Dona Maria Creusa de Araújo exibe seu bordado. O ofício remete à herança portuguesa trazida pelas mulheres dos colonizadores no final do século XVII e início do século XX
O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) concedeu, em junho deste ano, o selo de Indicação Geográfica (IG), na categoria Indicação de Procedência, aos Bordados de Caicó, produzidos em 11 municípios do Seridó, no Rio Grande do Norte, além do próprio município de Caicó. Todos de tradição na arte de bordar.
Os produtos que apresentam esse selo têm, por meio dele, uma chancela que indica a procedência do bordado, trazendo, com ele, seu “nome geográfico”, o que abrange país, cidade, região ou localidade reconhecidos por sua produção, fabricação ou extração.
No caso dos Bordados de Caicó, o processo para a certificação teve início em 2012 com o projeto Territórios da Cidadania Seridó. Em 2018, o Rio Grande do Norte entrou com o pedido de reconhecimento do bordado “como verdadeiramente de origem geográfica do Seridó Potiguar como local de produção atestado”, informou por nota o INPI.
“O selo de IG é um reconhecimento ao talento e trabalho valoroso das bordadeiras da região do Seridó, que conquistaram o país com a fama dos bordados de Caicó. É um diferencial para criar identidade e abrir novos mercados para o artesanato potiguar”, destaca o diretor Técnico do Sebrae-RN, João Hélio Cavalcanti.
Coube ao Sebrae a contratação de uma consultoria para atender as exigências do INPI para a obtenção do selo.
Herança cultural
Os conhecimentos e práticas sociais do bordado são transmitidos de geração a geração e estão enraizados no cotidiano da comunidade, tendo expressiva importância social, simbólica e econômica. No município de Caicó, por exemplo, os bordados dão o ponto na tão tradicional identidade local. Tanto que Caicó carrega o título de terra do bordado, se sobressaindo internacionalmente pela qualidade de seus produtos.
O ofício, como contam as próprias bordadeiras, remete à herança portuguesa trazida pelas mulheres dos colonizadores no final do século XVII e início do século XX. Os padrões tradicionais do bordado remetem, inclusive, aos da Ilha da Madeira, em Portugal, com flores, folhas e pistilos.
Por muito tempo permaneceu como passatempo e forma de demonstrar o cuidado e zelo das mulheres com o lar, mas pouco a pouco foi se tornando fonte de renda, o que impactou na forma de produzir. O bordado, antes feito à mão, passou a ser feito com máquinas de costura, na década de 1940.