As medidas preventivas começam pelo manejo dos animais, higiene, transporte e gerência na entrada de novos lotes na fazenda
No Brasil, a tuberculose bovina (TB) é uma grande preocupação para a pecuária. A doença acomete rebanhos leiteiros e de corte, acarretando prejuízos sanitários e econômicos para o País. É uma enfermidade infectocontagiosa de evolução crônica, causada pela bactéria M. bovis, e contagia não só bovinos como também caprinos, ovinos, suínos, animais silvestres e domésticos, caracterizando-se como uma zoonose.
Além disso, trata-se de um problema econômico por estar associada à morte de animais, causando prejuízo a produtores. Animais com diagnóstico de tuberculose têm sua produtividade afetada apresentando quedas no ganho de peso, diminuição da produção de leite e condenação de carcaças.
A tuberculose bovina também é um problema de saúde pública porque é transmissível para o homem, seja na ingestão ou manipulação de leite contaminado ou mesmo na inalação de gotículas de animais infectados. As bactérias estão presentes no leite cru, por isso a legislação determina o consumo de leite pasteurizado, pois o processo elimina as bactérias indesejáveis prevenindo a transmissão da doença para o homem.
Na carne, a TB pode ser identificada na carcaça e em algumas vísceras, e, uma vez constatada pela inspeção, é descartada. Da mesma forma que não se recomenda ingerir leite cru, não se deve comer carne que não foi inspecionada.
Desafios e controle
Um dos grandes problemas nas fazendas de gado é a transmissão de animais infectados para os sadios no rebanho. A principal forma de contaminação é pela via respiratória ocorrendo também pelo ar, contato direto com secreções nasais, fezes de bovinos nas pastagens, movimentação do gado, entre os rebanhos, nos limites das fazendas, pelo solo ou silagem e água potável. O fato é que quanto maior a quantidade de animais infectados, maior será o número de bactérias presentes no ambiente.
Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Flábio Ribeiro Araújo, especialista em imunologia e biologia molecular, a melhor estratégia para o produtor é monitorar seu rebanho periodicamente. Ele ressalta que as medidas preventivas começam pelo manejo dos animais, higiene, transporte e gerência na entrada de novos lotes na fazenda.
“Ao estabelecer controles no rebanho é de grande valia na gestão da propriedade, como, por exemplo, ter controle sobre a origem dos animais, identificação, testar aqueles que forem adquiridos, entre outras ações”, diz.
O tratamento nos animais com tuberculose não é permitido e o serviço de defesa sanitária deve ser notificado sobre todo animal com diagnóstico da doença. Os infectados devem ser sacrificados em até 30 dias e essa ação deve ser acompanhada pela inspeção do serviço oficial de defesa sanitária animal, seja em matadouro frigorífico ou com destruição e enterro na propriedade.
Por isso a importância de se elaborar periodicamente diagnósticos nos rebanhos e, principalmente, seguir as orientações do Programa Nacional e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), de competência do Mapa e das Secretarias de Agricultura dos estados, em vigor desde 2001.
“Todas essas medidas são importantes na erradicação do problema, além, é lógico, de seguir à risca o protocolo do PNCEBT”, salienta Araújo.
Medidas voluntárias e obrigatrórias
O produtor com rebanho contaminado tem o valor comercial de seus animais depreciado, ficando em desvantagem no mercado. São várias questões levadas em consideração na gestão da propriedade, inclusive a de continuar no mercado competitivo ou não.
Estar em dia com as obrigações sanitárias evita maiores prejuízos, o que inclui seguir o regulamento do PNCEBT, que estabelece medidas de caráter compulsório e de adesão voluntária a serem observadas pelo produtor.
As compulsórias consistem em vacinar bezerras de três a oito meses de idade contra a brucelose, eliminar animais diagnosticados para brucelose ou tuberculose e cumprir as exigências de trânsito com os animais. Já as voluntárias se referem a iniciativas dos produtores para certificar as suas propriedades como livres de brucelose e tuberculose.
A vantagem dessa adesão são os benefícios econômicos, como a redução dos prejuízos ocasionados pelas doenças, maior credibilidade sanitária e agregação de valor aos produtos. Uma recomendação importante é que o produtor, ao adquirir novos animais, exija os atestados de testes negativos de brucelose e tuberculose. Dessa maneira, reduz o risco de introduzir animais infectados no rebanho.
Sintomas da tuberculose em estágio mais adiantado
● Emagrecimento progressivo
● Falta de ar
● Tosse
● Enfraquecimento
O produtor deve ficar atento a esses sintomas porque é difícil reconhecer a doença no animal vivo. A TB pode provocar lesões nos pulmões, fígado, baço e carcaça, causando enormes prejuízos ao produtor. No abate não é incomum detectar a doença reconhecida pelas lesões aparentes e características próprias identificadas pelos profissionais da inspeção sanitária, e essa é a pior forma de identificar um animal doente.
Quando há ocorrências desse tipo, o órgão oficial competente realiza um estudo epidemiológico na propriedade podendo resultar em interdição. O prejuízo para esse produtor é certo e de alto custo. Por toda problemática que pode ser gerada, é imprescindível avaliar periodicamente o rebanho, bem como os animais que forem adquiridos de outras propriedades.
O teste para diagnosticar a tuberculose pode ser o de rotina, realizado por médicos-veterinários habilitados, cujo objetivo é detectar rebanhos infectados, saneamento de propriedades e trânsito de animais; e o confirmatório, realizado em animais reagentes a testes de rotina e obrigatório para trânsito internacional. Esse último é executado por laboratórios credenciados pelo Mapa.
Testes oficiais no Brasil
Os testes oficiais da TB, chamados de tuberculina, são uma medida da resposta imune do animal à bactéria Mycobacterium bovis. Quando exposto ao agente, o animal desenvolve resposta imune específica e quando a tuberculina – um derivado proteico purificado – é injetada intradermicamente, esse sistema é ativado, gerando um inchaço no local da aplicação e indicando a reação positiva.
São três os testes tuberculínicos oficiais utilizados: Cervical Simples (TCS) – adotado como prova de rotina para rebanhos leiteiros; Prega Caudal (TPC) – utilizado exclusivamente em gado de corte também como prova de rotina com resultado após 72 horas; e o Cervical Comparativo (TCC) – um teste de triagem para rebanhos leiteiros que pode ser utilizado como teste confirmatório em animais reagentes ao teste cervical simples ou ao teste da prega caudal, ou como prova de rotina em rebanhos com histórico de reações inespecíficas, em estabelecimentos certificados como livres e naqueles com criação de búfalos, visando garantir boa especificidade diagnóstica.