Tecnologia simples e de baixo custo, se baseia na medição e na interpretação da integridade biótica de ambientes naturais
Estudo conduzido por pesquisadores da Embrapa, em quatro fazendas produtoras em Conchal, Mogi Mirim e Itapira, na região paulista da Baixa Mogiana, comprou o bom resultado do uso de amostradores com substrato artificial na colonização de macroinvertebrados bentônicos em viveiros de tilápias.
Segundo a pesquisa, a alternativa simples e de baixo custo, é eficiente para o monitoramento, principalmente porque as diferenças na qualidade da água e na fauna bentônica podem estar relacionadas às práticas de manejo, como a presença de grama nos bancos dos viveiros e a de mata ciliar próxima a estes.
Substrato artificial
Como os viveiros não possuem substratos semelhantes aos corpos d’água naturais, o uso de substrato artificial auxilia na padronização da área de amostragem e tempo inicial de colonização, na redução da variabilidade, o tempo de processamento, nos custos operacionais e na maior precisão dos dados, além de serem fáceis de fazer e manusear.
Como os amostradores são feitos por materiais de baixo custo, são menos dependentes das condições de cada tanque ou do piscicultor, permitindo a comparação entre eles, segundo a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Mariana Silveira Moura e Silva.
“O biomonitoramento se baseia na medição e na interpretação da integridade biótica de ambientes naturais, por meio de mudanças na abundância, diversidade e composição de grupos de organismos indicadores que dependem de condições específicas para sua sobrevivência”, esclarece Mariana.
Amostragem
Os invertebrados aquáticos têm sido utilizados para avaliar as condições ambientais devido à sua abundância, facilidade de coleta com equipamentos de baixo custo, baixa mobilidade e preferência por habitats e condições ambientais específicos. A partir da fauna amostrada, é possível calcular o número de indivíduos, porcentagem de organismos tolerantes e sensíveis, diversidade da comunidade e equidade.
“Assim, é possível integrar impactos de mais longo prazo, em comparação com as análises físico-químicas. Porém, ainda não existem protocolos ou índices baseados em organismos bentônicos desenvolvidos para viveiros no Brasil”, explica a pesquisadora.
A área foi escolhida por causa da alta concentração de produtores de tilápia-do-nilo e das pisciculturas selecionadas, com base em práticas semelhantes – densidade de estocagem, conteúdo nutricional das dietas e manejo alimentar. As criações foram monitoradas de fevereiro a maio de 2016.
Diferenças
Apesar de os piscicultores utilizarem as mesmas práticas de manejo e alimentação (32% de proteína bruta das dietas), foram observadas diferenças significativas para todos os parâmetros físicos e químicos de qualidade de água.
“No entanto, como a qualidade da água foi boa para o desenvolvimento da tilápia, atendendo aos limites preconizados para a criação dos peixes, acreditamos que ainda não seja possível associar um bioindicador a uma condição específica de qualidade da água, principalmente para oxigênio dissolvido, que é um parâmetro chave para a sobrevivência dos peixes”, analisa a pesquisadora.
“É preciso ampliar o número de pisciculturas estudadas, incluindo propriedades com extremos de qualidade de água, para que se possa propor um índice biótico para viveiros escavados”, acrescenta.
Produção mundial
De acordo com a FAO, em 2019 os peixes de água doce cultivados atingiram 758 mil toneladas e a tilápia foi a principal espécie cultivada, com 57%. O Brasil foi o quarto maior produtor do mundo, com expectativa de crescimento de mais de 32% até 2030, onde os viveiros são o sistema de criação mais popular, representando uma área de 194 mil hectares.
“Esse crescimento precisa estar associado à sustentabilidade e o monitoramento da qualidade da água é essencial, ressalta a pesquisadora.
Resultados
O dados coletados no neste estudo estão no site BioAqua-viveiros escavados (http://bioaqua.cnpma.embrapa.br). O sistema também é descrito em uma publicação, com dados, fotos e desenhos dos organismos bentônicos, facilitando o reconhecimento dos grupos bioindicadores.
O estudo é de Mariana Guerra Moura e Silva, Marcos Losekann, Alfredo Luiz, Josilaine Kobayashi e Hamilton Hisano, da Embrapa Meio Ambiente, e está disponível nno link (https://link.springer.com/article/10.1007/s10661-022-10257-8).