Tecnologia licenciada foi capaz de eliminar em testes 100% das larvas do mosquito da dengue. Em sentido horário, óleo essencial de tomilho, partículas secas do larvicida, os grãos mergulhados em água e a pasta de amido de milho (Foto: Pedro Amatuzzi / Inova Unicamp)
Uma erva aromática com amplo uso na culinária pelo seu sabor e, na medicina natural, por sua ação bactericida e desinfectante, poderá se somar ao arsenal hoje empregado para combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
A solução nascida nos laboratórios da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA-Unicamp) tem como princípio ativo o óleo essencial de tomilho (Thymus vulgaris), também conhecido por seu efeito larvicida.
Protegida por patente, a tecnologia foi licenciada em 2024 para a empresa Zöld Brasil, de Santana do Parnaíba (SP), dedicada ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para controle de pragas urbanas e vetores de doenças. O processo de liberação comercial do produto com as autoridades regulatórias está em andamento.
Em testes laboratoriais e de campo, feitos com o apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da prefeitura de Adamantina (SP), o produto foi capaz de eliminar 100% das larvas do mosquito em até 48 horas, de acordo com a engenheira química Ana Sílvia Prata, que liderou o estudo.
O desenvolvimento do larvicida, indicado para pequenos focos domésticos do mosquito, como garrafas, pneus, plásticos e vasos, teve início há nove anos e recebeu apoio da FAPESP. Um artigo apresentando a inovação foi publicado na revista Industrial Crops and Products, em 2019.
“A principal novidade da tecnologia é o carreador – no caso, a matriz de amido que desenvolvemos para encapsular e liberar gradualmente o óleo de tomilho –, e não o princípio ativo em si”, explica Prata.
“Na literatura, diversos óleos essenciais e extratos naturais têm ação larvicida. A questão é como aplicar em campo e obter a eficiência desejada.”
Desafios no processo

Tomilho: além do uso na culinária, tem ação bactericida e inseticida. Foto: Pharmattila / Wikimedia Commons
De acordo com a pesquisadora, muitos óleos essenciais não são eficazes na prática por serem pouco solúveis em água e conterem moléculas de baixa massa molecular, o que lhes confere alta volatilidade.
“Isso dificulta sua aplicação em meio aquoso, onde as larvas se desenvolvem. A volatilização reduz ainda mais sua eficácia com o tempo.”
A saída encontrada pela equipe da Unicamp foi criar um invólucro para o óleo de tomilho com partículas biodegradáveis de amido de milho.
No formato de um grão com cerca de 5 milímetros de diâmetro, o larvicida tem vida útil estimada superior a quatro anos e se comporta como o ovo de Aedes, que resiste por 15 meses a dois anos em estado seco. Quando entra em contato com a água, inicia-se o processo de eclosão da larva, que demora cerca de três dias.
A fase do ovo é muito resistente, o que torna difícil atuar sobre ela, afirma Prata. O mesmo não ocorre com a larva, mais suscetível e menos móvel do que o mosquito adulto.
“A partícula foi projetada para afundar na água e liberar lentamente o óleo, de forma que, após três dias, a concentração seja suficiente para matar as larvas. Com isso, não é preciso usar grande quantidade do ativo, pois sua liberação é otimizada”, diz a pesquisadora.
Ela acrescenta que, uma vez que o larvicida seja colocado no recipiente, é liberada apenas uma parte do óleo encapsulado no larvicida, principalmente em razão do limite de solubilidade do composto em água.
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Depois que a água evaporar, é possível reutilizar a mesma partícula até cinco vezes, pois ela resiste a ciclos de chuva e seca. A liberação do ativo sempre dependerá do volume de água no recipiente.
“A forma proposta de liberação gradual do princípio ativo, o timol, acaba estendendo o seu efeito, o que é muito interessante, assim como a estabilidade da formulação”, analisa o biólogo Cláudio von Zuben, do Departamento de Biodiversidade da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, que não fez parte do estudo, mas já participou do desenvolvimento de outros larvicidas contra Aedes aegypti.
“Uma das limitações da inovação seria seu uso apenas em pequenos focos, como vasos, garrafas e plásticos. Por outro lado, são os mais importantes em ambientes domésticos.”
Além de Prata, a equipe responsável pelo projeto foi composta pelo químico e tecnólogo em alimentos Marcio Schmiele, a engenheira de alimentos Juliana Dias Maria e Johan Bernard Ubbink, pesquisador da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia (Cal Poly), nos Estados Unidos.
Os pesquisadores foram premiados na categoria Propriedade Intelectual Licenciada no Prêmio Inventores 2025, promovido pela Inova Unicamp, a agência de inovação da universidade.
A expectativa é colocar o produto no mercado em breve
“Avançamos com o processo regulatório na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Estamos realizando os testes laboratoriais exigidos e atualizando a documentação para que os ativos utilizados na formulação do larvicida sejam enquadrados como desinfestantes ou inseticidas; hoje, são considerados compostos aromatizantes ou desinfectantes”, destaca César Xavier, cofundador e diretor da empresa.
Concluída a aprovação regulatória, a Zöld projeta iniciar a produção em escala e disponibilizar o produto comercialmente no primeiro semestre de 2026.
O passo seguinte será a internacionalização do larvicida. “Já analisamos a legislação de outros países e identificamos um grande potencial de mercado no exterior, com a possibilidade de obtenção de licenças de comercialização em prazos mais curtos do que no Brasil”, afirma Xavier.
Fonte: Fapesp/ Yuri Vasconcelos