Seja na fazenda de leite ou na fazenda de corte, os prejuízos causados pelas infestações destes parasitas vão muito além do que é enxergado
O final do período de inverno e clima seco traz uma preocupação já conhecida do produtor rural: os carrapatos!
Responsáveis por perdas econômicas significativas na pecuária mundial, estes ectoparasitas são motivo de atenção nas fazenda de leite e de corte.
Um levantamento da Embrapa de 2019, aponta que nas fazendas de leite, a sensibilidade ao carrapato interfere principalmente nos índices produtivos das vacas de raça Holandesa, que podem deixar de produzir cerca de 95 quilos de leite/animal/ano.
A mesma verificação expôs que, na pecuária de corte, rebanhos taurinos e seus cruzamentos, que prezam pela precocidade na produção, podem perder algo em torno de um grama de carne por carrapato no animal por ano.
Prejuízos diretos e indiretos
O médico veterinário da Ceva Saúde Animal, Marcos Malacco, revela que um estudo brasileiro calculou que os prejuízos causados pelo carrapato do boi (Rhipicephalus microplus) na pecuária brasileira gira em torno de U$3,2 bilhões por ano, de maneira direta e indireta.
“O Rhipicephalus microplus está presente em quase todo o território nacional, e ele pesa no bolso do pecuarista”, relata. Segundo o especialista, além de lesionar o couro do animal, desvalorizando o produto final e favorecendo a instalação de larvas de moscas (miíases ou bicheiras) e infecções, o carrapato transmite doenças, especialmente a Tristeza Parasitária Bovina (TPB).
Ele explica que a TPB “é um complexo de doenças causadas pelos protozoários Babesia bovis e Babesia bigemina, que provocam a Babesiose, e pela bactéria intra-eritrocitária Anaplasma marginale, que provoca a Anaplasmose. A infecção concomitante por dois, ou pelos três agentes. é comum”.
Em 2016, a Organização Internacional de Epizotias (OIE) tornou ambas as doenças como notificáveis para garantir a transparência e conhecimento sobre sua situação global.
Prevenção é aliada
O veterinário orienta que, embora exista tratamento, a prevenção é a melhor aliada do pecuarista. “O controle estratégico dos carrapatos visa reduzir, ao máximo possível, a presença dele no ambiente, onde cerca de 95% da infestação ocorre, e, consequentemente, nos animais”.
Para isso, segundo Malacco, são necessárias ações na propriedade após criteriosa avaliação das condições existentes (epidemiologia). “Uma das ações indispensáveis é o controle químico do parasito através da utilização dos carrapaticidas em programas adequados e correta aplicação dos mesmos, respeitando-se as vias de aplicação, o modo correto da aplicação e suas doses”, preconiza.
Ele argumenta que “esses programas sempre levarão em conta as características epidemiológicas de cada região do país, da fazenda e a época esperada de melhor eficácia para que seja iniciado o programa de controle”.
O especialista explica que o aumento da temperatura e/ou da umidade ambiental médias ocorrem em certas épocas do ano conforme as regiões. “Este fator funciona como um gatilho para aumento nas infestações ambientais e nos animais”, ressalta.
Controle estratégico do carrapato
Assim, de acordo com Malacco, o controle estratégico do carrapato deve levar em conta esse fato e ser iniciado de forma criteriosa para o alcance dos melhores resultados. “Nas regiões de clima tropical, onde as variações de temperatura ambiental média não são muito severas, as infestações pelo carrapato podem estar presentes durante todo o ano”, orienta.
Entretanto, ele informa que os níveis de infestações são variados e dependentes das variações da umidade ambiental média.
Já nas regiões de clima temperado, como a Região Sul do Brasil, o veterinário destaca que os níveis das infestações variam de acordo com a temperatura média ambiental.
Malacco sublinha ainda que baixas temperaturas de inverno são desfavoráveis para o desenvolvimento do carrapato no ambiente e são esperados leves níveis de infestação nos animais.
“No entanto, quando chega a primavera, os índices médios de temperatura ambiental aumentam, fato importante para a ocorrência de infestações significativas no ambiente e nos animais”, alerta o veterinário.
Primeira geração
Malacco ensina que essa primeira onda de infestação após o inverno, é chamada de primeira geração do carrapato e “ela deve ser criteriosamente controlada a fim de reduzirmos seu impacto e consequências danosas das gerações futuras, que são esperadas entre o meado do verão e ao final do outono”, avisa.
Para o especialista, “é importante frisar que essas gerações, ou “ondas” do carrapato, são frequentes e o impacto de cada uma será maior, ou menor, dependendo do efeito da geração imediatamente anterior”, continua.
Malacco informa que, na região Sul do Brasil, um dos principais fatores ambientais para o aumento da ocorrência das infestações pelo carrapato é a temperatura média. “Nas demais regiões brasileiras, a umidade relativa ambiental tem mais influência no desenvolvimento desses parasitas”.
O veterinário completa que “cientes das particularidades climáticas da a região Sul, o momento adequado para iniciar o controle estratégico do carrapato é a primavera, visando maximizar o controle da primeira geração do parasito e, consequentemente, a redução do impacto da geração seguinte”.
Na opinião do especialista, um descuido nessa época do ano pode levar a uma maior infestação nas pastagens – e nos animais -durante as próximas estações, “possibilitando a ocorrência de surtos de TPB, especialmente nas crias que tiveram baixa exposição aos agentes da doença quando ainda jovens e sob a proteção da imunidade passiva, e outros fatores que interferem a rápida multiplicação de parasitos nestes animais”, resume.
Uso de carrapaticidas
O veterinário orienta que o controle estratégico é feito, principalmente, com o uso de carrapaticidas capazes de controlar as infestações nos animais, além de permitirem menores chances de infestações nas pastagens.
“O ideal é que o medicamento consiga atingir todas as fases parasitárias do carrapato, controlando, assim, todos os estágios parasitários, de larvas a adultos”, recomenda.