Programa da Embrapa, desenvolvido em parceria com a Qualcomm e com o Instituto de Socioeconomia Solidária, pretende tornar mais acessível o uso de drones por parte dos pequenos agricultores
Pesquisadores e iniciativa privada estão voltando sua atenção para os pequenos produtores rurais brasileiros, que poderão ter acesso à tecnologia de ponta, antes disponível somente aos médios e grandes agricultores.
A utilização de pequenos veículos aéreos não tripulados, nesse sentido, pode reduzir o impacto ambiental no campo, contribuindo para aumentar a produtividade da lavoura.
Para atender a essa proposta, foi criado o “Programa de Desenvolvimento de Tecnologias para o Uso em Drones para Agricultura Precisão”, voltado para esse perfil de homens e mulheres do campo.
Lançado em junho do ano passado, pela Embrapa Instrumentação, a iniciativa conta também com a parceria da Qualcomm Wireless Research e do Instituto de Socioeconomia Solidária (Ises).
Segundo Ladislau Martin Neto, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Instrumentação, o objetivo do programa é desenvolver um sistema de bordo inteligente, pelo qual o drone transmite ao agricultor, via celular, informações em tempo real sobre a sanidade da lavoura.
“Assim, é possível detectar com precisão focos de pragas, estresse hídrico, déficit de nutrientes, danos ambientais, entre outros problemas”, informa.
De acordo com o programa, a prioridade é ter o protótipo de um drone de baixo custo, para a agricultura de precisão, até o final de 2017. A ideia é que parte do processamento das imagens possa ser feita em tempo real, pelo próprio veículo não tripulado, aproveitando um processador embarcado da Qualcomm e enviado via 4G para um smartphone ou tablet do produtor rural.
Testes
O protótipo será testado durante dois anos, por um grupo de agricultores familiares selecionados pelo projeto. Após esse período, o coordenador das pesquisas com drones na Embrapa Instrumentação, Lúcio André Jorge, acredita que a expectativa seja lançar, comercialmente, uma solução que englobe tanto o drone quanto os softwares, a um preço próximo de R$ 5 mil.
“Para que seja acessível aos pequenos agricultores, provavelmente, será necessária a oferta de um modelo de negócios de drones como serviço”, prevê Jorge.
Depois do desenvolvimento de sistemas de bordo para drones, serão realizados testes de campo com os dispositivos e avaliações sobre seus impactos socioeconômicos.
“Assim, vamos comprovar que os drones podem permitir a adoção de medidas imediatas em favor do meio ambiente, reduzindo a consequência negativa das mudanças climáticas”, defende o coordenador das pesquisas.
Democratização da tecnologia
Presidente da Qualcomm para a América latina, Rafael Steinhauser, afirma que, além dos altos custos e da necessidade de técnicos e operadores especializados, o uso de computadores de alta capacidade faz com que os drones se tornem inacessíveis para a grande maioria dos agricultores brasileiros.
“Nossa ideia é produzir drones inteligentes e funcionais, que estejam ao alcance dos pequenos produtores. Queremos democratizar as informações e as tecnologias para aqueles que, de fato, representam a maior fatia deste setor produtivo”, defende Steinhauser.
Em sua opinião, com o aumento da demanda por alimentos no mundo, a agricultura de precisão se tornará cada vez mais importante e, nesse sentido, a tecnologia dos drones será uma ferramenta fundamental, especialmente em países de extensão continental como o Brasil.
“Esperamos resultados expressivos para o aumento da competitividade e da sustentabilidade da atividade agropecuária no País”, ressalta o presidente da Qualcomm para a América Latina.
Potencial
“Há um grande potencial para a utilização dos drones na agricultura e isso precisa ser explorado”, reforça o pesquisador Lúcio André Jorge, acrescentando que, os pequenos veículos não tripulados não são a única solução para os problemas que os produtores enfrentam com as lavouras, mas será uma ferramenta extremamente importante para esse processo.
“Essa parceria é uma grande oportunidade para que possamos, juntos, aprender e adequar essa tecnologia para a agricultura familiar, já que ela responde por cerca de 70% do que é consumido no País”, afirma Marcela Cardo, diretora do Instituto de Socioeconomia Solidária (Ises), instituição também parceira do projeto, ao lado da Embrapa Instrumentação e da Qualcomm.
Dados atualizados
Até o fechamento desta edição, os pesquisadores e parceiros envolvidos no projeto preferiram não repassar as informações atualizadas sobre o programa, por motivos de sigilo.
Por André Casagrande