Grande produtora de frutas do País, a região do Jaíba-MG, ganha novo impulso com a certificação internacional inédita das fazendas que cultivam banana prata
A constante incidência de raios solares, somada às condições particulares do solo e à presença de grandes projetos de irrigação, faz da região do Jaíba, no Norte de Minas, um verdadeiro oásis da fruticultura nacional. Englobando os municípios de Jaíba, Janaúba, Matias Cardoso, Verdelândia, Porteirinha, Nova Porteirinha e Itacarambi, a localidade, considerada um Arranjo Produtivo Local (APL), gerou, em 2011, R$ 194 milhões com a atividade frutícola. Além de abastecer o mercado interno, as frutas de sabores variados são exportadas, como no caso do limão Tahiti e da manga Palmer.
A novidade é que, agora, um dos produtos mais expressivos da cultura local — a banana prata — também poderá cruzar as fronteiras e chegar às gôndolas do Velho Continente. O projeto, que conta com a participação do Sebrae Minas, possibilitou a certificação de 14 fazendas com o selo Global Gap, que estabelece normas voluntárias a produtos agrícolas em todo o mundo e permite a exportação para a União Europeia. A certificação Global Gap para a banana prata é inédita no mundo e promete potencializar, ainda mais, a profissionalização da bananicultura em Minas Gerais.
Terra Santa
Com 40 anos de atividades, a fazenda Terra Santa é uma das empresas certificadas. A história da agricultura na família Lage, que hoje está à frente da propriedade, começou na década de 1970, quando o pai de Gabriel Gustavo Lage mudou-se da região do Vale do Aço para trabalhar nas obras do projeto Jaíba. “Meu pai foi criado em fazenda e já tinha conhecimento na agricultura. Ele começou no ramo de sementes e depois passou para a banana”, lembra o empresário. Em 1995, o jovem cursou agronomia para participar dos negócios. Hoje, junto à família, ele administra o grupo Banarica, que conta com 330 hectares plantados em seis fazendas.
Ao todo, a Terra Santa possui 80 hectares cultivados, responsáveis pela produção anual de mais de duas mil toneladas de banana. A maior parte desse montante é vendida para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, mas, até o final do ano, a expectativa é que as frutas também sejam comercializadas em Portugal. “Exportar já era um sonho antigo”, revela Gabriel Lage. Por isso, ao ser convidado a participar do projeto que levou à certificação do Global Gap, ele não pensou duas vezes. “Muita gente não acreditou na proposta. Agora, já saímos à frente dos demais, inclusive de grandes empresas do ramo.”
A certificação foi obtida em fevereiro, após o trabalho de consultoria realizado durante seis meses por técnicos do Sebrae Minas. Para receber o selo, as propriedades devem atender a diversos requisitos, como instalação de depósitos de adubo, construção de banheiros, implantação da coleta seletiva de lixo e destinação em local adaptado, sinalização do uso de defensivo agrícola, análise da água tanto para consumo humano quanto para a irrigação, além de avaliação de resíduos e treinamentos em segurança no trabalho.
“Nós já dávamos atenção à grande parte dos requisitos, mas não imaginávamos que pequenas mudanças, como a organização do almoxarifado, por exemplo, pudessem interferir na qualidade do produto. Para se ter uma ideia, nosso percentual de perda reduziu de 7% para 4%. É um número significativo quando se fala em frutas”, comenta Gabriel Lage.
Frutos consolidados
Gaúcho de Pelotas (RS), o engenheiro agrícola Paulo Fernando de Gusmão também apostou na promissora combinação de fatores naturais da região do Jaíba para ingressar na fruticultura. “As frutas daqui têm uma digital sensorial. Elas são únicas no sabor, principalmente na doçura, devido às características locais”, explica. Nos 30 hectares da fazenda Curupira, que também recebeu a certificação Global Gap, além da banana prata, são cultivados coco e tangerina. O grande diferencial da propriedade é que os produtos são orgânicos, o que confere ainda mais qualidade. “Aqui reina a Lei de Lavoisier, ou seja, nada se perde, tudo se transforma. Reaproveitamos tudo”, brinca a esposa de Paulo Gusmão, Maria José Hosana de Souza. O casal acredita que esse fator será bastante valorizado quando as frutas começarem a ser exportadas. “O mercado internacional vê com bons olhos a questão dos orgânicos, e, por lá, a oferta é menor que a demanda”, ressalta o produtor.
