Exóticas, delicadas, exuberantes, incomparáveis. São 50 mil tipos diferentes de orquídeas na natureza. A perfeição dessas flores faz aumentar, cada vez mais, a paixão em cultivá-las
Colorindo jardins e varandas, enfeitando ambientes internos e ainda trazendo leveza aos escritórios, as orquídeas harmonizam, com sofisticação e encantamento, qualquer ambiente. São quase unanimidade e admiradas pela exuberância e exotismo de suas flores.
Mas, mesmo com a paixão que as orquídeas despertam, muitos desistem de cultivá-las e deixam conviver com sua beleza ímpar, porque ainda têm dificuldade em fazê-las sobreviver, ou não conseguir que voltem a florir, geralmente, pelo simples fato de não conhecer as necessidades básicas das espécies.
A Revista A Lavoura inaugura esta nova coluna, Flores & Jardins, com matérias especiais sobre como cultivar as espécies de orquídeas mais populares e conhecidas no Brasil.
Cultivo não é complicado
O engenheiro agrônomo Gilberto Cardoso, responsável pelo site Pergunte ao Agrônomo, garante que cultivar orquídeas não é tão complicado quanto parece, “todos podem conseguir, com êxito, mesmo não sabendo muito sobre floricultura”.
Para o especialista, cultivos que fracassam, via de regra, têm em comum a repetição de equívocos, cujos resultados são o aparecimento de doenças e pragas, ou as folhas murcham e, ainda, não ocorrem novas florações. Enfim, a orquídea não se desenvolve como deveria e acaba morrendo”.
Por isso, a técnica correta de cultivo é muito importante para ter êxito ao cultivar essas belas e delicadas plantas, segundo Cardoso.
Ele orienta que é preciso, em primeiro lugar, entender as necessidades das orquídeas, ou seja, conseguir identificar os reais problemas que possam estar acontecendo e tomar providências imediatas e acertadas para resolvê-los. “A técnica certa pode trazer resultados surpreendentes e positivos”, garante o especialista.
Milhares de espécies
Orquídeas bem tratadas dão vida e colorido aos ambientes. Existem mais de 50 mil (3,5 mil no Brasil) tipos diferentes de orquídeas na natureza, de variadas formas, cores e tamanhos, mas alguns são mais cultivados e vendidos em floriculturas e mercados brasileiros.
As mais populares entre os brasileiros são as espécies Phalaenopsis, Catteya, Vanda, Dendrodium, Cybidium, Oncidium e suas numerosas derivações. “Cada uma delas se adapta melhor a um espaço e exige cuidados diferentes”, afirma Cardoso.
Ele explica que, para cuidar dessas plantas, prolongar sua vida e garantir novas florescências, talvez seja preciso reformular alguns conceitos sobre esta flor.
“O primeiro deles é que, orquídeas NÃO são espécies parasitas. Orquídeas, de qualquer habitat, não se alimentam dos nutrientes das árvores em que estão hospedadas, apenas as utilizam para fixação, sem ocasionar nenhum tipo de prejuízo a elas”.
Habitats
Independentemente do gênero ou espécie, para a garantir sucesso no cultivo das orquídeas, são essenciais alguns conhecimentos básicos sobre a planta, entre eles, seu habitat natural.
Epífitas
“A maior parte das orquídeas é Epífita, quer dizer, sobrevive ‘agarrada’ em troncos de árvores, que servem apenas de apoio, realizando a fotossíntese a partir de nutrientes absorvidos pelo ar e pela chuva”, informa o especialista.
As raízes das epífitas são revestidas por uma estrutura esponjosa chamada ‘velame’, que facilita a absorção de água do ambiente. Dentro do velame, um fungo denominado micorriza se aloja e decompõe toda a matéria orgânica disseminada pelo ar, assegurando que esta espécie de orquídea absorva os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento.
“São bons exemplos de epífitas, as orquídeas dos gêneros Oncidium, Dendrobium, Phalaenopsis, Vanda e Cattleya”, cita Cardoso.
Terrestres
Já as Terrestres, de acordo com o agrônomo, são aquelas que subsistem na terra, exatamente como as plantas comuns, embora aceitem, perfeitamente, serem cultivadas também em outros locais (como em substratos). Entre elas estão a Cymbidium, Phaius, Paphiopedilum, Arundina, Neobenthamia, Bletia etc.
