas Sustentáveis do MAPA, explica que a Indicação Geográfica (IG) leva em conta o solo, o clima e a forma de produzir locais, e se subdivide entre Indicação de Procedência, baseada na boa reputação do produto, e Denominação de Origem, que considera fatores naturais e humanos.
Com a colaboração da divisão de Propriedade Intelectual da Epamig, a Assolive obteve o registro de Denominação de Origem (DO) para os azeites produzidos pelos seus associados nos Contrafortes da Mantiqueira. Com isso, os rótulos deverão passar a incluir informações como as varietais, o índice de polifenóis, além da acidez. O objetivo é agregar valor, garantir a procedência e qualidade do azeite, e direcioná-lo para o mercado gourmet. O último teste da Anvisa com azeites importados, reprovou 80% das marcas por adulteração, sendo a mais comum a mistura com outros óleos de qualidade inferior.
Os cuidados de uma pioneira
A Mariense Comércio e Transporte Ltda. é o principal negócio de Neide Maria Batista Soares. Na distribuidora, ela compra e vende, diariamente, batata, cebola e alho, itens básicos na mesa do brasileiro. Na safra, chega a vender 1.000 sacos de 60 kg de batata por dia, para mercados do Rio de Janeiro, São Paulo e da região. Após pensar várias vezes em vender seu Sítio Campos de Maria da Fé, de 70 hectares, onde tradicionalmente produziu batata, Neide viu nas oliveiras uma oportunidade de renda estável. “Produzir batata é uma loteria. Apesar de ter ciclo curto – 130 dias – você pode ficar rico ou perder tudo de um dia para o outro”, explica.
Completando sete anos em 2012, seu pomar de mil plantas produziu 3.000 quilos de azeitonas e 500 litros do azeite Dona Maria da Fé, com 0,2% de acidez. Plantado no tempo em que o espaçamento recomendado ainda era o de 7m x 7m e as mudas da variedade Arbequina, importadas da Espanha, custaram R$ 15,00 a unidade, gerou um rendimento de 16%: cada 6,5 kg de azeitonas renderam 1 litro de azeite. Neide Soares toma alguns cuidados para garantir a qualidade. Os frutos são colhidos manualmente e um tecido é estendido no chão para proteger do contato com o solo os frutos que eventualmente caem. Depois, assim como no café, as azeitonas são colocadas em peneiras para a seleção manual dos melhores frutos, com maturação e sanidade perfeitas.
Preço baixo com a escala na produção
A produtora conta que a marca do produto é uma homenagem à fazendeira homônima, que acompanhada do marido chegou à região por volta de 1800 e, depois de viúva, assumiu a administração da Fazenda Nova dos Campos. Dinâmica e corajosa, ao contrário dos padrões da época, deixou como legado uma cidade inteira. Neide Soares explica que não tem pressa para comercializar o produto. Tem vendido em feiras e eventos da região, como o Festival Gastronômico, em abril, e o Festival de Inverno de Maria da Fé, em julho; e para alguns clientes do Cadeg, no Rio de Janeiro.
Na Fazenda Retiro, também em Maria da Fé, já foram plantadas 50 mil oliveiras de 12 variedades diferentes, em vários espaçamentos e estágios de crescimento, sendo as mais antigas de sete anos. A safra de 2012 foi de 8.000 quilos de azeitonas, que rederam mais de 1.000 litros de azeite. Mas a meta do proprietário Joaquim de Oliveira, pioneiro na região e maior produtor de Maria da Fé, é chegar a 100.000 pés.
Com 120 hectares, a fazenda também produz batata, milho, banana, goiaba e pimenta-dedo-de-moça. Sua estrutura e os 12 empregados permitem que saiam das casas de vegetação 10.000 mudas a cada dois meses, obtidas pelo método de enraizamento de estacas. A escala faz com que o empresário possa vender a muda por R$ 7,00 e até R$ 4,50 a unidade (para pagamento à vista).
Seu azeite Maria da Fé é oferecido no comércio por 50,00 o litro, bem abaixo do valor dos demais azeites produzidos na região, e um atrativo a mais para o consumidor. É, também, mais uma opção para os clientes da sua empresa, a Oli Ma Indústria de Alimentos, sediada em São Paulo, que oferece entre 60 itens conservas, condimentos e óleos especiais como a popular marca Faisão, composto 15% de azeite e 75% óleo de soja.
