Pimentão tem sido exemplo de tratamento com controle biológico, por meio do Programa Colheita Segura
A aplicação de defensivos biológicos deve alcançar 15 milhões de hectares tratados no Brasil, até o final de 2017, considerando o número total de aplicações de produtos por área coberta. Esse é o cenário do mercado de controle biológico, que está vivenciando sua quarta revolução, e vem colocando o país como um dos líderes mundiais dessa etapa, ao atender grandes culturas em complementação ao uso de defensivos químicos tradicionais.
Consultor e pesquisador na área de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e diretor da BUG Agentes Biológicos, Alexandre de Sene Pinto ressalta que esse setor tem registrado um crescimento médio entre 16% e 20% ao ano. Os Estados que mais utilizam os biodefensivos são Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo.
De acordo com o especialista, produtos à base do fungo Trichoderma sp são os mais aplicados no Brasil, com volume superior a cinco milhões de hectares tratados. Tudo isso foi possível graças à expansão e aos avanços de tecnologias de produção, manejo e à adoção de inovações em campo.
“Em macrobiológicos, por exemplo, atualmente os drones são responsáveis por 35% da aplicação de 1,7 milhão de hectares de Trichogramma galloi. O avião ainda é o meio mais comum, com 50%”, informa Alexandre.
Pesquisa
O consultor apresenta uma pesquisa que mostra as razões pelas quais os produtores rurais adotam os produtos de controle biológico: 29% afirmaram ser pela ineficácia de agrotóxicos e transgênicos; outros dizem que são influenciados pela proibição de alguns defensivos químicos e pelo surgimento de novas pragas.
“Apenas 2% aplicam o produto por consciência ambiental, o que mostra que a questão da rentabilidade ainda é mais forte”, ressalta o pesquisador.
O especialista também ressalta, por outro lado, as barreiras para um avanço ainda maior dos biodefensivos, sendo que 51% delas estão ligadas à falta de informações sobre a tecnologia.
“Uma mudança forte de paradigma seria a inclusão obrigatória em universidades, com curso de Ciências Agrárias de uma disciplina de Tecnologia de Aplicação de Biodefensivos”, sugere.
Desinformação
Presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Glenio Martins de Lima Mariano acredita que esse desconhecimento é uma realidade que precisa ser modificada, de forma que a disseminação da informação alcance a todos os agricultores.
“Os agentes biológicos têm grande potencial de crescimento, mas em nosso universo (pequenos produtores rurais) são poucos os que possuem o domínio dessa tecnologia”, afirma Mariano.
Pimentão
Considerado vilão no que diz respeito à contaminação por agrotóxicos, após a divulgação do relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos (PARA), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o pimentão vem sendo alvo de ações do Programa Colheita Segura (PCS).
Em 2013, a cadeia produtiva do pimentão liderou a lista de alimentos mais contaminados por agrotóxicos, com 91,7% de inconformidades nas amostras analisadas. Diante desse cenário, o PCS surgiu com o intuito de assegurar uma colheita com segurança, por meio do repasse de Boas Práticas Agrícolas (BPA), aos produtores, e um manejo consciente para essa cultura, objetivando o uso preferencialmente de produtos biológicos.
“Nós damos orientações quanto às novas práticas de manejo, que atendam às Boas Práticas Agrícolas. Explicamos sobre a importância e como utilizar apenas insumos com registro e a aplicação de doses de acordo com o que recomendado pela legislação”, explica Francisco Pezzato, gestor do Programa do Grupo MNS, responsável pelas visitas e orientações junto aos produtores.
Por meio do projeto, foram produzidas 1.920 toneladas de pimentão, com resultados com 100% de conformidade em relação aos produtores que receberam a orientação desde o início da cultura.
Para alcançar o feito, foram realizadas mais de mil visitas técnicas e mais de cem pessoas foram capacitadas em BPA. Houve ainda um emprego maior de defensivos biológicos, que passou a 31% contra 3% antes do início do PCS.
De acordo com Thiago Ezio Moreira, gestor de qualidade do Grupo MNS, foi registrada uma queda de cerca de 50% tanto no uso de fungicidas quanto de inseticidas.