Rupestres
As que vivem sobre rochas são chamadas de Rupestres, explica Cardoso. “Estas espécies não ficam ‘presas’ a uma pedra lisa, mas fixadas nos líquens e folhagens decompostos acumulados nas fendas e partes rebaixadas das pedras. Algumas plantas dos gêneros Epidendrum, Laelia, Zygopelatum e Bifrenaria, são bons exemplos”.
Tipos de crescimento
Informação relevante, pois irá determinar como cada espécie precisa ser plantada, explica o agrônomo. “São dois os tipos de crescimento das orquídeas: monopodial (vertical) e simpodial (para os lados)”.
As espécies simpodiais, ou seja, que crescem lateralmente, “têm uma protuberância em seu caule, chamado de pseudobulbo, cuja função é acumular água e nutrientes. Reconhecê-lo é fundamental para identificar em qual direção a planta emitirá novos brotos”, alerta Cardoso.
São exemplos de orquídeas simpodiais, de acordo com o agrônomo, as das espécies Cattleya, Dendrobium, Bulbophillum, Cymbidium, Arundina e outras.
Já as plantas monopodiais são aquelas que se desenvolvem principalmente para o alto, mas que também emitem brotos laterais. Clássico exemplo é uma das espécies mais apreciadas por sua rara beleza, a Vanda sp.
O que são Keikis?
Gilberto Cardoso explica que, “às vezes, os gêneros de orquídeas Phalaenopsis, Dendrobium e Epidendrum , formam uma nova planta, denominada keiki. Diferentemente de uma muda comum, que nasce da base da planta, o keiki surge a partir do pseudobulbo ou da haste floral”.
Segundo o especialista, os keikis podem ser facilmente retirados e plantados.“Basta esperar que adquiram raízes e folhas (pelo menos duas), para que tenham condições de sobreviver sozinhos e destacá-los da planta mãe”.
Cardoso ensina que a retirada do keiki pode ser “simplesmente puxando a mudinha, ou cortando a região da haste em que o ele está, não há segredo”, assegura.
Pode-se plantar em vasos diferentes ou no mesmo vaso da planta que o originou.
Ele finaliza esclarecendo que “como o keiki é uma planta geneticamente idêntica à mãe, os cuidados no cultivo que são dispensados a ela, como uso de bons substratos, regas regulares e luminosidade adequada, devem ser repetidos na planta jovem”.
Dimensão dos vasos
Para o especialista do Site Pergunte ao Agrônomo, a orquídea não deve ser plantada em vasos muito maiores do que seu tamanho, “pois as raízes precisam absorver a água. Tampouco, em pequenos demais, porque as raízes necessitam de espaço para crescer”.
A escolha do vaso dependerá do substrato que será usado e, também, da umidade demandada pela espécie cultivada. “É recomendável evitar o uso de recipientes alternativos – que são inadequados – como os de vidro, potes de enfeites e garrafas pet, caso não haja experiência no cultivo de orquídeas”, adverte.
Como plantar
Gilberto Cardoso explica que o plantio de orquídeas em vasos dependerá de como é o crescimento das espécies. “Se for para cima (monopodiais), devem ser plantadas no centro do vaso, como as Phalaenopsis, as Vandas e as Paphiopedilum. Já aquelas de crescimento para os lados (simpodiais), é aconselhável plantá-las em um dos cantos do vaso”, resume.
Tipos de vasos mais usados
Plástico
É comum que as orquídeas venham das floriculturas e mercados em vasinhos plásticos, que são leves e inquebráveis, bastante práticos para a comercialização. Para que as orquídeas permaneçam sendo neles cultivadas, uma boa dica é que os vasos fiquem sustentados em algum suporte ou que permaneçam em local seguro onde não haja chance de caírem, já que ventos mais fortes podem derrubá-los.
Uma boa escolha são os de polietileno, de cor clara ou transparente, pois permitem que entre mais luz nas raízes, benéficas para a saúde delas.
Caso a orquídea permaneça no vaso de plástico, é bom tomar cuidado com a irrigação. Os furos na parte de baixo (é bom que haja furos também nos lados) são importantes para que a água da rega, ou da chuva, possa escoar. É preciso intercalar entre um período úmido e outro mais seco, mas nunca ficar somente em um deles.
Barro
É considerado, por muitos especialistas, um dos melhores tipos de vasos para o cultivo de orquídeas, já que o material tem bastante porosidade e absorve o excesso de água, fazendo com que a planta não conviva com a terra encharcada.
