Uso de feromônio de percevejo deve reduzir ataque de praga do arroz
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) acaba de obter patente, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), de um método inédito que promete aliviar a vida de rizicultores do País, com a aplicação de semioquímicos, dispensando o uso de defensivos agrícolas. O intuito é que os produtores rurais se livrem de uma das pragas mais agressivas do arrozeiro, em território nacional: o percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris).
O inseto suga a seiva nos colmos (caules) das plantas de arroz, reduzindo a produção de grãos e causando perdas na produção de até 80%. A praga, que ataca na maioria das regiões produtoras de arroz do País, é nociva aos dois sistemas de cultivo do cereal: irrigado (terras baixas) e de sequeiro (terras altas).
Intitulada “Composições e métodos para atração e extermínio de percevejos do gênero Tibraca” (PI 0604617-7), a carta patente é de autoria dos pesquisadores Miguel Borges, Maria Carolina Blassioli Moraes, Raul Alberto Laumann (os três da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – DF) e José Alexandre Freitas Barrigossi (da Embrapa Arroz e Feijão – GO).
Para chegar ao resultado final foram necessários 15 anos de muitas pesquisas que, para ser implantado no campo, depende de parceria com alguma empresa privada, para sua produção em escala e comercialização.
A tecnologia
De acordo com os pesquisadores, a tecnologia consiste na utilização de feromônios para monitorar e controlar os percevejos nas lavouras do País. Eles defendem o método como seguro, com grande potencial de utilização em programas de Manejo Integrado de Pragas (MI P). Isto porque ele pode diminuir drasticamente e, até mesmo, eliminar a utilização de agroquímicos nos plantios de arroz.
Segundo a Embrapa, a fonte para fabricar os semioquímicos vem do próprio meio ambiente. Durante o processo de pesquisa, os cientistas envolvidos observaram que os insetos usam substâncias químicas para “avisar” aos demais sobre a demarcação de território, alimentação, risco de predadores, reprodução etc.
“Quando esta comunicação ocorre dentro da mesma espécie, o composto químico é chamado de feromônio. É como a linguagem humana, só que com substâncias químicas no lugar das palavras”, destaca Miguel Borges, líder do projeto.
Experiência no campo
A partir daí, o grupo de pesquisadores comandado por ele começou a retirar os feromônios em laboratório para depois colocá-los em armadilhas no campo. “No caso dos percevejos, trabalhamos principalmente com os feromônios sexuais produzidos pelos machos”, ressalta Borges.
Ele explica que o feromônio natural produzido pelo percevejo é sintetizado em laboratório e formulado em liberadores que se assemelham ao mesmo processo que ocorre na natureza. Na sequência, eles são colocados em armadilhas, em meio às lavouras, para a captura e monitoramento das fêmeas.
As armadilhas com os feromônios são distribuídas no campo com o objetivo de “enganar os insetos”, segundo o pesquisador Miguel Borges. Ele destaca que, ao identificarem o cheiro dos machos, as fêmeas são atraídas e capturadas na armadilha. “O intuito final é monitorar e controlar as populações dos percevejos-praga e, consequentemente, reduzir os danos às plantações.”
Para parcerias
Empresas interessadas no licenciamento desta tecnologia podem procurar a equipe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia pelo e-mail: cenargen.sipt@embrapa.br.
Fonte: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Importância do controle biológico
A aplicação de feromônio do percevejo-do-colmo como forma de reduzir os ataques destes insetos às lavouras de arroz, bem como outros exemplos existentes no mercado ou em estudo, faz parte de métodos de controle biológico de pragas no campo.
Pesquisador holandês da Universidade de Wageningen, em Holanda, o ecologista Joop van Lenteren defende que os inimigos naturais das pragas estão largamente disponíveis na natureza, “especialmente em um gigante tropical e berço de biodiversidade como o Brasil”, mas é preciso ampliar sua utilização.
“O que temos visto é a redução da biodiversidade pelo excesso de agrotóxicos. Em vez disto, poderíamos estudar mais profundamente os ecossistemas e identificar os organismos que podem ser usados para controle biológico. Então, eu advogo em favor de cada vez mais estudos ecológicos que tornem esse método mais barato e disponível”, discursou o especialista, durante o 26º Congresso Brasileiro de Entomologia (CBE) e 9º Congresso Latino -Americano de Entomologia (IX CLE), realizado em março, em Maceió (AL).
Especializado em dinâmica populacional das espécies, Lenteren acredita que “é muito mais gratificante, para um produtor consciente, saber que a prática agrícola está ajudando a natureza, preservando vidas humanas e garantindo um futuro sustentável para a agricultura e o meio ambiente”.