IP e IZ se unem para otimizar o uso de recursos naturais e de espaço, trazendo mais ganhos para o produtor
Pesquisa do Instituto de Pesca (IP) e do Instituto de Zootecnia (IZ), órgãos da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, vão realizar a criação de espécies utilizadas como isca viva em conjunto com a produção de hortaliças. O sistema, conhecido como aquaponia, faz o aproveitamento racional do uso de recursos naturais e de espaço, podendo resultar em mais ganhos para o produtor.
“O sistema de aquaponia combina dois sistemas, a aquicultura (cultivo de organismos aquáticos) e a hidroponia (cultivo de vegetais sem uso de solo, a partir de solução nutritiva)”, define o pesquisador do IP Marcello Boock. Conforme explica, nesse sistema, peixes ou camarões de água doce são mantidos em reservatórios de pequeno porte (até mesmo caixas d’água), onde recebem a ração. Em decorrência das excretas produzidas (fezes e amônia) e das sobras de alimento presentes, a água passa a ter altas concentrações de nutrientes que servirão de adubo para as plantas.
“Essa água carregada de nutrientes é constantemente bombeada para o outro componente do sistema, a parte correspondente à hidroponia, onde as mudas, posicionadas em ‘prateleiras’, são plantadas em substrato próprio”, esclarece Boock. “Depois de absorvida parte dos nutrientes pelas plantas, essa água retorna, por gravidade, para o tanque de cultivo dos camarões ou peixes. Isso ocorre continuamente, é um sistema de recirculação de água”, complementa.
De acordo com o pesquisador do IP, de um lado, a água carregada de nutrientes, que seria tóxica para os peixes, serve de solução nutritiva para o desenvolvimento das plantas. Do outro, ao passar pelas raízes e pelo substrato de cultivo, retorna purificada, sem que seja necessário trocá-la.
“Assim, utiliza-se quase a mesma água durante todo o cultivo, sendo necessária somente a reposição do que é perdido por evaporação e evapotranspiração das plantas”, comenta o especialista. “Nesse sistema, devido à recirculação, gasta-se até 90% menos água do que em um sistema de produção agrícola convencional, que utiliza irrigação”, garante o pesquisador do IP.
Vantagens
Parceiro de Boock no projeto, que está sendo desenvolvido na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Pirassununga do Instituto de Pesca, o pesquisador do IZ Fernando André Salles aponta outras vantagens do método.
“Por sua natureza essencialmente recicladora, a aquaponia permite uma economia no uso de fertilizantes sintéticos na produção de vegetais, além de evitar a descarga de nutrientes potencialmente poluidores provenientes da piscicultura”, ressalta.
“Outro aspecto interessante da aquaponia é o fato de poder ser utilizada em escala doméstica, aumentando a segurança alimentar das famílias, com o consumo de pescados e principalmente de vegetais frescos produzidos diariamente,”
O especialista acredita que o modelo é aplicável a diferentes regiões de SP e também em outros Estados, podendo contribuir com o desenvolvimento de regiões semiáridas, como boa parte do Nordeste brasileiro. “A aquaponia pode, ainda, ser conduzida em ambientes urbanos e periurbanos, próximo ao mercado consumidor, diminuindo o transporte de mercadorias e a emissão de carbono proveniente da queima de combustíveis”, enfatiza Salles.
Pesca esportiva
A atividade de pesca esportiva tem bastante espaço nos rios e represas de São Paulo, mantém a comercialização de espécies de pequeno porte utilizadas como iscas vivas, normalmente peixes ou camarões. Conforme Boock, para se evitar a coleta dessas espécies no ambiente e os impactos decorrentes, a criação para venda tem sido uma tendência.
Segundo ele, existem aquicultores que produzem iscas (sobretudo lambaris) em grandes quantidades, em viveiros de engorda, e vendem para pequenos atravessadores, geralmente pescadores artesanais. “Estes adquirem e mantêm os organismos de uma forma precária, revendendo de acordo com a procura”.
“Com esse sistema que estamos propondo, o pequeno distribuidor poderia manter as iscas por períodos mais longos, de maneira mais controlada, e vender um produto de melhor qualidade”, assegura Boock. Além disso, diz ele, produziria hortaliças e temperos (alface, manjericão, rúcula etc.), para consumo próprio e da família, contribuindo com a segurança alimentar, e até ser comercializados e obter una nova fonte de renda.