O uso de drones permite a aplicação de um fungo, inimigo natural dos carrapatos, em grandes áreas, como gramados e fazendas, evitando o aparecimento dos parasitas em bovinos
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto Biológico (IB-APTA), está desenvolvendo uma pesquisa para controle do carrapato-estrela e carrapato-do-boi utilizando controle biológico.
A estratégia dos pesquisadores utiliza uma cepa de fungo selecionado pelo Instituto, chamada IBCB 425, que se mostrou eficiente para o controle desses carrapatos em grandes áreas, como gramados, parques públicos e fazendas, por exemplo. Pesquisadores do IB e do Instituto Agronômico (IAC-APTA) estudam utilizar drones para fazer a aplicação do produto.
O carrapato-estrela é um grande problema, por ser causador da febre maculosa, doença que contaminou 823 pessoas no Estado de São Paulo de 2007 a 2019, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net). Já o carrapato-do-boi traz enormes prejuízos para a pecuária, estimados em mais de um bilhão de dólares no Brasil, anualmente.
Inimigo natural
Segundo a pesquisadora do IB, Marcia Mendes, a estratégia dos especialistas é usar o fungo Metarhizium anisopliae (IBCB 425) amplamente utilizada para controle da cigarrinha-da-raiz na cana-de-açúcar, para controlar larvas, ninfas e adultos de carrapatos-estrela e do boi no ambiente em que ficam as capivaras e os bovinos, respectivamente.
“Estamos padronizando a aplicação em áreas de parques e fazendas utilizando drones, cedidos pelo CEO, Nei Brasil, da empresa VOA, o que facilitaria muito o trabalho dos gestores públicos, no caso da febre maculosa, e dos produtores rurais, no caso do carrapato-do-boi”, explica Marcia, que desenvolve pesquisa em conjunto com os pesquisadores do IB, Fernanda Calvo Duarte e Leonardo Costa Fiorini.
Os testes de padronização do uso de drones estão sendo realizados no Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico (IAC-APTA), em Jundiaí, com o pesquisador Hamilton Humberto Ramos. A iniciativa conta com a colaboração dos pesquisadores Susi Leite e Hannes Fischer da FATEC Pompeia – Shunji Nishimura.
De acordo com Marcia, o Metarhizium anisopliae se mostrou eficaz para o controle da fase adulta, ninfa e de larva do carrapato-estrela. “Nossos estudos mostram que na fase de chuvas, o fungo selecionado pelo IB é ainda mais eficiente. Na época da seca, ele foi um pouco menos eficaz, mas ainda bastante promissor”, afirma. Os testes do IB foram realizados nos municípios de Salto e Pirassununga e agora em Jundiaí.
No caso dos bois, o experimento com aplicação da cepa do IB no pasto está na fase final e tem mostrado eficiência no controle do carrapato dos bovinos.
“Os carrapatos parasitam nos bovinos e depois de 21 dias vão para o solo, onde colocam cerca de três mil ovos, que em 15 dias virarão larvas. Desta forma, é importante a estratégia de controle desses carrapatos no pasto, para quebrar o ciclo e reduzir a infestação. O uso do controle biológico, porém, não impedem a utilização de remédios nos animais. Há uma complementação de esforços”, diz Marcia.
Os estudos do Instituto estão sendo conduzidos em Pindamonhangaba, com a participação do pesquisador José Roberto Pereira.
Benefícios
A pesquisadora explica que o uso do inimigo natural para o controle dos carrapatos traz grandes benefícios. Isso porque pode reduzir ou até mesmo eliminar o uso de produtos químicos, o que traz vantagens para a sustentabilidade ambiental e para a saúde dos trabalhadores.
“Além disso, o uso inadequado de produtos químicos para o controle do carrapato do boi, por exemplo, pode causar intoxicação dos animais. Atendemos recentemente um produtor que acabou aplicando um produto não indicado para vacas prenhas, o que causou a morte dos animais”, conta a pesquisadora do IB.
As pesquisas para o uso da IBCB 425 no controle de carrapato estrela e do boi ainda não foram concluídas. O IB solicitou pedido ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para liberação dos produtos naturais para essa finalidade. Somente após essa liberação do Ministério, os produtores e gestores poderão fazer o uso desse produto.