Preservação dos recursos naturais em todo o mundo passa por várias ações cotidianas que, de modo geral, pode ser guiada pela regra dos 3 R’s: reduzir o consumo, reaproveitar e reciclar
Ao avaliar o grande esforço global quando o assunto é a preservação ambiental e a reversão das mudanças climáticas em todo o planeta, é natural que cada indivíduo se sinta impotente. Se muitos países e grandes potências ainda resistem a cuidar disso, em seus territórios, o que uma pessoa, sozinha, poderia fazer?
Fato é que pequenas atitudes podem resultar em uma grande transformação para o meio ambiente. E essa percepção deve ser o ponto de partida para atitudes diferentes no que diz respeito aos hábitos conscientes de consumo.
Segundo uma pesquisa feita pelo aplicativo O Quinto, 79% dos usuários do app acreditam que seus atos individuais ajudam, sim, o meio ambiente. No entanto, surge a pergunta: o quanto cada um está disposto a fazer?
O efeito acumulativo do consumo pessoal é o que torna tais mudanças superimportantes. “É justamente por esse somatório que nós chegamos a uma condição quase caótica do ponto de vista ambiental”, alerta Arthur Igreja, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em Inovação e Consumo.
Em entrevista ao blog d’O Quinto, ele diz ter conseguido ter esse senso de pertencimento de algo maior é fundamental. “Então, é muito importante que cada um pense no seu dia a dia, em suas emissões e no seu lixo desnecessário”, reforça Igreja.
Consumidor em transição
Realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), entre os meses de maio e junho do ano passado, com 87 pessoas de todas as capitais do País, mostra que a maioria dos brasileiros (97%) ainda tem alguma dificuldade em adotar práticas de consumo consciente.
Os principais entraves mencionados pelos entrevistados para a falta de hábitos mais responsáveis são alto preço dos produtos orgânicos (37%) e os obstáculos em separar o lixo para a reciclagem (32%). Além disso, 30% reconhecem não conseguir reduzir a quantidade de lixo gerado e outros 30% enfrentam barreiras em engajar os vizinhos nessa prática.
Segundo o levantamento, o brasileiro ainda é considerado um “consumidor em transição”, ou seja, mais da metade (58%) mantém práticas de consumo consciente, mas em frequência aquém da desejada. Já três em cada dez (29%) se encaixam como ‘consumidor consciente’, enquanto 13% somam os pouco ou nada conscientes.
Para acessar a pesquisa completa da CNDL, clique aqui!
Ajuda da população
O Quinto também ouviu o ambientalista e advogado e especialista em Direito Ambiental Alessandro Azzoni, que lembra a crise hídrica enfrentada no Estado de São Paulo, no ano de 2014, e como a contribuição da população, economizando água, possibilitou que fosse superada.
“Não havia água nos reservatórios e nem chuvas, só tínhamos a ameaça de racionamento, e o poder individual de cada consumidor representou no prolongamento dos reservatórios”, lembra o especialista.
Assumindo responsabilidades
A preservação dos recursos naturais passa por várias ações cotidianas e, em geral, pode ser guiada pela regra dos 3 R’s: reduzir o consumo, reaproveitar e reciclar.
Com o aumento da consciência ambiental, os consumidores e usuários do Quinto mostram que já estão percorrendo esse caminho. Um dado significativo, por exemplo, é que 54% responderam reciclar seu lixo.
Diante das gôndolas, a consciência ambiental também já é um fator decisivo de compra: 51% dizem optar por produtos ecologicamente corretos no supermercado e 63% afirmaram se preocupar em consumir produtos biodegradáveis.
Quando questionados se consomem ou consumiriam produtos apenas da sua região, como forma de ajudar ao meio ambiente, a resposta também foi favorável: 72% responderam que sim.
Até a recepção em torno das inovações tecnológicas é positiva entre os usuários do app. A pergunta “Você tem ou teria um carro elétrico para ajudar o meio ambiente?” teve como resultado 92% de aprovação.
Atitudes ainda fora da realidade
Mesmo com tanto posicionamento animador, os resultados do Quinto demonstram que algumas mudanças de atitudes não são realidades.
Isso porque, quando o assunto é o lixo eletrônico, por exemplo, 68% das pessoas que votam no app admitem que ainda não realizam esse tipo de reciclagem.
O uso de sacolas reutilizáveis no supermercado também não faz parte da rotina de 64% dos usuários d’O Quinto.