Nair Ernestina de Souza Santana, auxiliar de serviços gerais da Fazenda Retiro, diz que da oliveira aproveita-se tudo. É ela quem mostra a estrutura e os pomares e conta, com orgulho, que uma planta, da variedade Grappolo, produziu 85 quilos de azeitonas. Abrigados num galpão, troncos de oliveiras de vários diâmetros e galhos finos das extremidades, retirados na poda, aguardam empilhados no chão. Nair explica que os mais finos são vendidos para uso como haste de incenso e os mais grossos para artesanato, que também dá aproveitamento aos caroços. As folhas têm vários usos, da cosmética à fitoterapia.
Atração pela cultura milenar
Há 10 anos, Silvia de Castro Torres Marques herdou do pai 16 hectares de terra em Aiuruoca, Sul de Minas Gerais. Depois de construir, com o marido, o publicitário Ivan Cristóbal Marques, casa e estrutura de lazer na propriedade, sentiu que ainda “faltava alguma coisa”. Por causa do clima e inspirada na Provance (região do sul da França), pensou plantar lavanda, que acabou se limitando a um único canteiro no jardim da propriedade.
Foi no programa Globo Rural (TV Globo) que assistiu a uma reportagem sobre oliveiras. “Também fiquei atraída pela história, pela característica milenar dessa cultura”, admite Silvia, que aprofundou seus conhecimentos lendo o livro “Vida e saga de um nobre fruto”, de Mort Rosenblum (Editora Rocco). Seu pomar de quatro hectares possui 2.200 plantas (espaçamento 6m x 4m) das variedades Arbequina, Arbosana e Koroneiki, das quais metade, completando três anos, já começa a ‘ensaiar’ a produção. Segundo Ivan, o investimento é maior nos quatro primeiros anos, mas, no sétimo é amortizado e, no oitavo, já dá lucro. O empresário acredita que a olivicultura pode ser uma alternativa para o município – onde a pecuária leiteira está em decadência – aliada ao turismo ecológico, pois a região abrange o entorno de uma Unidade de Conservação, o Parque Estadual Serra do Papagaio.
Quando o pomar da família atingir a maturidade, o casal pretende investir na importação de uma máquina processadora, já que o azeite deve ser extraído em até 48 horas após a colheita.
“Quanto mais jovem a colheita, a extração e o consumo, melhor o azeite”, explica Silvia, que já fez curso de degustação e práticas de cultivo no Senai. Ela também acredita no potencial do mercado de cosméticos à base de azeite de oliva, que tem crescido mais que o gourmet.
Para garantir um preço final que, ao mesmo tempo, renumere o produtor, seja acessível ao consumidor e competitivo com os importados, Silvia defende uma legislação específica, que considere o aspecto artesanal de produção, o frescor e características do produto.
Entre aves em extinção e oliveiras
O economista Nélio Badauy Weiss é mais conhecido em Aiuruoca por seu projeto de preservação. Em sua Fazenda Caminho do Meio, ele mantém, em parceria com o Ibama, um criadouro de araras, papagaios, maritacas e outras aves apreendidas, algumas na lista de ameaçadas de extinção. Badauy ainda mantém o “Projeto Soltura”, que anualmente devolve à natureza, depois de recuperados dos maus tratos e anilhados, centenas de pássaros, também apreendidos pelo Ibama.
Foi apenas em 2010 que o economista, que cultiva milho e cana-de-açúcar, basicamente para alimentar o gado de leite, decidiu diversificar suas atividades e plantou sete hectares de oliveiras. Este ano, decidiu implantar mais nove hectares de pomar. Sua escolha se deu pelo fato de a cultura ser permanente e rústica: capaz de suportar excessos de chuva no verão, ventos fortes e baixas temperaturas no inverno, típicas da região. Além disso, não demanda movimentações de terra e tratos comuns às culturais anuais. “E ainda é muito decorativa, especialmente à noite, ao luar”, completa.
Nélio Weiss acredita que quando seus pomares começarem a produzir, o mercado já estará mais estruturado: “Os clusters (concentração de pessoas dedicadas a uma mesma atividade), favorecem a redução dos custos de produção, facilitando a logística e a troca de informações”, prevê o empresário. Ele acha que, no futuro, haverá necessidade de mão de obra mais especializada e, pessoalmente, pretende se capacitar viajando para a Europa (Espanha, Portugal e Itália) no ano que vem. Precisamos buscar know-how e nivelar a atividade por cima”, alega.
