Sistema no Brasil ainda é utilizado a pasto, que acaba dependente das condições climáticas, impactando no crescimento de novilhas
A elevada idade das novilhas que chegam à puberdade e depois ao primeiro cio fértil, somada ao longo intervalo entre o primeiro e o segundo partos, é um dos principais problemas causadores da baixa eficiência reprodutiva do rebanho bovino brasileiro — a chamada recria, que é considerada atualmente o futuro mais promissor para o aumento da produção leiteira no Brasil.
Segundo o zootecnista Rafael Cervieri, doutor em Nutrição e Produção Animal, no País a recria ainda é realizada em regime de pasto. “Isto determina que o desenvolvimento corporal fique dependente das condições climáticas, apresentando períodos com bons ganhos de peso e outros com crescimentos lentos ou, até mesmo, perdas de peso, tendo como consequência direta a maior idade em relação à primeira cria. Não é raro novilhas parirem com quatro anos de idade por aqui, devido, principalmente, ao manejo incorreto na recria”, explica.
A idade da primeira cria é um parâmetro zootécnico de grande importância, por se tratar de uma medida de eficiência produtiva e reprodutiva de um rebanho, ressalta o especialista. “Desta forma, o objetivo é fazer com que a recria seja mais curta, para que as fêmeas estejam aptas à reprodução o mais breve possível.”
De acordo com Cervieri, existem sistemas em que novilhas cruzadas são inseminadas aos 15 meses de idade, parindo aos dois anos. “Agora, imagine uma fêmea procriando aos quatro anos de idade. Este animal irá passar cerca de três anos sem gerar renda alguma para o criador, nenhum bezerro para venda ou reposição”, alerta.
Neste contexto, informa o especialista, não é somente o manejo nutricional que determina a idade à puberdade ou à primeira cria. “Existe o componente genético que faz com que determinadas raças sejam mais precoces sexualmente e outras mais tardias.”
Puberdade
Cervieri relata que uma novilha atinge a puberdade quando apresenta o primeiro cio seguido de ovulação correspondente, com uma fase luteal normal. “Muitas vezes, a novilha não reproduz na primeira ovulação ou apresenta ovulação fértil, mas não demonstra sinais exteriores de cio.”
Ele destaca que existem consideráveis diferenças entre raças na idade ao primeiro cio. “Em média, as fêmeas zebuínas são de seis a 12 meses mais tardias que as taurinas.
Esta diferença é atribuída às variações genéticas existentes entre as duas raças. Em outras palavras, as novilhas possuem uma idade mínima geneticamente pré-determinada, quando atingem a puberdade.”
O zootecnista comenta que tanto a idade quanto o peso das vacas são fatores importantes na manifestação da puberdade, sendo que o nível nutricional surge como fator modificador de ambos. “Portanto, em níveis nutricionais mais baixos, o peso na puberdade será menor e a idade maior. Já nos mais altos, o peso será maior e a idade menor.”
Peso das novilhas
Segundo Cervieri, “consideramos que uma novilha está com peso ótimo, para reprodução, quando apresenta 60% a 65% do peso adulto”. Ele explica que “Novilhas taurinas (Angus,Charolês, Hereford, Limousin etc.) alcançam a puberdade com 60% do peso adulto; já as taurinas de raças de dupla aptidão (Pardo Suíça), com 55%; as zebuínas, com 65% do peso adulto”.
Cervieri exemplifica: o peso adulto médio de vacas da raça Nelore situa-se em torno de 450 quilos, portanto, uma novilha da mesma raça só estará apta a reproduzir quando chegar a cerca de 290 quilos (65% do peso adulto, na idade de 20 a 30 meses).
Animais com potencial genético para atingir peso adulto maior (raças continentais), detalha o zootecnista, devem ter maior peso antes de chegar à estação de monta. “As novilhas precisam atingir a puberdade de um a três meses, antes da primeira estação de monta, para melhorar suas chances de concepção. Isto porque os primeiros cios podem não ser férteis.”
Fonte: Beef Point
Taxa de mortalidade da recria
Os indicadores de importância na criação de animais jovens são a taxa de mortalidade e o ganho de peso diário, do peso à desmama. O primeiro caso mostra quantos animais morreram dentre os nascidos, em determinado período. As fases da criação devem ser divididas em períodos, analisando as taxas de mortalidade em cada um deles.
Geralmente, calcula-se este resultado da seguinte forma: número de animais que iniciaram o período, menos o número de animais que terminaram o período, divididos pelo número de animais que iniciaram o período e multiplicado por cem. Os dados são da Rehagro, instituição de ensino que, desde 2002, atua na formação de pessoas no agronegócio brasileiro.
De acordo com a instituição, uma vantagem desta análise numérica é poder visualizar a mortalidade por cada fase da recria e, com isto, saber em qual fase estará o problema, se houver, e em qual parte o pecuarista deve atuar. A desvantagem é que, como é preciso esperar o final do período para calcular as taxas de mortalidade, as falhas na criação só serão identificadas tardiamente.
