A mamona além de ter maior concentração de proteína do que a soja, ainda pode reduzir as emissões de metano dos rebanhos (Foto: Gabriel Aquere/Embrapa)
Um estudo pioneiro da Embrapa, conduzido na unidade de Pecuária Sul, em Bagé (RS), está testando o farelo de mamona destoxificado como alternativa ao farelo de soja na alimentação de bovinos de corte.
O projeto, em parceria com a Embrapa Algodão e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), visa não apenas avaliar o consumo e a digestibilidade do farelo, mas também seu potencial para reduzir as emissões de metano pelos animais.
A mamona, conhecida por conter ricina, uma substância tóxica, passa por um processo de destoxificação na indústria, o que permite seu uso seguro na alimentação de ruminantes.
A zootecnista Bruna Machado, doutoranda responsável pelos estudos, explica que o farelo de mamona tem um teor de proteína bruta superior ao da soja, com até 45%, o que representa cerca de 10% a mais do que o farelo tradicional.
“Esperamos chegar às condições adequadas e seguras para uso do farelo de mamona nas dietas dos ruminantes, visando à suplementação dos animais tanto a campo quanto em confinamento”, afirma.
Avanços no uso do farelo de mamona
Testes anteriores já comprovaram que o farelo de mamona destoxificado não apresenta efeitos nocivos para pequenos ruminantes, como cabras e ovelhas, que, assim como bovinos, são animais poligástricos. No entanto, monogástricos, como aves e suínos, não podem consumir o coproduto devido à sua intolerância à substância.
O pesquisador da Embrapa Algodão, Liv Severino, que trabalha com mamona há mais de 20 anos, destaca a inovação representada pelos atuais experimentos:
“A Índia é a maior produtora e a China a segunda, e nenhum desses países conseguiu utilizar o farelo de mamona na alimentação animal. O que estamos fazendo aqui é um avanço mundial.”
Ele ainda ressalta o potencial econômico dessa pesquisa para agregar valor ao farelo de mamona, um subproduto da extração do óleo da planta.
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Metodologia e impacto ambiental
A pesquisa faz parte da tese de doutorado de Bruna, intitulada Uso seguro do farelo de mamona como alimento para animais ruminantes e para a redução das emissões de metano entérico.
A investigação conta com a colaboração do Laboratório de Pastos e Suplementos da UFSM e envolve 20 fêmeas Brangus, divididas em quatro grupos, que recebem diferentes níveis de inclusão de farelo de mamona em suas dietas. A base da alimentação inclui concentrado e pré-secado de aveia, com variações na proporção de farelo de mamona substituindo o farelo de soja.
Bruna explica que cada animal é identificado com um chip, que permite controlar o acesso a cochos específicos para cada tratamento.
Além do valor nutricional, a pesquisa está de olho no potencial do farelo de mamona para reduzir as emissões de metano entérico, gás produzido durante o processo de fermentação digestiva dos ruminantes.
“Como o Brasil possui um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, a formulação de dietas mais eficientes pode ser uma ferramenta crucial para reduzir as emissões e combater o aquecimento global”, observa a zootecnista.
A pecuária, além de contribuir para a redução de gases de efeito estufa por meio de dietas mais equilibradas, também pode auxiliar no sequestro de carbono através de práticas de manejo sustentável das pastagens. Isso torna a atividade cada vez mais sustentável e competitiva no cenário global.
Desafios da destoxificação
A mamona é tradicionalmente cultivada para a extração do óleo de suas sementes. O farelo, até então, era utilizado majoritariamente como fertilizante devido à sua toxicidade. A presença da ricina torna o resíduo perigoso, já que a proteína tóxica inibe a síntese proteica e pode causar morte celular.
No entanto, os avanços no processo de destoxificação têm permitido o uso do farelo de mamona na alimentação de ruminantes de forma segura, além de ser uma opção mais barata e com maior teor proteico do que o farelo de soja.
Esse estudo da Embrapa abre novos horizontes para o uso sustentável de subprodutos agrícolas, contribuindo não apenas para a saúde dos animais, mas também para a mitigação dos impactos ambientais da pecuária.
Fonte: Embrapa