Paula Guatimosim, Especial para A Lavoura
Azeite: matéria-prima para cosméticos e alimento funcional
Na Grécia e no Egito, o azeite de oliva era bastante usado na produção de cosméticos e como óleo para massagem. Por possuir 80% de ácido oléico, além de vitaminas A, D, E e K lipossolúveis, é biocompatível com a pele. É hidratante, emoliente, antioxidante, cicatrizante e, mais recentemente, descobriu-se, fotoprotetor.
Propriedades farmacêuticas
Tais propriedades inspiraram as farmacêuticas Andréia Machado e Vânia Gonçalves, da Farma Oliva (Maria da Fé-MG), a desenvolver a linha Verde Oliva, composta de dez produtos, entre sabonetes, hidratantes, shampoo e condicionador. As sócias substituíram o óleo de oliva, antes importado, pelo extraído na Epamig.
A linha facial, lançada no ano passado, à base de extrato de oliva retirado das folhas da oliveira, inclui máscara e hidratante. Os produtos ainda são artesanais e comercializados apenas em eventos locais e regionais, mas as empreendedoras pretendem se aliar a uma indústria para obter registro da Anvisa e ampliar a comercialização.
Alimento importante
Foi, principalmente, depois que cientistas observaram que os povos do Mediterrâneo, maiores consumidores mundiais de azeite de oliva, têm uma vida mais saudável, que o produto mereceu mais atenção da pesquisa como alimento funcional.
A dieta alimentar desses povos, composta ainda por peixes, legumes e verduras, colabora para o baixo nível de infarto e de câncer.
O azeite de oliva ajuda a reduzir a quantidade de LDL (mau colesterol) do organismo, devido a sua grande quantidade de gordura monoinsaturada, que não se transforma em colesterol. Assim, o risco de infarto ou Acidente Vascular Cerebral, é reduzido, já que o consumo regular do azeite de oliva reduz a formação de placas de ateroma nas paredes dos vasos sanguíneos. O produto é rico em polifenóis, um potente antioxidante que contribui para inibir a formação de radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento, e doenças degenerativas, como o câncer.
Sem depender da importação
“Oliva SP” estuda zoneamento agrícola em SP
Em 2010, a área produtiva de oliveiras no mundo foi de 9,5 milhões de hectares, com produção de 21 milhões de toneladas de olivas. De 2008 a 2010, a produção aumentou de 18.044.724 t para 20.578.186 toneladas. “A União Europeia concentrou mais de 54% de toda a produção mundial de oliva em 2010. O mercado baseia-se, no azeite de oliva e a azeitona de mesa”, afirma a pesquisadora do IAC, Juliana Rolim Salomé Teramoto.
O Brasil é totalmente dependente da importação de azeites e azeitonas, ficando na terceira posição no ranking dos países que mais importam azeite no mundo, atrás apenas do EUA e da Itália. Na última década, a importação de azeites pelo País quase triplicou, crescendo, em média, 13% ao ano. “Em 2011 a importação brasileira do produto foi de aproximadamente R$ 63 milhões. Apesar disso, o consumo per capita de azeite no Brasil ainda é muito baixo, estimado em aproximadamente 320 gramas por habitante/ano, valor muito aquém do consumo médio dos países europeus, de 20 kg por habitante no ano”, afirma Teramoto.
Grupo de pesquisa
Mesmo com o consumo crescente, a produção brasileira de azeitona e de azeite ainda é pequena, pois a oliveira exige temperaturas baixas para que haja o florescimento e a frutificação, incomum na maioria dos estados brasileiros. Um grupo de pesquisadores da APTA, IAC, Instituto de Tecnologia dos Alimentos (ITAL) e Instituto de Economia Agrícola (IEA), juntamente com profissionais da Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada (CATI) e Agenzia Servizi Settore Agroalimentare Marche (ASSAM), da Itália, criaram o grupo de estudo “Oliva SP”, em 2009, em função da crescente demanda de informações pelos produtores e investidores interessados no cultivo em São Paulo.
O “Oliva SP” é um projeto inédito no Estado de São Paulo e busca fazer o levantamento de demanda de pesquisa para o setor, auxiliar e conscientizar produtores e consumidores de azeite, a implantar novas cultivares adaptadas às regiões produtoras mais quentes e, futuramente, desenvolver cultivares menos exigentes em horas de frio para o florescimento, de modo que as oliveiras possam ser cultivadas em outras regiões brasileiras, como ocorreu com o trigo, a soja e maçã.
