Assim, a pecuária catarinense pode ajudar no cumprimento das metas assumidas pelo governo na COP 26
A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) está desenvolvendo o projeto Pecuária conSCiente Carbono Zero, que visa a redução das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) provenientes da produção de bovinos. Com essa iniciativa, os pesquisadores da entidade podem contribuir para o cumprimento da meta assumido pelo governador Carlos Moisés na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021, a COP 26, de reduzir em 50% as emissões de GEE e 30% as emissões de metano, até 2030.
A Secretaria de Estado da Fazenda destinou R$2.573.200,00 para desenvolvimento das pesquisas, que serão realizadas em parceria com a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O Brasil tem o segundo maior rebanho bovino do planeta, com 218 milhões de animais, é o segundo maior produtor de carne bovina e o quarto maior produtor de leite do mundo. A agropecuária responde por 12% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) mundiais.
“No Brasil, do total de emissões, 28,5% são oriundos da agropecuária. A produção de bovinos de leite e de corte tem grande participação na emissão de metano, representando 65% de toda a emissão”, afirma Tiago Celso Baldissera, pesquisador da Estação Experimental da Epagri em Lages e coordenador do projeto Pecuária conSCiente Carbono Zero.
Aquecimento global
A emissão de gases do efeito estufa é uma das responsáveis pelo aquecimento global. Gás carbônico (CO2), metano e óxido nitroso são os principais causadores do efeito estufa. Segundo Baldissera, a presença de metano e gás carbônico em concentrações elevadas na atmosfera impede que o calor irradiado pelos raios solares retorne ao espaço, provocando a elevação da temperatura do planeta.
“Metano é o principal gás emitido pelos bovinos durante a digestão do pasto via eructação, ou seja, o arroto. Quando se trabalha a pecuária bem manejada, principalmente à base de pastagens, se consegue estabelecer estratégias de mitigação, para alcançar saldo positivo do balanço do efeito estufa, ou seja, capturar mais do que emitir”, diz o pesquisador, lembrando que este é um dos objetivos do projeto.
A pesquisa vai também definir parâmetros que permitam calcular a pegada de carbono da pecuária bovina. Segundo o pesquisador, a alimentação à base de pasto preconizada pela Epagri tem papel fundamental.
“É a partir da raiz que as plantas acumulam e armazenam carbono no solo. A planta faz a fotossíntese, onde captura CO2, utilizado para produzir folhas, colmos e raízes. Como as plantas servem de alimento para os animais, as raízes constantemente se renovam”, explica o pesquisador da Epagri. “A raiz morta que fica no solo se degrada e o CO2 que foi obtido da atmosfera vai parar na raiz e é aí que vai acontecer o acúmulo de carbono”, acrescenta.
Resultados
Entre os resultados esperados do projeto estão a redução potencial de mais de 50% da produção de metano entérico; redução das emissões de óxido nitroso e de 30% da adubação nitrogenada; definição da intensidade das emissões de metano por bovinos de corte e leite; elaboração de recomendações técnicas de inclusão de aditivos nutricionais, manejo adequado de pastagens, introdução de leguminosas e de árvores que permitam aumento da eficiência e produtividade de bovinos em pastagens, com redução da intensidade das emissões de GEE; estabelecimento de recomendações técnicas visando o aumento da estocagem de carbono no solo, com potencial de incorporação de mais de uma tonelada ao ano de carbono.
Também serão gerados subsídios para políticas públicas, além de definição do potencial de agregação de valor para abertura de mercados para produtos de origem bovina, visando consumidores que valorizam a produção sustentável.
Investimentos
O projeto começou em maio e tem prazo de quatro anos para ser concluído. Nessa primeira fase estão sendo adquiridos os equipamentos. O principal deles é o GreenFeed Pasture System, um analisador de emissão de gases metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2) em bovinos. Tiago esclarece que o equipamento permite atingir objetivos de forma rápida, econômica e precisa, quando comparado ao método tradicional de avaliação. “A compra elimina a necessidade de investimentos em estrutura física e equipamentos de laboratório para análise de gases emitidos pelos sistemas avaliados”, comenta.
Os equipamentos a serem adquiridos ainda têm como vantagens a obtenção dos resultados em tempo real. Também serão feitos investimentos em estrutura e instalações de campo para experimentos com animais, além da compra de outros itens e contratação de serviços.
Papel da agropecuária
A agropecuária tem papel fundamental na redução da emissão de gases do efeito estufa. No relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lançado em 4 de abril, ficou claro que a redução nos próximos oito anos das emissões GEE no setor de agricultura, florestas e outros usos da terra no Brasil e demais países da América Latina e do Caribe é essencial para atingir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC até 2030.
“Esse setor é especialmente relevante para solucionar a crise climática porque pode proporcionar não somente a redução das emissões de GEE, mas também remover e armazenar CO2 em escala”, declarou Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB) e uma das autoras do relatório.