Apesar de ser uma boa escolha, é preciso atentar para alguns detalhes. O primeiro, é verificar se há furos no fundo e, sempre que possível, dar preferência àqueles que tenham furos também nas laterais.
Eles vão ajudar na troca de água entre o substrato e o ambiente. O barro armazena um pouco de água (nas próprias paredes do vaso), assim, é recomendável usá-los com substratos que tenham baixa retenção de água.
Cesto
Pouco importa se forem de arame, plástico, madeira, ou de outros materiais, os vasos tipo cestos são bem apropriados para cultivar orquídeas, principalmente as espécies que têm flores pendentes. Além de serem bastante decorativos, facilitam que as raízes se alastrem e se desenvolvam, já que o ar circula plenamente em torno do substrato.
Cerâmica
Apesar de serem bonitos, nem sempre são convenientes, porque, boa parte deles, não possui furos para a água escorrer, e são revestidos com tinta que isola a troca de água com o ambiente.
Mas, se os vasos deste material forem furados, tanto nas laterais como na parte de baixo, podem, sem problema, ser usados para o cultivo de orquídeas, que ficarão muito bonitas nesses arranjos.
Cachepot de madeira
Bonitos e charmosos, de aparência rústica, são ótimos para pendurar. Se a opção escolhida for cultivar a orquídea neste tipo de vaso, é bom observar apenas um detalhe, ou seja, verificar o espaçamento entre as ripas de madeira e escolher um substrato que não passe por esse espaço, assim, tanto nutrientes quanto a água ficarão preservados.
Observação importante
Quando for preciso trocar o vaso da orquídea e replantá-la em outro (de diferente tamanho ou material), a planta não pode estar florida.
Escolhendo o substrato
O agrônomo ensina que a escolha do substrato dependerá da espécie de orquídea que será cultivada. Segundo ele, algumas necessitam de um substrato que retenha maior umidade, outras nem tanto.
“A disponibilidade para irrigar também é muito importante nessa escolha.É possível cultivá-las em substratos totalmente inertes (que não retêm água nem nutrientes) ou, até mesmo, sem nenhum substrato. Entretanto, isso tornará o cultivo mais trabalhoso e, caso não haja muita experiência no cultivo, a orquídea pode morrer rapidamente” adverte.
Resumindo, ao escolher o substrato para cultivar orquídeas, é sempre bom lembrar que é imprescindível que as raízes possam “respirar”. Portanto, a atenção deve ser redobrada para verificar se as raízes estão com espaço livre e disponível para se desenvolver, ou se estão muito “espremidas” no substrato.
Confira a seguir, algumas opções de substratos para cultivar orquídeas e como usá-los.
Fibra de coco
O coxim e a fibra de coco têm sido bastante empregados para cultivar orquídeas, principalmente substituindo o habitual xaxim (cuja extração e comercialização estão proibidas por estar quase em extinção). Porém, Cardoso observa que este substrato apresenta alto teor de tanino e sal, o que não é apropriado para algumas espécies de orquídeas.
“O tratamento para a retirada do tanino é o mesmo usado para todos os substratos, ou seja, é preciso deixar a fibra de coco de molho na água e trocá-la, periodicamente, até que ela fique bem clara”, ensina o especialista.
Segundo ele, este substrato apresenta aeração adequada, boa iluminação, razoável durabilidade e retém pouca água. A recomendação é que seja substituído a cada dois anos.
A fibra de coco pode ser encontrada em cubos, placas ou desfiada, nas lojas e sites especializados em floricultura.
Casca de pinus
Esse substrato exige cuidado extra, porque pode acumular fungos e bactérias, especialmente se adquirido in natura. Para evitar contaminar a orquídea, é necessário deixar as cascas de pinus de molho em água sanitária (diluída em água) ou, então, borrifar água com bicarbonato de sódio diluído.
Só depois que elas estiverem secas, acabado o processo de desinfecção, é que deverão ser colocadas no vaso para cultivo. São vendidas já prontas para uso também em lojas e sites especializados em floricultura.
Casca de árvores (placas)
A casca de um tronco ou de galho mais grosso que tenha sido podado (como a de peroba), pode ser aproveitada para o cultivo de orquídeas, de acordo com Gilberto Cardoso.
