A Histomoníase — que tem sintomas parecidos com os de outras doenças mais comuns — foi diagnosticada por pesquisadores do Laboratório de Patologia Animal da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), que também indicaram o tratamento para a doença
A morte súbita de vários perus na zona rural de Mossoró-RN, originou a descoberta de uma rara doença em aves, durante pesquisa realizada pelo Laboratório de Patologia Animal da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). A Histomoníase foi diagnosticada nos animais após exames realizados para compreender a causa e os mecanismos da doença, que também apontaram o tratamento específico a ser seguido.
Provocada pelo protozoário Histomonas meleagridis, a histomosíase possui poucos relatos na literatura da medicina veterinária brasileira, também sendo desconhecida pelos criadores que, usualmente, a confundem com outras enfermidades que possuem sintomas semelhantes, como a perda de peso, fezes amareladas, ausência de apetite e apatia do animal.
“A histomoníase é uma doença que praticamente não tem relatos na literatura brasileira. Encontramos alguns casos na literatura norte-americana. Normalmente, quando alguma ave morre, os criadores costumam dizer que o animal morreu de “gogo”, um termo que eles usam para determinar as doenças que são comuns às aves”, explica o coordenador da pesquisa, o professor Jael Soares Batista, do Departamento de Ciências Animais da Universidade Federal Rural do Semi-Árido.
O diagnóstico preciso foi realizado após o reconhecimento dos sinais clínicos e da necropsia de um peru contaminado, durante a qual foi constatada uma série de lesões macroscópicas e histológicas no fígado e no ceco do animal. Para Canindé Lopes, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFERSA e bolsista do laboratório, o contato entre a universidade e os criadores dos animais é essencial para suprir a carência de diagnósticos existentes nessa área. “Conversamos com o criador das aves para saber os sintomas, ele nos cedeu um dos perus contaminados e, em seguida, fizemos a necropsia no animal”, comenta Canindé.
Tratamento
A partir do diagnóstico, os pesquisadores do laboratório revisaram os casos existentes na literatura para investigar os tratamentos já realizados. “Como essa doença também é pouco conhecida pelos médicos veterinários, pesquisamos na literatura e encontramos trabalhos experimentais americanos, nos quais foram testados vários medicamentos. Os melhores resultados encontrados foram com o uso da substância Metronidazol”, afirmou o bolsista do laboratório e aluno do curso de Medicina Veterinária da UFERSA, Roberio Gomes Olinda.
O tratamento com o Metronidazol logo surtiu efeito nos perus contaminados. As aves diagnosticadas com a doença e tratadas com a medicação entraram normalmente na fase adulta. “Os perus cresceram saudáveis e conseguiram entrar na fase de reprodução sem problemas”, relata o professor Jael Batista.
Embora reconheçam os benefícios do tratamento com Metronidazol, os pesquisadores alertam que a substância deve ser empregada com restrições para evitar a resistência do parasita. Além disso, o tratamento deve ser prescrito por um médico veterinário, profissional que detém o conhecimento técnico para prescrever a dosagem e o período de administração do medicamento. “Ainda há uma grande carência na pesquisa de doenças de aves e a divulgação de descobertas como essas vão alertar as pessoas para a importância de procurar um médico veterinário”, alerta o professor.
Contaminação
Na agricultura industrial, a histomoníase é considerada uma doença erradicada devido ao controle sanitário. Os casos da doença ocorrem na agricultura familiar, onde as aves são criadas livremente. Entre as aves, o peru é considerado uma das espécies mais sensíveis à doença, principalmente, nos primeiros meses de vida. “Não existe uma explicação para os perus serem mais suscetíveis à histomoníase. É algo específico da espécie”, assegura Roberio Olinda.
Segundo ele, a transmissão da doença em perus ocorre, principalmente, por meio de hospedeiros intermediários, como o nematódeo cecal Heterakis gallinarum e minhocas que hospedam os ovos do protozoário Histomonas meleagridis.
Criação concomitante
Outro fator que estimula a propagação da doença é a criação de perus e galinhas de forma concomitante. “A transmissão também pode acontecer pelo contato direto com aves infectadas. Um dos fatores de riscos para doença, pode ser a criação concomitante de perus, galinhas e guinés no mesmo ambiente”, explica Roberio Olinda.
Nestes casos, os animais são tratados com o Metronidazol, mas a doença ainda fica alojada no ambiente. “Não tem como ter um controle da histomoníase, pois ainda não existe vacina e depois que ela se instala no local fica difícil tirar, pois o agente que a provoca permanece muito tempo no solo”, explica o professor Jael Batista.
Benefícios
O diagnóstico e o tratamento dão esperança e motivação aos criadores para continuarem investindo na criação das aves. “A descoberta do diagnóstico é muito importante, pois ajuda os criadores que normalmente não possuem nenhuma assistência técnica, e que, muitas vezes, até deixam de criar as aves, que são uma fonte de alimento e renda para eles”, comenta Jael Batista.
A pesquisa desenvolvida pela UFERSA também deverá contribuir para enriquecer a literatura da área por meio dos artigos científicos, que serão submetidos a períodos. “Os próximos passos são divulgar a pesquisa nacionalmente em períodos indexados da área. Agora, como já temos todo um protocolo de diagnóstico e atendimento, ficaremos atentos para a ocorrência de novos casos”, vislumbra o professor.