Para que a prática seja rentável e não se torne uma dor de cabeça, especialista ensina como deve ser o manejo ideal e alerta para o erro mais comum nas propriedades que é confinar os animais repentinamente, sem o planejamento adequado
O confinamento na pecuária de corte pode ser um aliado para a terminação de bovinos de forma rápida e eficiente. No entanto, é um sistema que requer estrutura apropriada, mão de obra treinada e dieta bem balanceada. Com as margens da atividade cada vez mais apertadas, para o confinamento ser uma alternativa rentável é necessário que todas as atividades, desde o planejamento do sistema até o embarque dos animais ao frigorífico, sejam realizadas com o máximo de atenção.
Por isso, o zootecnista e supervisor da Minerthal do Tocantins, Julio Cesar de Matos, alerta para o erro mais comum dos produtores: confinar animais de forma repentina, sem o planejamento adequado.
“É fundamental ter um plano a seguir. Só assim conseguimos prever a dinâmica e o resultado do confinamento do ano em que ele será realizado e, caso haja a necessidade de efetuar alguns ajustes, teremos tempo suficiente para realizar as alterações ou até mesmo para ajustar o planejamento inicial. Ressalto que em anos com margens menores, a melhoria dos processos provavelmente será decisiva para a obtenção de uma taxa de retorno atrativa”, aponta o especialista.
Um dos fatores essenciais, segundo ele, são aquisição, colheita, processamento e armazenamento dos alimentos. “Além disso, a construção das instalações, a capacitação da mão de obra e a compra de animais são os maiores desafios da atividade de confinamento. Todos esses fatores requerem uma atenção especial no momento do planejamento, a fim de evitar imprevistos e perdas decorrentes de práticas indevidas”, reforça.
Veja abaixo cinco dicas que podem auxiliar no sucesso do confinamento
1. Planeje e pesquise a compra dos lotes antecipadamente
Com o conhecimento da capacidade de suporte de animais da estrutura da propriedade, dos objetivos com o confinamento (peso de abate, dias de cocho, ganho de carcaça, lucro por animal etc.) e do capital disponível é possível prever a quantidade de animais e peso médio a serem comprados, caso o produtor não possua os próprios animais.
“Esta é uma etapa crucial nesta atividade. Com isso, a orientação é para que se faça um estudo criterioso do mercado a fim de conseguir o melhor preço na compra dos animais, sem deixar para última hora e pagar caro pelo lote”, ressalta Matos.
De acordo com ele, a compra dos animais representa a maior parcela dos custos de produção do confinamento e, se feita de maneira errada, pode acabar com a possibilidade de lucro.
2. Avalie a qualidade dos animais
Tão importante quanto o preço pago pelos animais é considerar o animal em si. Matos explica que é preciso avaliar a qualidade e o estado nutricional dos animais que entrarão no confinamento e se a genética ajudará no ganho de peso de forma eficiente.
“E, por fim, analisar o investimento x benefício entre o preço a ser pago e o resultado que o animal poderá trazer”, avalia o zootecnista.
3. Faça contas na distribuição dos custos do confinamento
O especialista ensina que a matemática deve ser uma aliada do produtor, de forma cotidiana. Por isso, quando se analisa a composição custos de um confinamento pode-se observar a importância de cada item e qual área o produtor deve concentrar os esforços.
Tabela com exemplo de custos e resultados de um confinamento:
Gráfico da participação dos custos:
“O gráfico foi feito com base nos dados da tabela e o que se pode notar é que a compra do gado magro correspondeu por 66,3% dos custos, seguido pela despesa com os alimentos com 25,01% dos custos. Portanto, neste caso, é onde o produtor, definitivamente, não pode errar, pois uma reposição de gado magro mal feita ou custos elevados no preço dos alimentos acabam por comprometer seriamente a rentabilidade da atividade. Não que os outros itens não sejam importantes, mas possuem menor impacto no resultado final”, explica Matos.
4. Faça a projeção da dieta e compra de insumos
Com a quantidade de animais estabelecida, é preciso partir para outro ponto importante do planejamento: a dieta que será oferecida ao gado confinado.
“Por isso, conhecer a região onde se encontra a fazenda e ter informação de todos os insumos possíveis de serem comprados, assim como a melhor época de compra de cada um é fator primordial para ter melhor custo de diária do confinamento”, destaca o zootecnista. “A dieta ideal também deve levar em consideração fatores como o escore dos animais e realidade do mercado nutricional”. Escore é o estado nutricional dos animais verificado a partir de avaliação visual e/ou tátil.
Matos lembra que, “quanto aos animais é preciso estar atento ao peso de entrada, qual a projeção de peso de saída, quantos dias esses animais ficarão confinados, qual o volumoso será ofertado, além de avaliar a possibilidade da ingestão de ração e qual o consumo diário de nutrientes necessários para manutenção e ganho de peso esperado”.
Segundo ele, depois, é necessário fazer uma cotação de quais insumos que serão utilizados, verificar disponibilidade e preços de subprodutos na sua região, fazer a compra visando melhor utilização do frete, aproveitando o sistema de bonificações/descontos em pedidos que tenham quantidade mínima.
“Além disso, o produtor pode avaliar se é possível fechar contratos com fornecedores com o intuito de garantir preços bons e se podem ser feitos contratos de suprimento de insumos para serem entregues no decorrer do confinamento”.
5. Avalie a sua estrutura, manejo e treine a equipe
O especialista aponta que é preciso avaliar a localização geográfica da propriedade para se planejar quanto às instalações, pela incidência de chuvas, ventos e declividade do terreno.
Um ponto de atenção na estrutura é ter condições de armazenagem de boa quantidade de insumos para o decorrer do confinamento, com objetivo de garantir bons preços na compra.
O local deve ser telado para evitar pássaros e roedores, abrigar os insumos contra chuva, ser seco e ventilado, ter estrados de madeira para colocar as sacarias, ter identificação do estoque, bem como fluxo de entrada e saída de insumos.
“Formar e treinar a equipe para entender os manejos que serão necessários é um ponto importante, pois permite ao colaborador entender a importância de sua ação dentro do processo, e não apenas “fazer por fazer”. Caso tenha rodado confinamento no ano anterior, o produtor deve tentar focar em melhorar em algum manejo que não foi eficiente, por exemplo, escore de cocho”, conclui Matos.