“A casca da árvore está sempre sujeita a deformações, mesmo depois de secar por muito tempo, em função da umidade e do calor. Nunca retire a casca de árvores vivas, pois isso poderá causar a sua morte”, avisa Cardoso.
Esfagno (musgo)
É um substrato que, se usado de maneira correta, retém água de forma equilibrada, evitando problemas nas raízes das plantas, diz o engenheiro agrônomo.
O Esfagno é ótimo para ser usado com mudas pequenas. Então, caso surja um keiki (mudinha) na orquídea e se queira replantá-la, ou, então, na hipótese da planta estar mais deteriorada, a ponto de ter ficado muito pequenina, o musgo esfagno pode ser a melhor opção para replantar esta orquídea. Isto porque este substrato mantém estável a umidade em torno da planta, sendo bastante apropriado para quando a orquídea está mais fragilizada e com poucas raízes.
Entretanto, se o esfagno estiver sendo utilizado como substrato principal, é fundamental tomar bastante cuidado para não encharcar a raiz, pois as orquídeas não suportam ficar úmidas em demasia e acabam morrendo. Assim, a dica é garantir que o esfagno esteja sempre úmido, mas nunca com água demais.
Pinha
Para que seja utilizada como substrato, de acordo com o agrônomo, a pinha precisa ser triturada e passar por um tratamento para eliminar o tanino e a resina, substâncias que “queimam” as raízes das orquídeas, levando-as à morte. “O tratamento consiste em deixá-las de molho na água, trocando-a com frequência, até que fique cristalina”.
Cardoso lembra que este substrato possui ótima drenagem e baixo custo, já que pode ser recolhido do chão ou apanhado dos pinheiros que arborizam parques, praças e jardins residenciais.
“No entanto, tem curta durabilidade (dois anos aproximadamente) e, por ser muito leve, não oferece muita estabilidade à planta, que pode tombar com facilidade”, avisa.
Argila expandida
Para Cardoso, a argila expandida pode ser utilizada para o cultivo de orquídeas, “desde que seja feita adubação química, pois se trata de um material inerte, ou seja, não fornece nenhum nutriente para a planta. Assim, requer o auxílio de adubos que trarão para as plantas os micronutrientes essenciais para sua sobrevivência”.
“A argila expandida é barro submetido industrialmente a uma alta temperatura e, por esse motivo, é limpo de pragas. É usada principalmente no fundo dos vasos para aumentar a drenagem, e/ou por cima de outro substrato, que, dependendo de qual for utilizado, não será obrigatório fazer adubação química para cultivar a orquídea”, salienta o especialista.
Carvão vegetal
De acordo com Cardoso, o carvão vegetal tem de ser empregado junto com outros substratos, “por ser inerte e não possuir os nutrientes necessários para as plantas se desenvolverem. O carvão já utilizado para outros fins não deve aproveitado para o cultivo”, adverte.
“Esse substrato garante uma boa aeração para as orquídeas, no entanto, devido à sua porosidade, tem tendência para acumular mais sais, sendo necessário, com o tempo, jogar bastante água para ‘lavá-lo’ devidamente”, recomenda o especialista.
Casca de macadâmia
A casca da noz macadâmia vem sendo muito empregada como substrato no cultivo de orquídeas, conjuntamente com o carvão vegetal e o esfagno.
“Orquidários de todo o Brasil têm utilizado este substrato, devido ao seu baixo custo e inúmeros benefícios, entre eles, ter durabilidade elevada e permitir boa aeração das raízes”, revela Cardoso.
“Mix” de substratos
A mistura de vários substratos é conhecida por “mix” e usada pela maioria dos orquidófilos para o cultivo desta flor. De acordo com Cardoso, dependendo do ambiente, o “mix” de substratos regula a umidade, drenagem e porosidade.
Podem ser comprados, já prontos para usar no cultivo, em lojas e sites especializados em floricultura.
Na dúvida?
Ainda há alguma dúvida sobre qual substrato utilizar? Apesar de não haver “o melhor”, o engenheiro agrônomo tem uma dica simples e eficaz: usar o substrato para orquídeas mais simples e disseminado, também vendido já pronto para uso: a casca de pinus picada misturada com coxim de coco e carvão vegetal. “Não há erro”, garante o especialista.
Outra boa dica é plantar as orquídeas em tocos de sansão do campo, colocando a parte mais velha da planta no lado inferior, para que ela cresça para cima.
Fonte: Site Pergunte ao Agrônomo