Programa Colheita segura
O pimentão (Capsicum Annuum L.) é uma das hortaliças de maior consumo no Brasil, principalmente pela região Sudeste, sendo comercializado como fruto verde, vermelho, amarelo, laranja, creme e roxo. Seu valor nutritivo, para consumo in natura deve-se, em grande parte, à presença de vitaminas, especialmente a vitamina C.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), São Paulo e Minas Gerais são os principais Estados produtores, respondendo por cerca de 40% da produção nacional.
Para recuperar “o bom nome” do pimentão, após a divulgação do relatório da Anvisa, o Grupo MNS, em conjunto com a empresa de tecnologia catarinense PariPassu, iniciou um trabalho de desenvolvimento e fortalecimento da cadeia produtiva e de abastecimento da cultura dessa hortaliça, em maio de 2016, no município de Pilar do Sul (SP) e região vizinha.
Assim surgiu o Programa Colheita Segura, um projeto que começou com a escolha de alguns produtores fornecedores do Grupo MNS para uma produção mais sustentável e menos agressiva, proporcionando benefícios ambientais, sociais e econômicos.
O uso de produtos biológicos como o uso de armadilhas para o monitoramento populacional de insetos, está revertendo a contaminação da cultura.
Escolha criteriosa
De acordo com o MNS, a escolha dos produtores é bem criteriosa, “levando em consideração a vontade pela busca de melhorias na produção agrícola de cada produtor obviamente, junto à disposição de cada um para aceitar as novas mudanças e hábitos culturais no campo, fortalecendo a colheita com a entrega de um produto diferenciado e seguro ao consumidor final”.
O principal objetivo do projeto é assegurar uma colheita com segurança, por intermédio do repasse aos produtores com as boas práticas agrícolas, com foco no manejo consciente para a cultura.
“Realizar um plano de medidas, voltadas para diminuir o uso desordenado de defensivos químicos na produção agrícola convencional, é um caminho que o PCS vem traçando.
Com ferramentas, podemos buscar esse manejo, para que possamos promover um equilíbrio entre as plantas e os organismos, explica o executivo.
Ainda segundo Pezzato, “com o monitoramento, buscamos avaliar o nível de população, tanto da praga ou doença como dos inimigos naturais, por meio de medidas da população almejando evitar ao máximo o uso destes produtos de forma indiscriminada no sistema de produção”.
Preferencialmente, o produtor que adere ao PCS deve utilizar produtos biológicos, ou quando necessário, os insumos químicos que tenham, obrigatoriamente, o devido registro para a cultura em produção. Ainda deve associar técnicas que visem ao controle eficiente no campo, com custo baixo e mínima contaminação ambiental, por meio de técnicas de tecnologia de aplicação.
Ao longo do ciclo da cultura do pimentão em estufa todos os produtores são submetidos às visitas técnicas de acompanhamento pelo técnico de campo da empresa MSN, Francisco Pezzato, e o agrônomo Eduardo Sugawara, que dá apoio profissional ao grupo de produtores, com orientações sobre as técnicas de produção integrada para condução mais saudável da planta em ambiente controlado, dispondo das alternativas biológicas, químicas, adubações e orientações de infraestrutura da produção.
Como é do conhecimento de todos, o uso indiscriminado de insumos químicos representa um risco potencial para a saúde humana. Assim, uma das regras básicas do Programa Colheita Segura é a de que todos os produtores tenham seus produtos coletados e submetidos às análises de resíduos químicos por laboratórios certificados.
Essas análises de resíduos no pimentão têm por objetivo identificar os ingredientes ativos utilizados a campo pelos produtores, a fim de detectar o tipo de manejo pelo uso e quantidade usados na cultura.
A definição de resíduo químico se dá pela presença destas substâncias nas culturas, resultantes de seu mau uso. A Anvisa estabelece quantidades que são consideradas seguras para a saúde do consumidor, com base na ingestão diária máxima teórica (IDMT), que estima a quantidade máxima de resíduos químicos em alimentos que, teoricamente, um indivíduo ingere diariamente. As taxas aceitáveis nos alimentos são medidos pelo Limite Máximo Residual (LMR), que é a quantidade máxima de resíduo de agrotóxico aceita no alimento, em decorrência da aplicação adequada, desde sua produção até o consumo.
Para mais informações sobre o Programa Colheita segura, acesse www.agromns.com.br/diferenciais.
Fonte: ABC Bio e Grupo MNS