“A partir da criação do projeto, os pedidos de assistência por parte dos produtores se intensificaram. Muitos produtores já tinham implantado uma área e pretendem estender o plantio. Temos ajudado na orientação em relação às condições climáticas, se aptas ou não ao cultivo, na orientação de plantio, escolha de variedades e, mais recentemente, com a orientação de podas e instalação de estações meteorológicas nas áreas de cultivo”, afirma Angelica Prela Pântano, pesquisadora do IAC.
Zoneamento agrícola
Há dois anos, os pesquisadores do grupo “Oliva SP” estudam o zoneamento agrícola da oliveira para definir as localidades do Estado de São Paulo onde é possível o cultivo. Este trabalho deve ter os primeiros resultados em 2013. Segundo Prela Pantano, pesquisadora do IAC, a oliveira demanda originalmente calor e tempo seco para crescer e temperaturas baixas, no período que antecede a floração. A temperatura de inverno ideal deve ser entre 7OC e 10OC. Também, para que ocorra melhor pegamento e boa formação dos frutos, a amplitude térmica, isto é, a diferença de temperatura máxima e mínima nesse período, não deve ultrapassar 18OC. “É uma planta de dias longos, floresce bem em invernos amenos e chuvosos e em verões quentes e secos, e necessita de período mais frio durante o inverno. No Estado de São Paulo, já foi observado florescimento com menos de 500 horas de frio abaixo de 13OC, como é o caso de São Sebastião da Grama”, afirma.
Durante os estudos, foi possível ao IAC selecionar pequenas propriedades no Estado em que há o cultivo da oliveira e identificar as características climáticas dessas regiões. “São áreas com altitude elevada, acima de 700 m, temperaturas médias em julho abaixo de 19 ºC e temperaturas amenas durante o ano. Há também pouca ocorrência de chuva no inverno”, explica Prela Pantano. Os estudos ainda apontam que a Região Sul do Estado também pode ter áreas propícias para o cultivo da oliveira.
O IAC trabalha no zoneamento agrícola do Estado para a cultura, o qual irá auxiliar na indicação de áreas para o cultivo com condições climáticas parecidas com o Mediterrâneo e outros países europeus. Desta forma, será possível que os produtores obtenham financiamento para começar a produzir nessas regiões. De acordo com Prela Pantano, é possível que em 2013 o zoneamento agrícola já tenha sido finalizado.
Qualidade
Geralmente, quando vai ao supermercado comprar azeite, o consumidor fica atento ao grau de acidez e ao índice de peróxidos – parâmetros que determinam a qualidade do azeite. Aqueles com acidez menor de 0,8% e índice de peróxidos menor que 20 são levados para casa como azeites extravirgens e, espera-se, que contenham todas as propriedades antioxidantes de um bom azeite de oliva. Mas no Brasil, não é possível saber apenas pela embalagem e pelo rótulo se o produto é de boa qualidade ou não.
Classificação do azeite
Os azeites de oliva são classificados em quatro categorias: extravirgens, virgens, lampante e refinados. De acordo com a pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, (APTA), Edna Bertoncini, apenas o extravirgem contém as propriedades antioxidantes benéfícas à saúde. “Nos outros tipos de azeite a quantidade de polifenóis é baixa ou ausente, e, nos demais tipos, geralmente o azeite apresenta defeito sensorial como odores de ranço, vinagre, mofo, terra, entre outros. Desta forma, é melhor o consumidor optar por óleos vegetais como girassol e milho, que não fazem mal à saúde”, exemplifica.
Segundo a pesquisadora, para ser considerado extravirgem, o azeite não pode ter qualquer tipo de defeito sensorial ou gustativo, características que só podem ser identificadas depois da aquisição do produto. “Além de não ter defeitos, os azeites extravirgens devem apresentar qualidade de frutado maduro ou verde, isto é, aroma de azeitonas, que podem ser maduras, lembrando o odor de noz, banana e fruta madura, ou, então, ser um azeite frutado verde, com aroma que lembra grama recém-cortada, tomate verde e alcachofra”, explica.
Polifenóis
Além dessas características, o azeite ainda deve ser amargo e picante. Quanto mais amargo, mais polifenóis o óleo terá e, consequentemente, proporcionará mais benefício à saúde. Os azeites amargos e picantes contêm acima de 300mg por quilo de polifenóis, enquanto os azeites doces contêm em torno de 100mg por quilo de polifenóis. Bertoncini chama a atenção especial para o prazo de validade. Depois de aberto, o produto deve ser consumido em até três meses. “O prazo de validade do azeite deve ser seguido, caso contrário, mesmo estando aparentemente bom, o produto estará estragado e com sabor rançoso. O problema é que o prazo contido no rótulo está de acordo com o envase do óleo e não com a data da extração. Muitas vezes, o óleo é extraído e permanece em tonéis por meses, até ser embalado e exportado”, afirma.
