Startup IAgro pretende ser líder em soluções automatizadas nas lavouras, disponibilizando análises de ataques de pragas e doenças para culturas agrícolas anuais
A abordagem tradicional do setor agrícola passa por uma transformação fundamental, especialmente a partir da chamada “agricultura 4.0”. A primeira revolução tecnológica no campo fez avanços impressionantes, mas o desempenho dessas tecnologias, bem como sua eficiência, está decrescendo.
Daí a necessidade de desenvolver novas soluções tecnológicas, conforme ressalta o engenheiro agrícola Andrei Grespan, co-founder e CEO da startup IAgro – Inteligência no Agronegócio.
Para auxiliar os produtores rurais, a empresa desenvolveu um sistema específico para o monitoramento digital de pragas nas lavouras: o Sentinela.
Startup de soluções inteligentes
Criada em 2017 por três jovens empreendedores, a startup, que funciona em Campinas (SP), pretende ser líder em soluções de detecção de pragas, de maneira totalmente automatizada, disponibilizando análises preditivas de ataques de pragas para culturas agrícolas anuais.
A empresa, além do diretor executivo e CEO, Andrei Grespan, que tem 26 anos, ainda conta com o trabalho de outros dois sócios: o também engenheiro agrícola e COO/diretor de operações da IAgro, Hugo Rafacho Fernandes, de 33 anos; e o tecnólogo mecânico e CTO/diretor de tecnologia da startup, Fabricio Theodoro Soares, 27.
Premiação
Em novembro do ano passado, a IAgro foi uma das dez empresas a receber o “Prêmio Tecnologias de Impacto – Novas Soluções Wireless e IoT” (Internet das Coisas), realizado pela Qualcomm, com o apoio da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL).
“O mais interessante é que nossa solução foi a única da área do agro, dentre os vencedores”, destaca Grespan que, ao lado dos dois sócios, criou o sistema Sentinela.
O sistema
Essa moderna tecnologia monitora as pragas por meio de equipamentos inteligentes, instalados e distribuídos estrategicamente em campo. “Esses dispositivos fazem a atração das espécies para seu interior e, com o uso de visão computacional e técnicas de inteligência artificial, as espécies são classificadas”, explica Grespan.
“Com a utilização de sensores microclimáticos, instalados no equipamento, coletamos dados climáticos e cruzamos com o comportamento das espécies. A solução é capaz de predizer a ocorrência de novos focos de infestação para as áreas onde estão instalados.”
Segundo o CEO da IAgro os dados do monitoramento são entregues ao usuário final (produtor), por meio de um aplicativo móvel. Nele, o produtor pode acessar relatórios diários e receber alertas de ações com informações precisas de onde e quando agir.
De acordo com o executivo, “a plataforma do sistema Sentinela é uma poderosa ferramenta de melhoria de rendimento, que permite aos produtores avaliarem e responderem às condições de insetos-pragas e doenças em tempo real”.
“O sistema de monitoramento inteligente de pragas agrícolas fornece indicações, também em tempo real, da ocorrência de pragas na lavoura”, acrescenta o jovem empreendedor, que é filho de um produtor de soja.
Segundo Grespan, a precisão fornecida pelos dados de monitoramento, coletados diretamente do campo pelas armadilhas inteligentes, adicionadas ao processamento de dados, aumentará exponencialmente a qualidade e a viabilidade da tomada de decisão dos agricultores.
Atualmente, o monitoramento de pragas em campo ainda é feito com o envio de pessoas para fazer a contagem e a identificação das espécies. Independentemente do método utilizado hoje, a agricultura moderna requer determinações precisas e rápidas dos níveis populacionais das pragas presentes nas lavouras, podendo os métodos atuais serem lentos e imprecisos, se comparados com a dinâmica populacional de determinadas espécies.
“As armadilhas inteligentes instaladas na lavoura, por meio do sistema Sentinela, atraem, quantificam e qualificam, de maneira precisa, as espécies capturadas em cada talhão da plantação, de forma ininterrupta. Os equipamentos são completamente autônomos e funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana”, garante o executivo.
Dados em campo
Conforme o CEO da IAgro, ao final de determinado período de tempo especificado pelo usuário, os dados são enviados dos equipamentos em campo para a “nuvem”. “Hoje, enviamos os dados em campo de forma regular, duas vezes ao dia.”
Depois de serem enviadas do campo para os servidores, as informações ficam prontamente disponíveis para consulta, em um ambiente de web protegido (dashboard web), local em que estão todas as informações coletadas dos equipamentos, naquele dia, além do registro de todas as safras passadas.
“Esses dados, além daqueles disponibilizados em forma de relatório na web, podem ser acessados pelo aplicativo. Adicionado a isso, um sistema de alarme informa o usuário caso ocorra uma situação de aumento de pressão de pragas. Esse alarme é definido pelo próprio produtor ou pelo agrônomo consultor da fazenda.”
Fase de testes
Com a coleta de dados em campo e a utilização do aplicativo Sentinela – que está previsto para ser disponibilizado nas lojas virtuais, a partir do segundo semestre de 2018, bem como o Sentinela Web –, “entregaremos ao produtor a visão, em tempo real, de todas as áreas geridas, além de darmos suporte para a realização do benchmark entre manejos, áreas, regiões e variedades”.
Vale ressaltar que benchmark é a ação de comparar a performance e o desempenho relativo de um objeto ou produto, por meio da execução de um programa de computador.
“Hoje, nossa tecnologia ainda está em fase de testes no monitoramento do bicudo-do-algodoeiro, em unidades produtoras de algodão no Estado de Mato Grosso; e no monitoramento da broca-da-cana, em usinas de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, e em testes internos na cultura da soja”, informa Grespan.
