O cultivo protegido de videira está em expansão no Brasil, sendo adotado, especialmente, por produtores de uva de mesa
A área manejada com o cultivo protegido de videiras no Rio Grande do Sul é de cerca de 100 hectares, 90% dos quais concentrados na região de Caxias do Sul, serra gaúcha.
Custo de implantação
Apesar do maior custo de implantação do sistema protegido, a redução dos gastos com tratamentos fitossanitários para o controle de fitomoléstias, a segurança contra intempéries e a melhoria da qualidade e do aspecto do produto, compensam o investimento.
Segundo o engenheiro agrônomo Enio Ângelo Todeschini, assistente técnico do escritório regional da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul, apesar de o custo de produção da videira coberta ser, em média, de R$ 120 mil por hectare — incluindo mudas, mão de obra etc. —, os gastos com defensivos podem ser reduzidos em até 90%.
“Como as plantas estão abrigadas, não sofrem ação da chuva, do granizo, do vento e do calor excessivo. Com o ambiente mais seco, há pouca possibilidade da incidência de doenças fúngicas. Porém, elevam-se os riscos da ocorrência de doença chamada oídio e o aumento da população e ataque de ácaros”, explica o agrônomo.
Ele alerta, entretanto, para que os produtores tenham atenção redobrada no eventual uso de fungicidas.
“Como as uvas não são ‘lavadas’ pela água da chuva, é preciso rever a quantidade a ser aplicada e, principalmente, o período de carência que deve ser, em média, três vezes maior.
Recomendações importantes
Abaixo, recomendações da Emater/RS-Ascar sobre os cuidados a serem tomados durante a instalação da cobertura que cobrirá os parreirais e dicas para ampliar a sua vida útil:
- Deve-se evitar a formação de pontas que possam rasgar a cobertura e o contato direto dela com madeira, arames ou pregos, pois o atrito com estes materiais e a ferrugem degradam o plástico.
- O uso de quebra-ventos e a não aplicação de fungicidas diretamente sobre o plástico também podem aumentar a durabilidade da cobertura, de cinco anos, em média.
- A altura da cobertura plástica deve ser suficiente para proteger as folhas da chuva, mas não pode ficar muito próxima à planta. A distância tem que permitir a circulação de ar, evitando o efeito estufa.
- As lonas devem ser instaladas em dias mais quentes, por ficarem mais maleáveis, e retiradas logo após a colheita.
- Os produtores que preferem deixar a lona enrolada na estrutura que a sustenta, devem envolvê-la com plástico para evitar o acúmulo de água e o surgimento de microvegetais e fungos.
ATENÇÃO: O tempo médio de durabilidade da cobertura é de 4 a 5 anos.
Preço ao produtor
Todeschini diz que o preço recebido pelo produtor varia de R$ 1,50 o quilo de uvas Niágara rosada, a R$ 5,00 o quilo da uva Itália e suas seleções. Considerando uma produtividade média de 20.000 kg/ha — já descontados os descartes e as perdas entre a colheita e a entrega do produto — a renda do produtor pode chegar a R$ 100 mil/ha, no caso da uva Itália. Mas, ainda assim, segundo o técnico, o investimento inicial pode levar de cinco a sete anos para ser amortizado.
Entraves ao cultivo
Um dos maiores entraves ao cultivo de parreiras abrigadas é o alto custo da mão de obra, especialmente na fase de manejo do cacho: penicagem (para ‘ralear’ as flores dos cachos) e a limpeza dos cachos (desbaste das bagas) das variedades finas, como a Itália. Esta última etapa pode demandar 700 horas/hectare.
Por isso, explica o agrônomo, muitos produtores da serra gaúcha estão deixando de produzir a variedade Itália e optando pela Niágara Rosada, que não demanda esses tratos e possibilita uma colheita até 30 dias após o período de ‘safra’, aumentando a possibilidade de obtenção de melhores preços.
Agroturismo
A fim de garantir agregação de valor e, consequentemente, maior renda ao produtor, a Emater também vem incentivando o agroturismo (turismo rural) na região, oferecendo roteiros de visitas a propriedades, onde os turistas podem experimentar colher pessoalmente os frutos no parreiral para consumo. “É um colha e pague”, explica Todeschini.
Júlio Fiori – EMATER RS / ASCAR
Produtor de uva tem vantagens com o novo modelo de preço mínimo
O produtor de uva que valorizar qualidade terá mais vantagens na safra atual e na de 2014, de acordo com a nova modalidade de cálculo definida pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O novo cálculo oferece melhor remuneração em troca de melhor qualidade, objetivo maior da mudança.
O preço mínimo foi aprovado recentemente pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e aguarda portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para entrar em vigor. É o mesmo da safra anterior, de R$ 0,57 o quilo do produto.
A ideia é incentivar o manejo dos parreirais, de modo que seja produzido menos com mais qualidade. Até 2012, para cada grau babo (que determina o teor de açúcar na fruta) acima dos 15 graus, havia um acréscimo de 5% em relação ao valor do preço mínimo. A partir desta safra, o produtor receberá um ágio de 7,5% para cada grau acima dos 14 graus das uvas brancas, 15 graus para variedades americanas e a partir de 16 graus para as viníferas. Da mesma forma, serão aplicados deságios em igual proporção. Já para o próximo ano, o ágio passa para 10%.
A área técnica da Conab fez uma comparação econômica, aplicando a nova tabela à safra do ano passado, tendo em vista o grau glucométrico (de açúcar) médio da uva colhida em 2012. De forma geral, naquelas condições de safra, que são semelhantes as deste ano, houve ganho econômico em favor dos produtores que colheram uvas de maior qualidade.
Tomando-se por base as quantidades de uvas e as respectivas graduações médias, em 2012, os produtores receberiam, com base nos preços mínimos com ágio/deságio de 5%, o valor de R$ 422,2 milhões, e se fosse com o percentual de 7,5%, o valor subiria para R$ 431,8 milhões, portanto, com uma diferença de R$ 9,6 milhões a favor dos produtores.
”Um ganho significativo, em especial a demonstração de que os produtores só terão a ganhar com as novas medidas. Para alcançar esse patamar de qualidade (grau glucométrico maior que 14, 15 ou 16), os produtores ainda terão que fazer a poda verde, o que será extremamente positivo para reduzir possíveis excessos de produção”, enfatiza o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto.