Nova metodologia da Embrapa indica uma redução de 30% na estimativa de emissões de gases do efeito estufa de rebanhos bovinos no Rio Grande do Sul (Foto: Keke Barcelos/Embrapa)
Uma nota técnica revolucionária, produzida pela Embrapa Pecuária Sul em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Sema), propõe uma nova metodologia para quantificar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes do rebanho de bovinos de corte no estado.
De acordo com o documento, a estimativa das emissões pode ser cerca de 30% menor do que o atualmente calculado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O lançamento oficial dessa nota técnica ocorreu durante a Expointer deste ano, um dos maiores eventos agropecuários da América Latina. A proposta é baseada em uma simulação que comparou duas metodologias distintas, ambas recomendadas pelo IPCC, para medir as emissões de metano (CH4) dos bovinos de corte no Rio Grande do Sul.
Comparação entre metodologias
A pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, Cristina Genro, explicou que o IPCC, responsável pelas diretrizes globais para a mitigação dos GEEs, sugere diferentes abordagens para a medição das emissões de gases pela pecuária.
No Brasil, o método “tier 1” é o mais utilizado, sendo aplicado em países que ainda não possuem fatores específicos de emissão. Esse método generaliza as emissões para 56 kg de metano por animal por ano, com base em um bovino de 430 kg, sem considerar variações como o sistema de produção ou a categoria do animal.
“Essa forma de avaliar estabelece para bovinos de corte uma emissão de 56 kg de metano (CH4) por cabeça por ano, considerando como referência um animal de 430 kg de peso corporal, sem levar em consideração o sistema de produção, a categoria do animal, a digestibilidade e a finalidade da produção, por exemplo”, destacou Cristina Genro.
Por outro lado, a metodologia “tier 3”, também proposta pelo IPCC, considera medições experimentais mais precisas, levando em conta as condições específicas de produção. Essa abordagem, segundo Cristina, já foi explorada em pesquisas anteriores e pode oferecer uma estimativa mais realista para a pecuária gaúcha.
“A simulação apresentada na nota técnica mostra que o uso dos valores gerados pela pesquisa significa uma redução de 30,1% na estimativa da emissão do rebanho de bovinos de corte do estado, quando comparado com os dados oficiais utilizados pelo país em 2022”, afirmou a pesquisadora.
“Esses resultados da pesquisa já estão disponíveis para serem utilizados nos inventários de emissões e remoções de gases de efeito estufa do estado”, completou.
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Revisão do inventário de emissões no Brasil
Esses resultados significativos abrem espaço para uma potencial revisão dos inventários de emissões de GEE no Brasil, especialmente no setor pecuário.
A coordenadora da Assessoria do Clima da Sema, Daniela Mueller de Lara, destacou a importância da nota técnica, afirmando que ela traz novos subsídios para aperfeiçoar as metodologias de medição.
“Vamos avaliar a utilização dessa metodologia para a medição das emissões dos GEEs pelo rebanho bovino do Rio Grande do Sul. A ideia é dar continuidade a esse trabalho, convidando diferentes atores da sociedade para essa discussão”, ressaltou.
Além da nova metodologia de medição, o documento também discute estratégias para mitigar as emissões de metano na pecuária. Entre as ferramentas mencionadas estão o manejo adequado do pasto, melhoramento genético, manipulação da fermentação ruminal e melhorias na dieta animal.
A pesquisa indica que, com o aumento da produtividade e a eficiência dos sistemas de produção, é possível reduzir significativamente as emissões sem comprometer a demanda por carne.
A nota técnica da Embrapa e Sema não só propõe uma revisão nas estimativas de emissões, mas também aponta caminhos concretos para uma pecuária mais sustentável e alinhada com os desafios globais de mitigação dos gases de efeito estufa.