Também questionados se deixariam de consumir produtos de origem animal, pensando no meio ambiente, 47% afirmaram que sim, mas 53% não deixariam. E para a pergunta “Você deixaria de viajar de avião por conta da emissão de carbono? ”, 77% responderam que não.
Mudanças no mercado
Professor da FGV, Arthur Igreja avalia que, para que exista a disposição de mudar, é necessário ter a consciência sobre a necessidade urgente de preservação.
“O Brasil andou muito para trás nesse aspecto. Tem uma onda colocando em xeque a ciência e se isso está acontecendo de fato, apesar de evidências irrefutáveis”, lamenta.
Ele ressalta, no entanto, que os jovens estão mais abertos às mudanças. “Existe, do outro lado, uma nova geração com outro grau de consciência e uma preocupação muito grande. São consumidores cada vez mais empoderados em demandar isso da cadeia produtiva”, diz o professor da FGV.
Ele explica que a pressão do consumidor, mas também da legislação, motiva as empresas a oferecerem produtos cada dia mais ecologicamente corretos.
“Em algumas empresas há essa preocupação, mas em outras, ela foi imposta por leis e multas. Então, nem sempre as empresas tomam suas decisões puramente por consciência, mas por ser uma demanda ou do mercado ou de regulamentações”, avalia Igreja.
Como adotar o consumo consciente
Se algumas mudanças são mais fáceis para uns, para outros indivíduos elas acabam impraticáveis. Assim, a dica é avaliar o que pode ser modificado em sua própria rotina.
De acordo com O Quinto, talvez a pessoa não possa abrir mão de viajar de avião, por causa do trabalho, mas certamente pode adotar o uso de sacolas retornáveis e reduzir o consumo de carne, por exemplo.
Na hora da compra, especialistas afirmam que a informação é a melhor arma em favor do consumo consciente.
Ambientalista e especialista em Direito Ambiental, Alessandro Azzoni lembra que normas – como a ISO 14000 – regulamentam a gestão ambiental das empresas e determinam que os rótulos dos produtos tragam algumas informações importantes, que podem ser observadas pelo consumidor.
ISO 14000 é constituído por uma série de normas que determinam diretrizes para garantir que determinada empresa (pública ou privada) pratique a gestão ambiental. Essas normas são conhecidas pelo Sistema de Gestão Ambiental (SGA), que é definido pela International Organization for Standardization.
O “T” na cor preta e amarela e em forma de triângulo, por exemplo, simboliza os alimentos transgênicos e o símbolo da reciclagem permite saber que aquela embalagem é reciclável.
Azzoni também aconselha a pesquisar a postura das corporações: “Com a informação em nossas mãos, através do smartphones, poderemos verificar a ação das empresas em face do meio ambiente. Por isso, pesquise antes de comprar”.
Saiba mais
O Quinto é um aplicativo gratuito que conta com mais de 40 mil usuários cadastrados e foi criado para organizar e representar a opinião pública coletiva, por meio de enquetes, debates e informação de qualidade e está disponível na loja do seu celular.
Mais informações no site www.oquinto.org ou @appquinto.
Uma vida sem lixo
Dona do blog Uma vida sem lixo, que resultou no livro de mesmo nome, a designer gráfico Cristal Muniz decidiu parar, em 2014, de produzir lixo. “Quis tentar esse desafio depois de ler que a Lauren, do blog Trash is for Tossers, estava vivendo uma vida lixo zero e me encantei”, conta ela, em sua página online.
“Criei o blog, que antes chamava Um Ano Sem Lixo, porque fiz uma brincadeira com o blog Um Ano Sem Zara, que a Jojo ficou um ano sem comprar roupas e lá fui eu desbravar um mundo com menos desperdício.”
Cristal dá algumas dicas para quem quer começar a reduzir o próprio lixo:
- Comece um diário para anotar como se alimenta, ou quais cosméticos costuma usar, para perceber o quanto você consome. Após alguns dias, você saberá dizer o que pode ser mudado;
- Repense seus hábitos que de alguma forma colocam em risco nossas fontes de sobrevivência, como água, ar puro e alimentação;
- Crie o costume de ler embalagens de produtos para entender o que você está consumindo e qual é o caminho da cadeia de produção;
- Troca e aluguel são conceitos que estão em alta. Experimente dividir não só objetos, mas também conhecimento e trabalho
- Procure enxergar além do estado atual do objeto, todo o processo pelo qual ele passou até chegar a você, a fim de conservá-lo e evitar que ele tenha de ser substituído por outro
Fonte: O Quinto, CNDL e Blog Uma vida sem lixo