Sócios da Arpac desenvolvem drone em “ecossistema” de startups, localizado em um parque tecnológico de São Leopoldo, Rio Grande do Sul
Como poucas crianças que almejam virar piloto de avião quando crescer, o empresário Eduardo Goerl, cofundador da Arpac – Aeronaves Remotamente Pilotadas de Alta Capacidade, conseguiu realizar seu sonho, mas um grave acidente aéreo, que quase lhe tirou a vida, mudou os rumos de sua história, anos mais tarde.
Da tragédia passando pela recuperação física e emocional, ele reuniu forças para continuar com sua profissão, que culminou na atual experiência como “construtor de drone”.
A ideia
“Em 2014, depois que meu amigo Cristiano Silveira (seu sócio) comprou um drone para fazer fotografia, ficamos pensando em possibilidades de uso daquele equipamento em outras áreas. Logo surgiu a ideia de fazer a pulverização agrícola com drones, considerando o alto número de acidentes”, relata Goerl, em entrevista à Revista A Lavoura.
O primeiro passo, segundo ele, foi averiguar quem já fabricava esses tipos de veículos aéreos: “Pesquisamos em diversos locais e nada encontramos. Procuramos no site do Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e nada. Foi aí que formulamos um pedido de patente”.
Depois desse registro, ele e o sócio começaram a idealizar um protótipo, em casa mesmo. “Investimos bastante tempo e recurso financeiro para isso. Ambos conciliávamos nossa ideia com os trabalhos regulares”, lembra o executivo.
Em setembro de 2015, Goerl e Silveira passaram a trabalhar na incubadora Unitec, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo (RS). Mas logo sentiram que a sala ficou pequena demais para um drone de três metros de diâmetro. Por conta disso, a dupla teve de buscar novas opções.
Startups
“Encontramos um ecossistema de startups em desenvolvimento e, dentro das possibilidades existentes, escolhemos o Parque Tecnosinos e a Incubadora Unitec, pelas pessoas que lá trabalhavam e pela oportunidade de voar no campus da Unisinos, em São Leopoldo”, relata Goerl.
A área envolve um parque tecnológico com empresas de setores semelhantes, “que buscam sinergias e os benefícios da cooperação”. “Nossa incubadora integra esse parque, que funciona exatamente como as ‘incubadoras de recém-nascidos’, só que voltado para empresas.”
“Inicialmente, a incubadora nos cedeu uma sala para colocar o protótipo e uma ajuda para escrever nosso plano de negócios, além de participar da seleção de startups. Fomos selecionados para a incubação e, desde então, temos recebido um monitoramento de resultados e diversos tipos de auxílio, que vão desde a formalização do negócio às conexões estratégicas importantes”, conta o executivo.
Busca de sócios investidores
Em dezembro de 2015, surge a startup Arpac – Aeronaves Remotamente Pilotadas de Alta Capacidade, depois que Goerl e Silveira receberam um investimento.
“Após conhecer a lógica do investimento por participação societária, começamos a buscar sócios investidores. Conversamos com muitas pessoas e chegamos a um interessado em ser ‘Investidor Anjo’.”
Segundo Goerl, a negociação durou três meses e, ao final, “saímos com recursos para um ano de trabalho de pesquisas e desenvolvimento de drones”. “O produto do investimento seria um projeto de drones para aplicação de químicos.”
Um ano depois
O ano de 2016 começou com novos desafios para a Arpac: “Iniciamos com dois engenheiros trabalhando para o projeto do drone de aplicação aérea de químicos em lavouras, mas como todo projeto de P&D, o incentivo era gerar e eliminar as incertezas”.
“Trabalhamos com diversos materiais para a fabricação da estrutura, diferentes componentes, muitos testes e algumas quedas, mas alcançando uma curva de aprendizado constante e valorosa. No final do ano passado, iniciamos uma segunda vertical de negócios, atuando com a aplicação de produtos biológicos, chamado Trichogramma. Desenvolvemos inteiramente um drone para essa aplicação e a empresa toda passou a safra 2016/17 no Estado de São Paulo, prestando serviço de aplicação aérea”, relata Goerl.
Planos
Com o término da safra, os sócios retornaram a São Paulo, para realizar o planejamento de 2017. “Em abril, participamos da competição Get In The Ring e fomos vencedores do prêmio, nacionalmente, o que nos garantiu vaga na final em Singapura. No mês seguinte, entramos para um programa de aceleração chamado Agrostart, parceira da ACE (maior aceleradora da América Latina) e da Basf. Essa aceleração consiste em estruturar a empresa e prepará-la para o crescimento”, informa o executivo.
Atualmente, a equipe da Arpac é composta por seis pessoas. “Vamos retornar a São Paulo para as aplicações de biológicos, com os parceiros locais, e também para testes com os mentores da ACE e da Basf”, informa Goerl.
Mesmo após a finalização do drone, a Arpac, por uma questão estratégica, decidiu que não comercializará o equipamento. “Ofereceremos apenas o serviço de aplicação aérea de defensivos.”
Definição de critérios
Para o executivo, a regulamentação do uso de drones feita pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e implantada em maio de 2017, definiu os critérios para aeronaves de diferentes portes no país.
“Hoje, temos até 25 quilos de peso total, não sendo necessário treinamento e certificação do operador. Acima de 25 quilos totais, é requerido um treinamento e as regras para acesso ao espaço aéreo levam em conta um prazo de 30 dias para autorização do voo, o que inviabiliza a operação agrícola”, comenta Goerl.
A Arpac, por esse motivo, trabalhará com um veículo remotamente tripulado (RPA) com peso máximo de 25 quilos, até quando for feita uma nova mudança da regulamentação. Para mais informações da empresa e seus produtos, acesse www.arpacbrasil.com.br.
Marjorie Avelar