Curativos fabricados com resíduos de algas poderão revolucionar medicina (Foto: Divulgação)
Cicatrizar rapidamente as mais diversas feridas. Criar novos esparadrapos e tecidos para uso hospitalar. Tudo a partir das ricas algas, famosas por possuírem inúmeros compostos químicos e curadores. Produzir materiais que sejam mais aderentes aos medicamentos, e que naturalmente facilitem a cicatrização. Tudo isso faz parte da pesquisa da biotecnologista Bruna Rodrigues Moreira.

Na agricultura, ao fertilizar culturas como milho e soja, as algas produzem efeitos de proteção das plantas, em especial para reagirem às mudanças climáticas. Foto: Divulgação
A alga em questão tem o simpático nome técnico de Kappaphycus alvarezii, e possui coloração em tons vermelhos e verdes. Os primeiros exemplares desta alga, que veio da Ásia, começaram a ser cultivados em Santa Catarina em 2020, e se adaptaram ao clima brasileiro. Atualmente a produção da espécie em Florianópolis é utilizada para a fabricação de biofertilizantes e bioestimulantes para a agricultura. No entanto, há um resíduo riquíssimo em substâncias diversas, que tem sido descartado.
É justamente desse material que serão produzidos os tecidos farmacêuticos. A biomassa dessa alga apresenta substâncias diversas que podem ser utilizadas para além da indústria farmacêutica, pode ter aplicações, cosméticas e alimentícias, para nós seres humanos e para diferentes animais, aquáticos e terrestres.
Para se ter uma ideia de alguns dos produtos que podem ser desenvolvidos a partir de algas podemos citar pasta de dentes, loções, embutidos como presuntos e produtos lácteos como sorvetes, iogurtes e ração animal. Já na agricultura, ao fertilizar culturas como milho e soja, as algas produzem efeitos de proteção das plantas, em especial para reagirem às mudanças climáticas, como de temperatura, em especial nas ondas de calor, por exemplo.
Carragenana
Ao decompor os resíduos é possível separar a chamada carragenana. Trata-se de uma espécie de carboidrato formado por açúcares. Esses compostos têm funções vitais e acumulam energia. O material forma uma espécie de gel, que pode também ser transformado em novas tecnologias para o tratamento de feridas.
Devido a sua forma, é possível incluir moléculas antimicrobianas, que podem facilitar a cicatrização de diversas feridas, como as ocasionadas por diabetes, ou mesmo queimaduras. O estudo aponta a possibilidade de diminuição de casos de infecção das feridas.

O estudo aponta que gel obtido com os resíduos das algas pode contribuir para a diminuição de casos de infecção de feridas causadas por diabetes e queimaduras. Foto: Divulgação
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O que são algas e qual sua importância para o ecossistema
As algas são encontradas em diversos ambientes, como por exemplo, no mar, lagos, rios, e podem ser cultivadas inclusive em aquários de água doce e fazendas marinhas. A grande diversidade de cores mostra claramente que são muito ricas em diferentes compostos. São importantes para a natureza porque absorvem gás carbônico, além de produzirem oxigênio e atuarem na mitigação das mudanças climáticas.
Por fim, Bruna afirma que a produção poderá ser em larga escala, tendo em vista que está utilizando somente os resíduos. “Como a alga é cultivada, dependendo do interesse da medicina e da indústria farmacêutica, será facilmente possível ampliar a produção nas chamadas fazendas de algas”, conclui a especialista.