Outro cálculo
Para evitar tais falhas, existe outra maneira de calcular este índice, levando em consideração quantos animais nasceram e morreram dentro de um mês. Para tanto, é necessário considerar a estação do ano, que pode ser favorável (seca) ou desfavorável (chuvosa) à criação de bezerras. Este índice, segundo a Rehagro, é bastante variável entre fazendas. Algumas propriedades rurais avaliadas tiveram índices altos de mortalidade — de 8% a 25% —, sendo que o ideal é trabalhar com metas abaixo dos 8%.
Neste cálculo, primeiramente, é preciso definir quantas novilhas devem ser recriadas em um ano e estar ciente de que a taxa de mortalidade precisa ser acumulativa, com cada perda subtraída da meta do ano. Desta forma, se em um mês o número de mortes for elevado, nos meses seguintes a soma delas não deve ultrapassar a meta anual.
De acordo com a instituição de ensino, a recria representa um grande peso no custo de produção, mas é o futuro do sistema, já que é a garantia de reposição e de continuidade do rebanho, além de ser resultado de cruzamentos que podem melhorar a qualidade genética do gado. Por isto, a criação eficiente da recria é fundamental para o sucesso do sistema de produção de leite.
Fonte: Rehagro
Terceirização da recria é alternativa para ampliar produção de leite sem aumento de custos
Técnica, que já chegou ao País e promete elevar os resultados da cadeia leiteira sem aumentar os custos aos pecuaristas, é recomendada pelo Sistema de Inteligência Setorial do Sebrae
Qual pecuarista não gostaria de aumentar a produção leiteira do próprio rebanho, sem elevar os custos financeiros para obter ganhos? Qualquer um. No entanto, o que poucos sabem é que é possível o sonho tornar-se realidade, bem mais próximo do que se imagina. A solução pode estar na terceirização do processo de recria, conforme defende o Sistema de Inteligência Setorial do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SIS/Sebrae), recomendada por meio do boletim “Centros de Recria – Melhoria e Aumento da Produção de Leite”, voltado para os produtores da cadeia de lácteos do País.
De acordo com o SIS/Sebrae, a fase da recria das fêmeas leiteiras — que vai do desmame até o primeiro parto, quando a vaca entra em processo de lactação — é considerada de alto custo para os produtores, pois demanda a utilização de uma parte da propriedade só para este fim e requer, também, cuidados especiais de manejo e alimentação.
Com a adoção da terceirização dos centros de recria, relata o boletim, é possível diminuir na propriedade o número de animais que ainda não estão produtivos. Esta prática, bastante utilizada nos Estados Unidos, começa agora a ganhar adeptos no Brasil. “Estima-se que, após passar pelo centro de recria, o aumento de produção seja de aproximadamente 50% já na primeira lactação.”
Como funciona
O produtor deve iniciar este processo por meio de parcerias com recriadores especializados, que ficam responsáveis pelo processo de recria em centros próprios. Eles devem seguir todas as normas técnicas com o intuito de obter a máxima resposta produtiva. Ao final do ciclo, os animais voltam à propriedade ou podem ser vendidos a terceiros.
A recomendação do SIS/Sebrae é que o processo seja acompanhado por um especialista, para garantir não só maior produção, mas também uma vida produtiva mais prolongada das fêmeas. Antes de ser levado aos centros de recria, é necessário fazer uma avaliação do rebanho, verificando as vacinas aplicadas, os atestados de tuberculose e brucelose, além do peso e da raça de cada animal.
A Embrapa Pecuária Sul (RS) criou, em parceria com a cooperativa de leite e extensão rural do Rio Grande do Sul, o Centro de Recria de Terneiras Leiteiras, na cidade de Bagé. As bezerras são recebidas com idade de seis a oito meses e voltam ao local de origem na fase de pré-parto. Neste espaço, os animais são pesados, dosificados e vacinados. O peso médio ganho é de 600 gramas por dia e voltam às suas propriedades com um peso médio de 500 quilos. O índice de prenhez destes animais é de 92%.
Recomendações
Para os produtores de leite que se interessarem por esta técnica, o SIS/Sebrae
recomenda:
- Acessar a publicação da Embrapa sobre “Bovinos de Leite — Criação da Terneira e da Novilha” para conhecer as principais recomendações de manejo (http://ow.ly/TJlyv);
- Conhecer o plano “Mais Pecuária” (http://ow.ly/TJlCS), do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa), que tem como objetivo aumentar de maneira sustentável a produtividade e a competitividade da pecuária de leite e de corte;
- Conferir a Agenda de Cursos da Embrapa Gado de Leite (http://ow.ly/TJlR9);
- Conhecer o programa “Produção de Leite de Qualidade” (http://ow.ly/TJlV4), fruto de uma parceria entre o Sebrae e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), a fim de promover maior qualidade na produção dos pequenos negócios.