Carrapaticida feito com extrato de plantas aromáticas é capaz de eliminar 80% dos carrapatos na primeira semana de aplicação. O produto é totalmente natural e com baixa toxicidade, o que também garante bem-estar animal e evita a contaminação do meio ambiente
A ciência agropecuária tem se dedicado a estudar plantas aromáticas, como mentas, capim limão, citronela, funcho, pimenta rosa, entre outras, a fim de encontrar nelas a solução para alguns problemas comuns da produção agrícola e pecuária.
Um dos exemplos é o carrapaticida natural com capacidade para combater os parasitas em bovinos de forma eficiente e rápida, que consegue eliminar cerca de 80% dos carrapatos na primeira semana de aplicação.
O produto foi desenvolvido pelo Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em parceria com a empresa HYG System.
O diferencial está em não utilizar nenhum composto sintético em sua formulação, além da ação rápida sobre os carrapatos. Outra vantagem está na aplicação localizada, pulverizando o produto onde há maior infestação de carrapatos.
Primeiros testes
Testes em laboratório apresentam 100% de mortalidade da fêmea, que nem chega a por ovos.
“Quanto mais rápida a eliminação dos carrapatos, principalmente, das fêmeas que sugam o sangue do animal, mais rápida será sua recuperação de peso e de produtividade”, explica o farmacêutico responsável pela formulação, Leandro Rodrigues, que integra o projeto de pesquisa juntamente com as pesquisadoras do IZ, Cecília José Veríssimo e Luciana Morita Katiki.
Outro diferencial é a ação sob todas as fases do carrapato. Após a aplicação do produto, as fêmeas ingurgitadas e demais fases dos carrapatos secam, de modo que não chegam a por ovos.
“Com isso, há eliminação de grande parte da população, evitando a resistência dos carrapatos ao produto. A resistência é um dos grandes problemas para o controle do carrapato e este carrapaticida natural consegue driblá-la”, afirma o bioquímico Germano Scholze, proprietário da HYG System. Os testes realizados pelo IZ mostram que o produto é eficaz e seguro para o animal e para o aplicador, se utilizado da maneira correta.
Sutentabilidade
Segundo Luciana Katiki, o produto tem como foco a sustentabilidade, por não deixar resíduos no ambiente. “O projeto é muito positivo, pois com esse trabalho de parceria priorizamos o desenvolvimento de um produto que seja usufruído de imediato pelos produtores, beneficiando, principalmente, os animais, por ser natural e com baixa toxicidade”, explica.
Para a pesquisadora do IZ, Cecília José Veríssimo, o carrapato do boi (Rhipicephalus microplus) traz grandes prejuízos à pecuária nacional, estimados em mais de US$ 3 bilhões por ano.
O projeto mostra a importância de se desenvolver trabalhos em parcerias público-privada, que resultam em inovações para o setor de produção. “O novo produto pode revolucionar a pecuária brasileira, agregando valor ao setor produtivo, à pesquisa e à empresa parceira”, disse.
Óleos essenciais na produção do leite
O Centro de Pesquisa de Bovinos de Leite do IZ também realizou estudos com fitoterápicos na dieta de vacas em lactação para aumentar a produção e qualidade do leite.
Segundo o pesquisador do Instituto, Luiz Carlos Roma Júnior, o uso de aditivos fitoterápicos era utilizado principalmente como promotores de crescimento e para melhorar a fermentação ruminal. Nesta pesquisa, foi possível avaliar a utilização de óleo essencial de plantas medicinais, adicionados a dietas das vacas, para o controle da mastite, sem uso de antibióticos.
Na pesquisa foi estudada a dose ideal para não influenciar os parâmetros ruminais e os efeitos sobre a produção de leite, além do consumo de matéria seca, parâmetros de qualidade e imunologia das vacas, além do tempo do leite na prateleira. “Ocorreram melhoras do sistema imunológico e o tempo de prateleira aumentou expressivamente, passando de sete para nove dias”, explica Roma.
“Pensando na segurança alimentar, sem uso de antibióticos, não existirá o resíduo no leite, dispensando o descarte do produto, diminuindo o prejuízo para o produtor, além de preservar o meio ambiente com menor geração de resíduos e descartes. Há ainda uma questão pública mundial, com o uso dos óleos pode ser possível diminuir a resistência bacteriana – um dos estudos atuais presente no Instituto”, ressalta o pesquisador.
Segundo Roma, a grande relevância está em um produto seguro, aplicável e sustentável, que não deixa resíduos no leite e pode ser utilizado em propriedades com produção de leite orgânico.
Hidrolatos
Os óleos essenciais são líquidos altamente concentrados extraídos de plantas aromáticas. O processo de extração desses óleos é normalmente realizado através da destilação por arraste a vapor, em que o vapor extrai os óleos essenciais da planta e depois é condensado.
Após o processo de condensação e separação do óleo essencial, sobra a água condensada, cheia de componentes hidrossolúveis, chamada de hidrolato, hidrossol, água floral ou água aromática. Até pouco tempo atrás, esse hidrolato era considerado um resíduo do processo de extração no Brasil. Hoje, ele é visto como um produto de alto valor agregado.
“O hidrolato é bastante conhecido no exterior, utilizado milenarmente na medicina tradicional persa e na culinária árabe, por exemplo. Países da Europa o utilizam bastante na produção de perfumes, cosméticos, como águas aromáticas e na gastronomia em geral. Ele também pode ser usado na conservação de alimentos, aumentando o tempo de prateleira dos produtos e até mesmo na produção de bebidas.
No Brasil, seu uso ainda é incipiente, sendo utilizado na indústria de perfumes e cosmética. Existem poucos estudos de seu potencial como insumo agropecuário para controle de pragas e doenças e na gastronomia”, conta Sandra Maria Pereira da Silva, pesquisadora da APTA que atua no Polo Regional de Pindamonhangaba.
A APTA tem se dedicado a estudar esses hidrolatos, seu processo de produção e seus usos. Os trabalhos envolvem testes de hidrolatos obtidos a partir da extração de óleos essenciais do capim limão, capim tailandês, citronela, gerânio, cidreira brasileira, funcho, mentas, alecrim e alecrim pimenta, entre outras espécies.
“Os trabalhos buscam promover a cadeia produtiva, melhorar o processo de extração, para conseguirmos um produto de alta qualidade e com menos uso de água, identificar oportunidades de usos desse produto na produção de alimentos, indústria agropecuária e gastronomia, além de transferir tecnologias e conhecimentos aos produtores rurais e interessados na atividade”, explica a pesquisadora da APTA, que desenvolve os projetos em conjunto com o Laboratório de Fitoquímica do Instituto Agronômico (IAC-APTA).