Registro é resultado de parceria entre a Embrapa, Mapa e a Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho
A carne de animais criados no Pampa gaúcho já é comercializada com selo de identificação de origem. Reconhecida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a marca coletiva da Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho (Apropampa), valoriza os produtos cárneos oriundos do bioma, facilitando o seu reconhecimento no mercado por parte dos consumidores.
Conforme o presidente da Apropampa, Custódio Magalhães, a combinação entre a variedade de pastos naturais e cultivados, o clima, as raças taurinas e sintéticas criadas e o manejo utilizado são os grandes diferenciais que formam a singularidade da carne do Pampa. Assim, para ter o selo, todas as etapas da produção devem ocorrer no bioma, apenas com a possibilidade de abate fora do Pampa, mas ainda assim dentro do Rio Grande do Sul.
“É 100% do Pampa. Os animais têm de ser nascidos e criados na região. Queremos nos comunicar com o consumidor, para que ele enxergue o selo e reconheça o que há por trás”, explica.
Parcerias
A Embrapa, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o governo do Estado do Rio Grande do Sul foram parceiros da Apropampa no processo que resultou na marca coletiva. Segundo Danilo Sant’Anna, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (RS), além de diferenciar a carne, o objetivo da distinção é contar a história e significado que existe por trás do produto final.
“O Pampa é um ambiente naturalmente campestre, diverso e muito propício à atividade pecuária pastoril. E a figura do gaúcho, bem como sua cultura e tradição, se moldou por esse ambiente e por essa vocação para a pecuária. Nós não desmatamos para produzir, temos o ambiente propício, e a Apropampa pretende comunicar isso aos seus consumidores”, destaca o pesquisador.
Ao mesmo tempo, segundo ele, trabalhar pelo fomento à boa produção, constância e qualidade ofertadas ao consumidor, é uma necessidade. “Daí outro dos eixos de trabalho entre a Embrapa e a Associação. Fazer essa parceria com a Embrapa qualifica a produção e promove a diferenciação do produto, possibilitando incremento de renda ao longo de toda a cadeia”, acrescenta Sant’Anna.
O pesquisador informa que Embrapa participou de todo o processo que resultou na conquista do selo, desde o apoio à formação da Apropampa até os estudos técnicos de delimitação da área geográfica para identificação da origem da carne. Atualmente, a empresa busca parcerias para disseminação da marca. O primeiro abate com o selo da marca coletiva foi realizado inicialmente em Pelotas. Agora, a Apropampa busca firmar parceria com frigoríficos interessados em colocar no mercado a carne com o selo da marca.
Saúde e sustentabilidade
A carne de bovinos criados livres no Pampa é mais saudável do ponto de vista nutricional. Além do importante fornecimento de nutrientes como ferro e vitaminas do complexo B, apresenta maiores teores de ômega 3, se comparada aos criados em confinamento. As pesquisas que comprovam isso são referenciadas pelo Laboratório de Ciência e Tecnologia de Carne da Embrapa Pecuária Sul, sob a liderança da pesquisadora Élen Nalério, e mostram que a carne produzida nos campos naturais do bioma Pampa tem perfis de gorduras benéficos aos consumidores.
“No Pampa, a alimentação dos animais, composta em sua maior parte pela rica variedade dos pastos naturais, dá origem a um produto com perfil de gordura mais saudável, já que possui mais ômega 3 do que ômega 6”, explica a pesquisadora.
Élen acrescenta que é no campo que quase tudo acontece, com a alimentação do animal cumprindo papel determinante nesse processo. “O sistema de criação e terminação do animal interfere diretamente nas características da carne. Entre um extremo, de produção extensiva, somente com pastagens, até o outro extremo, de confinamento total, com alimentação por grãos, há a formação de produtos totalmente diferentes”, diz.
Essa diferença se dá não apenas no tipo de gordura formada. “Os bovinos são animais naturalmente prontos para fazer a digestão de fibras, de pasto. Para fazer a digestão de grãos, eles precisam passar por uma adaptação. Essa variação de alimentação faz com que sejam formadas gorduras totalmente diferentes, e isso interfere também no sabor e no aroma do produto”, ressalta a pesquisadora.
A pesquisadora ressalta que não há como afirmar que a carne produzida no Pampa é melhor, uma vez que a avaliação envolve diversos fatores subjetivos. “No entanto, pode-se garantir que ela é diferenciada por vários motivos. Um deles é que a alimentação do gado nos campos nativos pode formar um tipo de gordura com melhor qualidade nutricional, que é uma característica que tem despertado grande interesse do público”, conta a cientista. “O perfil lipídico dessa carne é comprovadamente mais saudável. Isso é um diferencial que pode e deve ser trabalhado como oportunidade de valorização no mercado”, recomenda.