O Brasil apresenta certa sazonalidade na produção de forragens. As atenções se voltam, especialmente, para o período seco do ano, de julho a outubro, quando ocorre uma queda natural, porém acentuada, da qualidade e quantidade na oferta de pastagem
Nas pastagens de Brachiaria spp, apenas 30% da produção ocorre na seca, com os teores de proteína bruta (PB) caindo para menos da metade, se comparada ao período das chuvas. Nas variedades de pasto Panicum maximum (Mombaça, Tanzânia etc.) estes percentuais se reduzem ainda mais. Durante a seca, produzem apenas 20% do seu potencial em um ano.
São conhecidas diferentes estratégias para enfrentar a situação, entre elas a suplementação mineral proteica. O médico veterinário Julliano Percinoto Pompei, do Grupo Matsuda, lembra que “ao manter o peso dos animais ou promover ganhos, ela (a suplementação mineral proteica) trará precocidade ao abate e evitará o chamado “boi sanfona”, um tipo de animal que o mercado não aceita mais. Também será possível aproveitar picos de preços da arroba na entressafra, reduzir o intervalo entre partos, pois possibilita que as fêmeas voltem ao cio em menor intervalo, e ainda auxilia no incremento de peso ao nascer e na desmama do bezerro”.
O médico veterinário explica que, além da menor oferta de pastagem, a digestibilidade, ou aquilo que o animal consegue aproveitar, também diminui.
“É uma consequência natural da fisiologia das plantas, que na seca aumentam a presença de lignina, um material que se incorpora às plantas e as protege. Sendo assim, para que os microrganismos do rúmen – parte do estômago bovino – possam usar os nutrientes existentes, precisarão antes romper esta proteção, provocando um tempo maior de passagem do alimento pelo trato digestório. O resultado é a diminuição na ingestão de matéria seca (MS – o pasto) pelo animal, podendo, inclusive, ficar abaixo do mínimo necessário para sua manutenção, que é de 2% de seu peso vivo em MS/dia”, afirma Pompei.
Proteinado da seca
O Suplemento Mineral Proteico, popularmente chamado de “proteinado da seca”, além da principal função de mineralizar os animais, também tem o importante papel de elevar os níveis de proteína (nitrogênio) no ambiente ruminal, onde ajuda na multiplicação dos microrganismos (fungos, bactérias e protozoários), aumentando o número de “operários” para trabalhar no rúmen.
“Um boi de 450 kg, por exemplo, necessita ingerir diariamente de 2% a 3% do seu peso vivo em pasto com ao menos 7% de PB, o que significa 630 g/dia de proteína. Ao considerar uma forrageira na seca com teor de 5% de PB, só conseguirá acumular 450 g/dia, com déficit de 180 g/dia de proteína bruta. Este será corrigido pela suplementação, por exemplo, com proteinado com 40% de PB que proporciona a ingestão de 450 gramas do produto”, exemplifica Pompei.
Neste processo acontece um aumento no consumo de matéria seca, já que há maior digestibilidade gerada pela melhor população da microbiota ruminal. O que resultará em mais proteína do pasto e, por consequência, maior ganho de peso.
O médico veterinário alerta para não confundir o sal com ureia (suplementos ureados) com o suplemento mineral proteico (proteinados). “Este último possui como fonte de proteína e energia, além da ureia, grãos e farelos que permitem um aproveitamento melhor pelo bovino”.
Benefícios
Qualquer categoria animal deve receber proteinado durante o período seco do ano. Em vacada de cria, seus benefícios são bem evidentes. Estudos já comprovaram que quanto pior a condição corporal no pós-parto, maior será a taxa de anestro, ou ausência de cio. “A matriz vai se recuperar mas pode demorar ao menos dois meses, o que significa atraso na estação de monta com gasto adicional de tempo e outras despesas, caso não receba o proteinado”, explica o médico veterinário.
Ele afirma que já foi comprovado que o bezerro, ainda no ventre da matriz, terá comprometida a formação e a multiplicação de células da massa muscular. “Ele nascerá mais leve, terá uma evolução pior e uma maior idade ao abate. Vacas suplementadas desmamam animais até 9 kg mais pesados e reduzem o puerpério”, complementa.
Segundo Pompei, esses resultados, como o ganho de peso, estão diretamente relacionados à disponibilidade de pasto, uma vez que 78% das necessidades de PB virão da forragem e 22% do suplemento.
“É importante que ele contenha uma boa oferta de folhas e não só talos de baixo valor nutritivo. Caso não se disponha deste volumoso, é possível se recorrer à fontes como a cana-de-açúcar. É comum me perguntarem o que é mais importante: sais minerais, proteína, energia ou volumoso? Respondo que não existe o mais importante, pois todos entram para formar um equilíbrio que favoreça a boa nutrição dos animais”, lembra o veterinário.
Pastagens no País
O território brasileiro tem 850 milhões de hectares, com 23% de sua área integrada por pastagens utilizadas por diferentes espécies animais, com o predomínio da bovina, somando 232 milhões de cabeças.
O sistema de produção adotado em 96% deste rebanho é baseado no pasto, favorecido pelas condições naturais de um país tropical como o Brasil. Em seguida vem o confinamento, com aproximadamente 2,2% dos animais, e o semiconfinamento, com 1,4%. Por fim, na região Sul, 0,4% do rebanho é criado com o uso de pastagens de inverno, além de outros sistemas.
De acordo com o veterinário, o País possui um amplo horizonte de oportunidades e muito ainda para crescer. No ano passado, foram produzidas 9,4 milhões de toneladas de carne equivalente a carcaça, o que dá um desfrute de 4,06% do rebanho. Desfrute é a capacidade do rebanho em gerar excedentes, em arrobas ou cabeças, em um determinado espaço de tempo em relação ao rebanho inicial.
“Já quando observamos informações de países como os Estados Unidos, seu contingente de bovinos é 60% menor que o brasileiro e, mesmo assim, foram produzidas 12,1 milhões de toneladas de carcaças, ou seja, uma quantidade 28% maior. O desfrute fica perto de 13% sobre seu rebanho e um dos motivos importantes para o desempenho mais elevado é que os pecuaristas têm ampla consciência dos cuidados que se deve ter com a variação sazonal na disponibilidade de volumosos. O Brasil, por suas condições climáticas favoráveis e pastagens tropicais, pode evoluir muito, como já acontece, a partir da melhor sanidade, genética e ajustes no importante alicerce que é nutrição animal”, conclui.