Empresa cria biotecido de angico, material desenvolvido a partir de árvores nativas dos gêneros Piptadenia, Parapiptadenia e Anadenanthera, espécies já valorizadas pela madeira resistente e uso em reflorestamento (Foto:Divulgação/Mabebio)
Do desconforto com os impactos ambientais da moda nasceu uma nova proposta de futuro para o setor. A empresa Mabe Bio, criada pelas empreendedoras Marina Belintani e Rachel Maranhão, desenvolve um tecido inovador feito com plantas nativas do Brasil — e aponta um caminho promissor para a indústria de materiais sustentáveis no mundo.
A semente da ideia foi plantada no mestrado de Belintani no Royal College of Art, em Londres. Incomodada com a quantidade de resíduos gerados pela moda, ela decidiu investigar alternativas mais sustentáveis.
A resposta estava na biodiversidade brasileira, riquíssima e ainda pouco explorada como fonte de inovação industrial. A conexão com Rachel Maranhão, durante uma residência no fundo global de venture capital Antler, deu início à jornada empreendedora.
“Me apaixonei imediatamente pela pesquisa da Marina e percebi o potencial transformador da tecnologia que estava sendo desenvolvida”, lembra Maranhão, hoje CEO da Mabe.
Alternativas sustentáveis
A empresa criou então o biotecido de angico, material desenvolvido a partir de árvores nativas dos gêneros Piptadenia, Parapiptadenia e Anadenanthera. Já valorizadas pela madeira resistente e uso em reflorestamento, essas espécies agora ganham novo papel como base para um produto que pretende substituir o couro animal.
Mais do que uma simples substituição, o angico representa uma nova lógica produtiva.
“Nosso objetivo é substituir matrizes de materiais altamente poluentes por soluções com impacto socioambiental positivo e regenerativo”, explica Maranhão.
A proposta da Mabe Bio vai além do produto: reimagina toda a cadeia industrial, combinando tecnologia, natureza e inovação. “Desenvolver um biomaterial vai além do aspecto técnico: é preciso reimaginar toda a cadeia produtiva”, diz Belintani.
O desenvolvimento do angico ainda está em fase de pesquisa e testes, mas a meta é clara: alcançar um material competitivo em desempenho e custo. O desafio é grande, reconhece Maranhão.
“Envolve pesquisa constante, testes rigorosos e uma compreensão profunda das necessidades do mercado”.
Ainda assim, ela acredita que o angico é uma resposta real aos dilemas ambientais da indústria.
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Marcas globais como Adidas, Nike, Mercedes e BMW já buscam soluções sustentáveis, e a Mabe Bio quer se inserir nesse cenário com uma proposta escalável e genuinamente brasileira.
“Acreditamos que os grandes desafios do nosso tempo serão resolvidos pela ciência, pela criatividade e por uma profunda conexão com nossos recursos naturais”, afirma Maranhão.
A empresa aposta em uma mudança sistêmica, baseada em sustentabilidade profunda.
“Não basta criar um material alternativo, é preciso propor uma transformação sistêmica na forma como produzimos e consumimos.” Nesse sentido, o angico é símbolo e instrumento: nasce da floresta, respeita o ecossistema e mira o futuro.
O trabalho da Mabe conta com apoio importante de instituições como USP, Insper, Embrapii, Sebrae e Senai. “Esse apoio é fundamental”, diz Maranhão.
“Mostra que acreditamos no poder transformador da ciência e no potencial de jovens empreendedores para resolver desafios globais.” A startup já acumula reconhecimentos: foi selecionada pelo Programa Centelha em 2022, venceu o prêmio Fashion Futures do Instituto C&A em 2023 e recebeu o Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes, do Insper.
Para os próximos anos, a expectativa é de crescimento gradual.
“Não será uma revolução instantânea, mas um processo gradual de conscientização e transformação. Cada passo conta, cada escolha importa.” Até 2030, a meta é que materiais como o angico ocupem uma fatia relevante do mercado.
Fonte: Roseli Andrion | Fapesp