Mais projetos
Ele informa que a IAgro ainda possui novos projetos em andamento: “Atualmente, temos um projeto em análise na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para o desenvolvimento de uma solução de monitoramento de lagartas”.
“Estamos, além disso, em diálogo com grandes indústrias e centros de pesquisa do setor florestal, para o desenvolvimento de uma solução específica para o monitoramento de pragas na produção de eucalipto”, adianta o executivo.
Desafios no meio rural
A ideia de criar o Sentinela também surgiu da necessidade de oferecer soluções práticas e mais acessíveis para quem produz alimentos no Brasil e precisa garantir, além da própria renda, a segurança alimentar no País e no mundo.
“Precisamos produzir 70% mais de alimentos até 2050, usando menos energia, fertilizantes e pesticidas, reduzindo os níveis de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e enfrentando as mudanças climáticas. Em suma, devemos maximizar o potencial das tecnologias existentes e novas devem ser geradas”, analisa Grespan.
Na visão dele, a atual revolução agrícola (agricultura 4.0 ou agricultura digital) “deve ser verde e pautada na ciência e na tecnologia”.
“A agricultura 4.0 precisará examinar ambos os lados, tanto o da demanda e da cadeia de valor, quanto da oferta de alimentos, utilizando tecnologias que possam melhorar e atender às necessidades reais dos consumidores, ajudando, assim, no processo de reengenharia da cadeia de valor do agronegócio”, avalia o CEO.
Fazendas ‘digitais’
Segundo Grespan, as fazendas “digitais” também contaram com o apoio dos avanços de tecnologias de outros setores: “Aqui, podemos destacar o acesso ao uso de sensores, transmissores, controladores e processadores. Com o auxílio dessas ferramentas, permite-se que as propriedades sejam mais lucrativas, eficientes, seguras e ambientalmente adequadas”.
A agricultura 4.0 procura eliminar a aplicação de água, fertilizantes e pesticidas de maneira uniforme na fazenda. “Em vez disso, os agricultores usam as quantidades mínimas, ou mesmo as removem completamente, da cadeia de suprimentos, chegando ao ponto da agricultura de ‘ultraprecisão’”, ressalta o jovem empreendedor.
Novas tecnologias no campo
Ele aponta, diante desse cenário, as recentes aplicações interindustriais de novas tecnologias no campo:
- Internet das Coisas (IoT): um exemplo é o sistema Watson da IBM, que aplica a aprendizagem de máquinas (machine learning) em dados de sensores e drones, transformando sistemas de gerenciamento comuns em sistemas de IA (Inteligência Artificial) reais.
- Decisões baseadas em dados: ao analisar e correlacionar informações sobre clima, variedades genéticas, qualidade do solo, probabilidade de doenças, dados históricos, tendências do mercado e preços, os agricultores podem tomar decisões muito mais assertivas.
- Chatbot: trata-se de um assistente virtual ou digital, atualmente usado nos setores de varejo, viagens e mídia. Esses assistentes pessoais auxiliam os produtores com respostas e recomendações sobre problemas específicos, de maneira rápida e precisa.
Acesso do produtor
Para Grespan, na maioria das vezes “o produtor rural precisa enxergar o valor que a tecnologia gera para, então, adotá-la, seja ela qual for”.
“No campo, ao contrário de outros setores produtivos, a assimilação da revolução digital ocorre de maneira mais modesta. Exemplo disso é que apenas 15% da agricultura brasileira adotam algum instrumento do pacote de agricultura de precisão, embora essas tecnologias estejam presentes no mercado há mais de uma década”, comenta o executivo.
Novas gerações
Na opinião do CEO e diretor executivo da IAgro, outro ponto que desafia a implementação de novas tecnologias nas lavouras é a restrição e, em parte, certo receio dos produtores mais tradicionais, que têm mais dificuldades em assimilar e implantar grandes mudanças em seus processos já consolidados.
“Com a chegada e o envolvimento das novas gerações no campo, no entanto, vemos esse cenário mudar gradativamente, porque elas apresentam grande capacidade de se adequarem às novas tecnologias, com uma visão mais moderna de gestão, buscando elevar ainda mais a produtividade e, consequentemente, a rentabilidade das fazendas”, ressalta Grespan.
Mercado: eficiência e perspectivas
De acordo com o executivo, em curto e médio prazo – possivelmente, até em longo prazo –, a Inteligência Artificial na agricultura exigirá que o produtor participe e contribua ativamente para que essa tecnologia seja bem sucedida.
“A IA será uma ferramenta poderosa, que poderá ajudar as unidades produtoras a lidarem com a crescente complexidade da agricultura moderna. Os agricultores se beneficiarão não apenas das aplicações diretas nas fazendas, mas também do uso da Inteligência Artificial aplicada ao desenvolvimento de novas variedades genéticas, proteção de cultivares e novos fertilizantes.”
Uma vez vencida a barreira da conectividade nas fazendas, “é necessário debatermos a questão da sustentabilidade, algo que é extremamente crítico, porque precisamos alimentar nove bilhões de pessoas até 2050″.
“É fundamental conhecer o ponto em que podemos crescer, de maneira sustentável.”
Políticas públicas
Para que os produtores rurais tenham acesso mais fácil às novas tecnologias, especialmente às do mundo virtual/ digital, é necessário que eles contem com políticas públicas de governo.
“Algumas iniciativas estão sendo adotadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações (MCTIC) e espera-se que a integração de mais satélites possa aumentar o alcance da banda larga, bem como baratear esse serviço para os domicílios rurais, visando atingir às áreas remotas, em regiões afastadas, principalmente àquelas que compõem a fronteira agrícola brasileira”, espera Grespan.
Para mais informações, acesse https://iagro.tech.