Doença ataca em silêncio e pode causar uma série prejuízos ao rebanho
Causada pelo protozoário Trypanosoma vivax, a Tripanosomose bovina é uma doença parasitária que tem sido cada vez mais relatada no Brasil, clinicamente caracterizada por anemia severa devido à retirada de células vermelhas do sangue, dentre outros sinais, acometendo tanto os bovinos leiteiros quanto os de corte.
Entre os animais, a transmissão ocorre com o uso compartilhado de fômites (agulhas, bisturis, canivetes, luvas de palpação, aplicadores de brincos e etc.), que entram em contato com sangue dos animais portadores e são usados em outros animais.
“Ela também pode ser transmitida através da picada de moscas hematófogas (que se alimentam de sangue nos animais)como as mutucas (Tabanus sp.), a mosca dos chifres (Haematobia irritans) e da mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans)”, cita o médico veterinário gerente de serviços veterinários para bovinos da Ceva Saúde Animal. Marcos Malacco.
Manifestação
O especialista explica que a doença pode se manifestar de três formas: clínica, subclínica ou crônica. Na forma clínica, pode haver alta parasitemia (milhares de tripanosomas/ml de sangue), o que leva os animais a apresentarem depressão (tristeza), intensa anemia, febre intermitente, redução do apetite e de peso vivo, diminuição na produção leiteira, linfonodos aumentados, abortos, incoordenação motora, elevação das frequências cardíacas e respiratórias, diarreia, e podem evoluir para óbito.
Segundo ele, a tripanosomose bovina também pode ocorrer de forma silenciosa no rebanho, representando um grande risco, uma vez que bovinos infectados que aparentam estar saudáveis, e se tornam importantes disseminadores da doença. “Com isso, em pouco tempo todo o rebanho pode ser contaminado, o que trará impactos negativos na produtividade geral da fazenda”, alerta.
Malacco acrescenta ainda que os índices reprodutivos das propriedades também são diretamente afetados, já que a doença pode retardar o desenvolvimento sexual e a puberdade, impactar negativamente a qualidade do sêmen, alterar o ciclo das fêmeas, promover morte fetal, abortos, e nascimento de crias fracas que morrem logo após o parto, além de provocar queda de libido nos machos.
“Vale ressaltar que o impacto financeiro da tripanosomose bovina é complexo e o retorno aos índices produtivos anteriores pode ser lento em alguns animais”, informa
De maneira geral, na avaliação do veterinário, são mais comuns animais com a infecção subclínica que, de tempos em tempos, podem apresentar parasitemia caso não haja um programa estratégico de controle.
Entretanto, ele afirma que esses animais podem ter o desempenho produtivo comprometido, traduzido por baixa performance reprodutiva, menores taxas de desenvolvimento corporal e de ganho de peso vivo e queda na produção leiteira, por exemplo.
“Além disso, o Trypanosoma vivax pode interferir na imunidade geral dos animais, contribuindo para o surgimento de surtos de enfermidades e infecções diversas (comorbidades), como mastites, pneumonia, infecções dos pés e cascos, entre outras”, destaca Malacco.
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Métodos de combate
Para mitigar os impactos da parasitose, os produtores devem, com auxílio do médico veterinário, investir em um programa de controle adequado dos vetores de transmissão, como as moscas hematófagas (que se alimentam de sangue nos animais), além de ter cuidados de limpeza e desinfecção de todos os materiais que possam entrar em contato com o sangue dos animais e de uso compartilhado (por exemplo, nas vacinações, aplicações de medicamentos e cirurgias).
“Outra medida importante é adquirir animais comprovadamente sem infecção ou manter os animais recém-adquiridos em observação e quarentena antes de serem introduzidos no rebanho”, reforça o especialista, acrescentando que o plano de controle da tripanosomose deve ser baseado no uso correto de medicamentos específicos contra a doença, aplicados preventivamente no rebanho, além do monitoramento constante do desempenho dos animais.
“O parasita pode se espalhar rapidamente por todo rebanho. Portanto, por conta do risco e a velocidade com que ele pode se expandir no rebanho, uma importante ferramenta para o controle e prevenção da doença é estabelecer o tratamento de rebanho, sendo esse, talvez, o maior desafio”, enfatiza.
Segundo ele, muitos produtores tratam apenas animais com a doença clínica ou somente os lotes que apresentam tais animais. Isso pode ser um risco, pois, como mencionado, no rebanho pode haver animais portadores do T. vivax, mas que não demonstram estar parasitados (doença subclínica), sendo importantes mantenedores e transmissores do parasito ao restante do rebanho.
“Ainda há o risco da presença de reservatórios silvestres (cervos) e domésticos como ovinos, caprinos e bubalinos sendo também suspeitos suídeos (mamíferos artiodáctilos) e equídeos. Por isso, é importante manter um programa de controle estratégico para os bovinos a fim de solucionar possíveis riscos de contaminação”, arremata Malacco.