A adoção de boas práticas específicas em refeitórios, na lavoura, transporte, alojamento, além do adiamento do início da colheita de 2020 no Estado do Espírito Santo, são algumas atitudes tomadas para conter a disseminação da Covid-19
Com o objetivo de preservar a vida dos trabalhadores rurais e de suas famílias, durante a colheita do café da safra deste ano, a qual terá início nas próximas semanas, o Governo do Estado do Espírito Santo – segundo maior estado produtor de café do País , atrás de Minas Gerais – divulgou a cartilha ‘Colheita do Café – Orientações para prevenção do novo coronavírus’, com o objetivo de orientar cafeicultores a adotarem medidas de prevenção do contágio do novo coronavírus (Covid-19).
A cartilha foi elaborada pela Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca – SEAG, em conjunto com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – INCAPER, entre outras instituições que assinam o documento.
Dessa forma, a cartilha fornece orientações gerais aos produtores de café, tais como medidas de prevenção do contágio do vírus, como a adoção de boas práticas específicas em refeitórios, no trabalho da colheita, transporte (que envolve o percurso entre a residência dos trabalhadores e a lavoura), alojamento, além de recomendações específicas para o início da colheita de 2020 no Estado do Espírito Santo e, ainda, esclarecimentos sobre os sintomas do novo coronavírus, diferenciando-os dos sintomas da gripe.
Atitudes que fazem a diferença
Especificamente em relação ao trabalho na colheita, a referida cartilha da SEAG-ES orienta, por exemplo, que deve ser mantida distância mínima de um metro entre os trabalhadores durante a colheita no campo, não devem ser compartilhadas ferramentas e equipamentos de colheita (peneiras, lonas, sacarias) e, também, deve-se utilizar estratégias como a divisão dos colhedores por talhões ou carreiras.
Acrescenta ainda que os produtores devem colher o café somente no ponto ideal de maturação (com maior percentual de frutos cerejas), para que o emprego de mão de obra seja otimizado, em decorrência do rendimento do café, especialmente nesse período de pandemia, e, quando possível, que seja realizada a colheita semimecanizada.
Além disso, a publicação do Governo do Estado do Espírito Santo recomenda que o banheiro dos trabalhadores deve ser instalado em um ambiente bem ventilado, higienizado diariamente e com disponibilidade de água e sabão para higienização das mãos e partes expostas e, finalmente, que devem ser higienizadas máquinas e equipamentos de colheita quando seus operadores forem se revezar nessa atividade.
Vale destacar que, para otimizar os trabalhos da colheita, a cartilha recomenda que o café seja colhido quando o talhão apresentar menos de 20% dos grãos verdes, o que contribui também para a obtenção de melhor rendimento do café e qualidade da bebida. Nesse sentido, a publicação demonstra que a redução de peso do café beneficiado pode chegar a 20,8%, caso 80% do café colhido esteja verde e, em contraponto, no caso de somente 10% do café colhido estar verde, a redução do peso será de apenas 2,6%.
Adiamento da colheita
Às vésperas do início da safra de café robusta (conilon) no Brasil, o Centro do Comércio de Café de Vitória defendeu que o início da colheita de café, realizada todos os anos em abril, seja postergada para maio, também por conta da pandemia do coronavírus. O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) também recomendou o mesmo.
“Estamos pedindo para o produtor esperar um pouco mais pra colher o café. Se o produtor colher o café um pouco mais à frente, ele terá um percentual de cereja maior, aí vamos melhorar ainda mais a qualidade”, disse à Reuters o pesquisador Abraão Carlos Verdin Filho, coordenador técnico de cafeicultura no Incaper, o órgão de assistência técnica do Espírito Santo, em entrevista a Reuters.
Já em Rondônia, a colheita dos primeiros grãos de café robusta da temporada 2020/21 foi iniciada. Segundo colaboradores do Cepea, até o momento, os trabalhos começaram apenas nas lavouras mais precoces, mas agentes esperam que as atividades avancem no restante dos cafezais até o final deste mês. Nesse cenário, alguns lotes de café novo já têm chegado ao mercado. Em Minas Gerais, os trabalhos já começaram na Zona da Mata, que antecipa a colheita devido às condições climáticas favoráveis ao cultivo, e no fim de maio se estendem às demais regiões, como Sul e Cerrado.
Fundos de financiamento
O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, contatou a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, na semana passada, solicitando a adoção de medidas efetivas por parte do Governo Federal que permitam a continuidade dos trabalhos no campo, assim como a manutenção dos empregos e da renda a produtores, cooperativas e trabalhadores.
“Temos plena noção da gravidade que o mundo enfrenta relacionada à pandemia do coronavírus (Covid-19), assim como da necessidade da manutenção de atividades essenciais à população, como os serviços de saúde, segurança, imprensa e, principalmente, do agronegócio, que são os profissionais que alimentam o mundo”, destaca Brasileiro.
Segundo ele, o momento exige cautela e é necessário que as recomendações das áreas de saúde de nossos governos estaduais e federal e da Organização Mundial da Saúde (OMS) sejam levadas a sério para mitigar a proliferação do vírus.
“Nossa solicitação está revestida de bom senso. Não queremos ninguém exposto ao risco, mas sim que amparemos nossos produtores e trabalhadores no exercício de seu labor, seguindo as orientações das autoridades sanitárias, de maneira que estejam protegidos e mantenham a locomotiva do agro, em especial do café, andando sobre os trilhos”, explica.
Entre os pleitos que o CNC levou ao Mapa está a celeridade na liberação de recursos aos cafeicultores e suas cooperativas. “Temos extrema necessidade da antecipação de recursos do (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira) Funcafé. Essa medida é essencial para que possamos honrar os compromissos com nossos fornecedores e trabalhadores, pois iniciamos a colheita”, argumenta.