Para a classificação, o azeite precisa ser degustado por um grupo formado por oito a 12 especialistas, que avaliam todas essas características. O procedimento de análise é denominado de “Panel Test”, teste muito usado pelos países mediterrâneos.
Sua função principal é analisar as propriedades organolépticas do azeite, definindo sua classificação. “No Brasil temos vários profissionais já formados em análise sensorial de azeites, mas não temos ainda um grupo. Nos países mediterrâneos, o profissional é treinado e qualificado pelos órgãos reguladores para exercer essa função. No Brasil, porém, eles ainda não são obrigatórios para qualificar os produtos”, afirma Bertoncini. A norma brasileira que classifica e registra os azeites comercializados não prevê a passagem dos azeites importados ou nacionais pela análise sensorial, alegando falta de estrutura para a formação de grupos de “Panel Test”.
Fernanda Domiciano – Assessoria de Imprensa – APTA
Bom desempenho também no Sul
No Sul, a oliveira também começa a mostrar seu potencial e sua boa adaptação à estiagem e aos solos gaúchos. O produtor José Alberto Aued, que deu início à atividade em 2007, com o plantio das variedades Arbosana e Arbequina em 12 hectares, comemora a produção média de 30 quilos por pé em 2012. “Tivemos uma única árvore que produziu 74 quilos de azeitonas”. Mais cinco hectares foram implantados, incluindo a variedade Koroneiki. O produtor investiu também no beneficiamento, fazendo a extração e o envase de 18 mil litros do azeite extra-virgem Olivas do Sul distribuído em oito estados brasileiros.
Ano especial
Na avaliação do agrônomo Antonio Conte, esse foi um ano especial para a olivicultura, pouco exigente no que diz respeito à necessidade de umidade. “Para essa cultura, a estiagem que castigou a safra de grãos de verão gaúcha foi extremamente benéfica para as oliveiras”, afirma Conte.
Olivas do Sul também está registrada no Ministério da Agricultura como produtor de mudas, que atende a novos plantios do Estado. “São 150 mil mudas por ano e não estamos dando conta dos pedidos”, informa o produtor, que pretende ampliar em oito hectares a área com a cultura de oliveiras nos próximos anos.
Resposta
Em Cachoeira do Sul, uma pesquisa envolvendo técnicos da Emater/RS-Ascar, da UFRGS e da Embrapa, está avaliando a resposta da oliveira a diferentes doses de cálcio e boro. “Estamos há 3 anos desenvolvendo essa pesquisa. No primeiro ano, colhemos, em média, 8 quilos por planta da variedade Arbequina. Já no terceiro ano, estamos retirando em média 30 quilos por planta.
Esses resultados se devem, principalmente, ao crescimento das plantas”, comemora Clésio Gianello, professor do Departamento de Solos e do Programa de Pós-graduação em Ciência do Solo e coordenador do Laboratório de Análises de Solo e de Tecido Vegetal da UFRGS.
A pesquisa está sendo guiada por processos científicos e conta com a colaboração da Dra. Margarete Nicolodi, do Departamento de Horticultura e Silvicultura, também da UFRGS. “Os estudos com as oliveiras tiveram início em 2008. Com a colaboração da Embrapa, estamos buscando o caminho mais adequado de adubação do solo para essa cultura pouco conhecida no Brasil”, avalia Margarete.
Orientação específica
Para o assistente técnico estadual da Emater/RS-Ascar em fruticultura e que acompanha o processo de implantação dos pomares Olivas do Sul desde o início, Antonio Conte, hoje no Brasil não existe uma orientação específica para a produção de azeitonas e as informações estão baseadas em literatura internacional.
Os pomares que já estão com um pouco mais de cinco anos de implantação apresentam os primeiros resultados da pesquisa e mostram que a cultura chegou para ficar no Rio Grande do Sul. “Temos muito que aprender, ainda, para que possamos estabelecer um padrão de recomendações aos produtores, mas, com o trabalho de pesquisa realizado com essas três instituições, a médio prazo estaremos com mais uma alternativa importante para a agricultura”, comemora Conte.