O quilo de rã pode ser comercializado a R$ 45,00 a peça inteira, a R$ 75,00 a parte mais carnuda (coxas) e R$ 22,00 o dorso

A família Kleinubing, de Chapecó, oeste de Santa Catarina, possui dois açudes e um ranário para produção de seis mil rãs em uma área de 3,7 hectares. A ranicultura é a principal fonte de renda da família há 12 anos e está em processo de certificação de inspeção municipal para implantar um entreposto de pescado para produção e processamento da carne e, consequentemente, ampliar mercado.

O empreendimento familiar é um dos 15 atendidos pela nova cadeia do programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) na agroindústria artesanal do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/SC), órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC).

Carlos Eduardo Kleinubingengenheiro agrônomo, conta que a ranicultura é a grande paixão do pai Darci, quem iniciou a produção na família. Hoje, Carlos e a esposa Priscila comandam a atividade que, por enquanto, comercializa diretamente aos consumidores e amantes da carne considerada nobre dentro e fora do País.

A família vende 200 kg de rãs por mês, além de 400 kg de filé de tilápia e 100 kg de outros peixes como lambaris e cascudos (ambos adquiridos de pescadores locais e processados na propriedade) e até a exótica carne de jacaré (trazida pronta de agroindústrias de São Paulo e do Pantanal).

“Há 17 anos vendemos tilápias e há 12 investimos na ranicultura. Em Chapecó, somos apenas três produtores de rãs. No Estado, também são poucos, assim como as informações técnicas sobre a atividade são escassas. A gente foi estudando e experimentando aos poucos até consolidar a produção. Entramos com o processo de legalização ainda em 2017 e desde então aguardamos certificação para podermos ampliarmos a estrutura e regularizarmos a comercialização. Certamente a assistência técnica e gerencial do SENAR contribuirá para essas melhorias”, enfatiza Carlos.

A produção

Ranicultor de Chapecó, Carlos Eduardo Kleinubing, produz seis mil rãs e comercializa 700 kg de pescado por mês. Foto: Senar

A produção de rãs da família Kleinubing é em ambiente natural e totalmente artesanal. Nos dois açudes, acontece o acasalamento e a reprodução que geram os girinos, responsáveis pela primeira etapa de criação que leva de quatro a cinco meses para transformação.

O processo exige cuidados com vegetação ao redor dos açudes, que não podem receber agrotóxicos para não contaminar a água. Além disso, a água também deve assegurar alimentação natural para as rãs.

“Criar os girinos é fundamental para o negócio, porque os custos aumentariam muito se precisássemos comprá-los e transportá-los até a propriedade. Cada milheiro custa em torno de R$ 1.000,00. Esse processo de reprodução em ambiente natural também é importante para a melhor adaptação das rãs. A gente sempre afirma que não são elas que precisam se adaptar ao nosso modo de vida, mas nós que precisamos nos adaptar ao convívio delas”, ressalta Carlos.

Com poucos dias de vida, os girinos são levados até o ranário, espaço de alvenaria que possui 20 baias (tanques com água) para a etapa de transformação. Ali, eles são alimentados com ração especial duas vezes ao dia para crescerem e se transformarem em imagos (pequenas rãs).

Fase de engorda

Nesta etapa, os imagos passam para a fase de engorda até a rã ficar pronta para o abate, quando atinge entre 400 e 600 gramas suja, com rendimento final de 50%. Todo o processo leva entre oito e nove meses e acontece no período de verão, quando a temperatura da água é melhor para a criação.

“A temperatura da água é um ponto crucial. Ela deve estar em 25º no processo de transformação e em 26º para melhor conforto da rã. Se for abaixo de 22º retarda o desenvolvimento das rãs e acima dos 30º causa a morte dos animais. Para alcançar esta temperatura, é preciso que o ambiente natural fora da água esteja em 35º. Por isso o processo é feito no verão, quando criamos o máximo de estoque possível para assegurarmos produtos durante todo o ano”, detalha Carlos ao destacar que a propriedade tem poço artesiano e sistema de aquecimento da água para viabilizar a transformação.

No ranário, a água das baias deve ser trocada duas vezes por dia, o que gera consumo diário de 13 mil litros na propriedade. Carlos conta que é normal haver perdas de até 50% durante a fase de criação de girinos e de 3% a 5% nas demais etapas de transformação.

No ranário, a água das baias deve ser trocada duas vezes por dia, o que gera consumo diário de 13 mil litros na propriedade. Foto: Senar

“As rãs comem tudo o que for menor que elas por considerarem presas e têm medo de tudo o que for maior, por entenderem como predadores. Por isso, os próprios girinos se tornam alimentos, o que gera perdas no processo. Outros fatores também são estresse, temperatura da água, fungos e bactérias”, explica o ranicultor.

Para entrar no ranário sem assustar as rãs e causar estresse que pode impedi-las de se alimentar, Carlos deixa o rádio ligado com música ambiente. O barulho rouba a atenção e distrai os animais.

Tanto a alimentação quanto o controle de fungos e bactérias são desafios da ranicultura. Não existem medicamentos e rações específicas para rãs e, por isso, elas são tratadas e alimentadas com insumos adaptados da piscicultura.

“A ração usada é para peixe carnívoro, com proteína alta. Também usamos remédios recomendados para tratar doenças causadas em peixes e vamos experimentando os que mais dão resultado. Isso é um desafio, porque exige muito estudo, testes e cuidados”.

Tanto a alimentação quanto o controle de fungos e bactérias são desafios da ranicultura. Foto: Senar

Após atingir o peso ideal, as rãs seguem para abate artesanal, hoje feito na propriedade por Carlos e a esposa Priscila. As rãs são colocadas em bacias com gelo – para provocar um forte choque térmico – e seguem para processamento (retirada da pele e cortes), embalagem a vácuo e congelamento.

Para cada baia são necessários dois dias no mês para abate. O objetivo, a partir da certificação sanitária, é construir o entreposto de pescado para produção e processamento da carne e terceirizar o abate para que ela volte fresca (in natura) para manuseio.

“O nosso diferencial é que a carne embalada não tem água, é 100% produto. Queremos manter essa qualidade a partir da formalização”, projeta Carlos.

Preços de mercado

O quilo de rã é comercializado a R$ 45,00 inteira, a R$ 75,00 a parte mais carnuda (coxas) e R$ 22,00 o dorso. O filé de tilápia custa R$ 36,00 ao kg, o lambari R$ 22,00 e o cascudo entre R$ 28,00 e R$ 30,00. Já a carne nobre de jacaré é vendida a R$ 120,00 ao kg.

Fonte:  FAESC/SENAR-SC