A produção de produtos de pescados atingiu um recorde global de 185 milhões de toneladas em 2022, mais de 4% em comparação a 2020 (Foto: Arquivo/FAO)
A edição de 2024 do relatório “Estado da Pesca e Aquicultura Mundial” (SOFIA, na sigla em inglês), uma análise abrangente emitida a cada dois anos, revela um ponto de virada significativo.
Pela primeira vez na história, a produção aquícola superou a pesca extrativa como principal fonte de produtos de pescados e frutos do mar. Esta conquista oferece um caminho promissor para combater a fome global enquanto protegemos nossos oceanos.
Manuel Barange, chefe da Divisão de Pesca e Aquicultura da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), pontua algumas percepções deste relatório histórico.
Barange destaca as implicações desse marco e como ele se conecta com a visão da “Transformação Azul” da FAO.
Ele explora estratégias para aumentar a sustentabilidade dos recursos e a produção em regiões em desenvolvimento, abordando diretamente a questão crítica da segurança alimentar.
Barange também discute as mudanças nos hábitos de consumo, enfatizando a importância de práticas sustentáveis para um fornecimento de alimentos seguro a longo prazo.
A “Transformação Azul” da FAO visa tornar as transformações no setor de alimentos aquáticos mais eficazes no combate à fome e à pobreza.
As três principais metas são: crescer a aquicultura de forma sustentável, melhorar a gestão das pescas e desenvolver as cadeias de valor dos alimentos aquáticos.
Principais conclusões do relatório
O principal achado do relatório é que a produção de produtos de pescados ou frutos do mar atingiu um recorde global de 185 milhões de toneladas em 2022, mais de 4% em comparação a 2020, conforme relatado na edição anterior do SOFIA.
A mensagem mais significativa, no entanto, é que a aquicultura agora representa 51% dessa produção. Pela primeira vez, a aquicultura superou a pesca extrativa como principal produtora de alimentos e produtos aquáticos.
“Este é um grande resultado porque significa que podemos continuar a aumentar a produção de frutos do mar e pescados sem aumentar o impacto no ambiente marinho, já que menos de 40% da aquicultura é produzida em águas marinhas”, afirma Barange.
Com 735 milhões de pessoas sofrendo de fome, reduzir esse número rapidamente é crucial, e a aquicultura oferece uma maneira eficaz de fazer de produzir mais alimentos e melhorar o acesso a eles, diz a FAO.
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Desigualdades na aquicultura mundial
Hoje, segundo o relatatório, aproximadamente 62 milhões de pessoas estão diretamente envolvidas no setor de pesca e aquicultura. Incluindo o subsetor de processamento, subsistência e dependentes, estima-se que cerca de 600 milhões de pessoas dependem desse setor para seus meios de subsistência.
Embora a aquicultura esteja crescendo rapidamente globalmente, existe um desequilíbrio geográfico significativo.
Cerca de 90% da produção animal está concentrada na Ásia, com seis dos dez principais produtores provenientes deste continente, incluindo China, Indonésia, Índia, Vietnã, Bangladesh e Filipinas. Enquanto isso, a África responde por apenas 1,9% da produção aquícola global.
“Aumentar a produção nessas regiões é essencial para manter as taxas de consumo de alimentos aquáticos em regiões com populações em crescimento”, destaca Barange.
Aumento do consumo de pescados
O consumo global de pescados aumentou significativamente nas últimas décadas.
Na década de 1960, cada pessoa consumia em média cerca de nove quilos de pescados e frutos do mar por ano. Em 2022, esse número subiu para 20,7 kg.
“Sem esses alimentos aquáticos, não obteríamos a nutrição necessária”, explica Barange. “Os alimentos aquáticos são a melhor solução baseada na natureza. Para a maioria deles, nem precisamos fornecer água ou alimentação.”
O relatório prevê um crescimento de cerca de 10% na produção até 2032, permitindo que a taxa de consumo aumente para 21,3 kg por pessoa por ano.
“Na África, a produção precisará crescer 75% para acompanhar o crescimento populacional significativo esperado”, ressalta Barange.