“O setor vitivinícola está extremamente preocupado com a situação da possível ruptura na distribuição de vinhos. Estamos correndo risco de não ter vinho no mercado até a metade do ano”
No mês de março completamos um ano de quarentena em casa, nunca pensávamos que essa pandemia poderia durar tanto tempo. Estamos na terceira onda da doença e, com a nova cepa do Covid, houve um festival de bandeiras vermelhas e pretas pelo país, com toque de recolher e restrições na circulação de pessoas.
Mais tempo em casa, o brasileiro precisou reinventar distrações, alguns começaram a fazer receitas de pães e muitos outros, meus amigos, descobriram o universo maravilhoso do vinho.
Afinal, o vinho tem uma série de benefícios para a saúde e uma tacinha por dia ajuda no colesterol bom, diminui pressão arterial, melhora a digestão e por aí vai. Além de ser um bom companheiro nesses tempos de isolamento social, porque nos deixa mais alegres e leves com a vida.
Nunca se bebeu tanto vinho nesse país!
Houve 5% a mais de importações de garrafas de vinho, a comercialização do vinho nacional cresceu cerca de 15% (o que significa 98 milhões de litros a mais da bebida), e o aumento do consumo por pessoa foi de aproximadamente 2,2 litros em 2018 para 2,5 litros por pessoa em 2020 (um pouco mais de três garrafas por pessoa), considerando a média nacional.
O consumo total de vinho no Brasil é de mais de 370 milhões de litros por ano, achou bastante? Saiba que estamos em 22º no ranking de países que mais consomem vinhos por habitante, perdemos feio para nossos colonizadores portugueses bons de taças com uma média de 62,1 litros por pessoa, ou seja, quase 83 garrafas para cada português.
E olha que a área de videiras cultivadas no Brasil não é pouca não, são mais de 78 mil hectares e uma produção de uva superior a 1.68 milhões de toneladas por ano! Só lembrem que nem tudo vira bebida, metade disso é para comer a fruta mesmo, o que sobra é dividido para produzir vinho de mesa (colonial), 255 milhões de litros, suco de uva concentrado e integral somam quase 200 milhões de litros, e o vinho fino equivale a uns 44,5 milhões de litros.
Apesar do maior produtor de uva ser o Rio Grande do Sul (famoso pelo Vale dos Vinhedos e demais áreas com belas paisagens das vinícolas) e que produz sozinho mais que todos os outros estados juntos, cerca de 740 toneladas de uva; é a turma do Sudeste – em especial, os paulistas -, que mais consome vinho. Bebem 46% desse líquido maravilhoso. E vale destacar também que os mineiros têm começado a se dedicar as vinícolas boutiques, despertando a curiosidade a respeito das novas safras.
Os nordestinos vêm logo atrás no que se trata de consumo de vinho, representando 27%, e tem se destacado nos últimos anos pelas produções viníferas na região do Vale do São Francisco. A região sul, por incrível que pareça, consome apenas cerca de 15% do consumo nacional de vinho, e o Centro-Oeste e Norte, mais tímidos, somente 6% e 5%, respectivamente.
No verão, meses de janeiro, fevereiro, março, sempre é uma festa, época de colheita da safra e a celebração se chama Vindima, muitas vinícolas nesse período fazem festivais e os visitantes podem colher seus cachos e depois até esmagar as frutinhas com os pés, como faziam nossos antepassados imigrantes no processo de vinificação mais artesanal.
Claro que a pandemia prejudicou até essa aglomeração da festividade nesse ano, o que é uma pena, pois tivemos uma super safra em 2020/2021 e os especialistas dizem que está incrível e promete ser excelente para produção de vinhos finos.
Contudo, como o mundo anda um caos, não foi só a Vindima que ficou prejudicada, estamos correndo risco de não ter vinho no mercado até a metade do ano. A baixa na economia e as dificuldades em virtude das restrições impostas pela quarentena à indústria estão ocasionando falta de alumínio, garrafas de vidro e papelão, para envasar e transportar os produtos.
O setor vitivinícola está extremamente preocupado com a situação da possível ruptura na distribuição de vinhos e bebidas no geral, as associações envolvidas buscam medidas para resolver o problema das embalagens. Todavia, o cenário não é otimista e nem promissor.
Se vai faltar vinho nas prateleiras, não sei. Mas que o preço da garrafa vai subir, isso é certo.
Notícia amarga para tempos de lockdown, preferia sentir o tanino de um bom Cabernet!