Apesar da alta nos custos de produção, pecuaristas que se preparam para esse período conseguem aumentar sua remuneração
Marcado por poucas chuvas, baixas temperaturas e menor oferta de forragem para alimentação das vacas no campo, o inverno é uma estação que traz muitos desafios aos pecuaristas de leite pelo país. Os produtores que conseguiram manter a sua produção nesse período nunca foram tão bem remunerados quanto agora, ainda que os custos de produção também tenham sido reajustados.
Com o pagamento de 3,19 por litro de leite na “Média Brasil”, valor recorde real da série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP, os pecuaristas que fizeram um bom manejo, principalmente da pastagem, tiveram a oportunidade de se capitalizarem nesse período. Em julho, o preço do litro de leite aumentou 19,1% frente ao mês anterior e ficou 24,7% acima da média registrada no mesmo mês do ano passado.
Cenário
Este aumento se explica pela menor oferta de leite no campo em junho e pela maior disputa das indústrias de laticínios pela compra da matéria-prima para a produção de lácteos. A diminuição da produção de leite no campo e, consequentemente, a redução dos estoques de lácteos no último mês está relacionada à entressafra em um contexto de redução de investimentos na atividade.
Segundo a engenheira agrônoma e assistente técnica de sementes na Sementes Oeste Paulista (Soesp), Thais Cavaleti, esse cenário mostra que o produtor de leite precisa se preparar para esse período, seja com pastagem vedada, silagem, feno, sistemas integrados ou outros.
“Todos os anos temos um período de sazonalidade da pastagem, o que resulta em baixa produção da forrageira, esse é o desafio. A oportunidade é que como a oferta de leite nesse período do ano é baixa e, consequentemente, temos um aumento no valor pago pelo litro de leite para o produtor”, argumenta. “Aqueles que melhor se preparam para esse período têm a possibilidade de produzir mais com menor custo numa época de maior valorização do produto”, completa.
Cuidados com a pastagem
O produtor que deseja ter melhores margens com o leite e não ficar refém das suplementações com outros insumos precisa se preparar antecipadamente para a chegada do período de seca. Ou seja, é preciso garantir o fornecimento de alimento com qualidade para que os animais possam, na medida do possível, ter as suas exigências alimentares supridas nesse período de baixa oferta de forragem.
“A primeira dica é fazer um planejamento forrageiro e manejar corretamente o pasto, para que haja produção de forragem (oferta) para atender a demanda do animal o ano todo, reduzindo os impactos sobre a produção leiteira. Esse planejamento começa com a escolha correta da forrageira”, orienta a especialista e acrescenta que algumas forrageiras se destacam na época seca, como a brachiaria MG-4, por exemplo.
Essa brachiaria brizantha é uma opção para a diversificação de pastagens em solos de média fertilidade. Segundo Thaís, a vantagem da MG-4 é seu enraizamento agressivo, que permite que a planta busque umidade em grande profundidade do solo, o que confere a essa cultivar uma maior resistência ao período seco. “Dessa forma, a MG-4 consegue manter-se verde por mais tempo, com maior acúmulo de forragem e melhor valor nutritivo, se comparada com outras cultivares”, explica.
Além disso, a assistente da Soesp afirma que os pastos brachiaria MG-4 apresentam bom controle de invasoras sob pastejo mais intensivo. “Na integração lavoura-pecuária (ILP) é de fácil utilização com milho safrinha, para produção de forragem de outono-inverno e/ou de palhada para plantio direto. Sua dessecação requer baixas doses de glifosato”, observa.
Sementes
Um item importante no planejamento forrageiro é a atenção com a escolha da semente a ser utilizada. A recomendação é buscar sementes com alto grau de pureza e com boa procedência. “Esse tipo de cuidado ajuda a garantir a formação de uma pastagem homogênea, contribuindo para o aumento da produtividade do rebanho e otimizando a produção da fazenda como um todo”, finaliza Thaís.