Qualificação
Para ele, a certificação, mais que abrir portas para novos mercados, está gerando uma mudança de cultura na região, principalmente no que diz respeito às relações trabalhistas. “Com os treinamentos que temos feito, os empregados passam a se ver como parte importante da cadeia produtiva. Os empresários também valorizam mais o trabalhador. É um caminho sem volta que, com certeza, vai nos ajudar a fortalecer o setor.”
Produtor de banana e mamão e tesoureiro da Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte), Saulo Bresinski Lage reforça o discurso de Paulo Gusmão. “A consultoria para conseguirmos a certificação compreende mais questões como higiene, segurança do trabalho e cuidados ao lidar com os frutos. É uma mudança de mentalidade.” Ele também destaca que o conhecimento adquirido no projeto pode ser aplicado no cultivo de outras frutas, o que representa um importante ganho para a qualificação da atividade na região.
Com 2.500 produtores cadastrados, a Abanorte é a associação que representa e defende os interesses do grupo junto aos governos estadual e federal. Segundo o empresário, a parceria com o Sebrae para o projeto da bananicultura é fundamental para o fortalecimento da entidade. “As pessoas ainda são céticas e não acreditam nessas iniciativas. Creio que, a partir do momento em o primeiro grupo começar a exportar, novos produtores vão nos procurar.”
Nos 90 hectares da fazenda de Saulo Bresinski, a Uirapuru, são produzidas anualmente 2.700 toneladas de banana prata e nanica, que chegam ao mercado com a marca Frutsi. Para ele, a abertura do mercado externo vai ser uma resposta para um dos principais gargalos da bananicultura. “O diferencial da nossa região é que conseguimos produzir durante o ano todo. Porém, no período da safra, a concorrência com outros estados produtores aumenta e o preço da fruta cai em mais de 50%. Com a exportação, teremos mais opções para escoar as frutas.”
Do Jaíba para o mundo
As expectativas para os novos mercados são grandes. Em janeiro, os produtores certificados participaram da Fruit Logistic, principal feira de frutas do mercado, realizada anualmente na Alemanha. Foi uma oportunidade para apresentar o produto e fazer contato com potenciais compradores. “Lá eles só conhecem a banana caturra. Levamos a prata para degustação e os visitantes acharam muito bom. Queremos colocar nosso produto nesse mercado como algo diferenciado, voltado para um público de maior poder aquisitivo”, afirma Saulo Bresinski. Já foram acertadas parcerias com mercados de Portugal que irão arcar com as taxas portuárias da primeira exportação.
Após as certificações das fazendas, o próximo passo do projeto da bananicultura do Jaíba, que ainda está em desenvolvimento, é o teste para definir a tecnologia mais adequada para ser usada na pós-colheita dos frutos destinados à exportação. “A Global Gap é o passaporte para a fruta entrar no exterior. As fazendas já estão aptas, mas como a fruta é muito perecível, devem ser feitos testes rigorosos para se garantir que ela chegue ao mercado em boas condições”, explica Cláudio Wagner de Castro, analista do Sebrae Minas. Para isso, uma amostra das frutas, doadas por produtores, foi colocada em câmaras frias para atestar seu estado de conservação.
Em seguida, em parceria com a Unimontes, Universidade Federal de Viçosa e entidades que apóiam o desenvolvimento da região do Jaíba, serão feitos testes laboratoriais para verificar o impacto da tecnologia na qualidade dos produtos. Na sequência, as bananas serão armazenadas em um contêiner, ainda sem formatação definida, para que se observe a maturação ao longo de 28 dias, que seria o prazo para sua chegada à Europa após a colheita. Só na conclusão desse ciclo, que deve ocorrer até o final do segundo semestre deste ano, é que um contêiner com a banana prata será enviado para o exterior.
Bananicultura na região do Jaíba
São 2.500 produtores de diversas frutas cadastrados na Abanorte. Uma média de 250 mil toneladas de bananas produzidas anualmente. Mais de 11 mil hectares plantados somente com banana prata. A região do Jaíba abrange sete municípios, o que corresponde a uma área de 10.829 quilômetros quadrados.
Curiosidade
A região do Jaíba, no Norte de Minas Gerais, é um verdadeiro oásis da fruticultura brasileira por causa da constante incidência do sol, das condições peculiares do solo e da irrigação.