Além de maior produtividade por área, prática promove menor consumo de energia nos sistemas de produção
Durante o período da estiagem, a escolha do volumoso suplementar na dieta de ruminantes deve levar em consideração diversos fatores para que o produtor possa equacionar a viabilidade econômica, custo estimado das opções e lucro a ser obtido.
O uso do insumo se faz necessário durante o período seco, por causa da baixa produção de forragens, limitação na capacidade de suporte das áreas de pastagens e manejo adotado, devido à estacionalidade de produção de forragens, fatores que limitam o potencial de produção do rebanho e o ajuste de estoque de animais nas pastagens pela produção mínima.
Conforme explica o zootecnista e consultor técnico da Connan, Lucas Barbosa Kondratovich, as forragens conservadas têm como objetivo fundamental aproveitar o excesso produtivo no período chuvoso e armazenar para a época crítica, mantendo suas qualidades nutritivas para serem fornecidas no cocho como volumoso suplementar no período de escassez. “Dentre as principais formas de conservação de forragem temos os fenos, silagens e pré-secados”, cita.
Por ser um alimento com baixa umidade, o feno, conservado em fardos bem compactados, reduz o armazenamento e facilita o manuseio. O zootecnista orienta que ele deve ser protegido de chuvas para que se possa ser conservado por longos períodos, pois a escolha da forragem utilizada é crucial para atender as necessidades produtivas e qualitativas.
Ele alerta ainda para o ponto de corte da forragem, considerado um fator de atenção para que se obtenha um balanço entre boa produção de forragem e valor nutritivo. É possível produzir de 5 a 10 t/ha de matéria seca, com teores de proteína bruta de 6% a 20%.
“Na fenação, a forragem é desidratada de tal forma que permanece biologicamente inativa com respeito à atividade enzimática da planta e dos microrganismos. Ela deve ser enfardada somente quando estiver com menos de 20% de umidade, pois, do contrário, permitirá o desenvolvimento de microrganismos que comprometem a qualidade do feno”, ensina.
Já as silagens, são forragens úmidas, conservadas em ambiente anaeróbio (sem entrada de oxigênio). Kondratovich explica que, durante o processo de fermentação, parte dos açúcares da forragem é convertido em ácidos graxos de cadeia curta, principalmente os ácidos lático e acético, que baixam o pH e permitem conservar a forragem por um longo tempo, podendo ser armazenado em um ano e utilizado no ano seguinte.
“Pode se ensilar desde plantas inteiras até grãos úmidos. A produção e os valores nutritivos variam muito de acordo com a escolha da planta: milho, capim, sorgo, entre outros”, comenta o especialista.
Em relação ao teor de umidade, Kondratovich informa que deve ser entre 60 %e 70%, média de 65%, e reforça a importância de triturar bem o material a ser ensilado em partículas de 0,5 cm a 5,0 cm de comprimento, compactar e vedar bem para diminuir a presença de oxigênio.
“A produtividade e a qualidade variam muito por espécie forrageira, podendo atingir de 10t a 40t MS/ha, e teor de proteína bruta entre 6% e 14%”, acrescenta o consultor.
Já em relação ao pré-secado, o consultor lembra que ele é uma silagem que, antes de ser armazenada, sofre perda de água para permitir fermentação e que essa diminuição da água ocorre no campo, onde o material pode ficar em exposição ao sol algumas horas após o corte.
“Uma vez atingida a concentração de matéria seca próximo a 45%, pode ser enfardado e plastificado para que não ocorra a penetração de água e mesmo oxigênio”, sugere.
Qual a melhor opção?
De acordo com o gerente comercial da Connan, Robson Leite, para que essa escolha seja a mais vantajosa ao produtor, é preciso oferecer, de forma comparativa, opções agrícolas para equacionar a disponibilidade de forragem na propriedade.
Segundo ele, entre os aspectos que devem ser abordados para a melhor escolha estão: a viabilidade agronômica, custo estimado das diferentes opções e respectivos aspectos ambientais referentes à produção de forragens e simulação de lucro sobre custo alimentar em sistemas de confinamento com diferentes volumosos.
Além de serem utilizados em sistema de confinamento, os volumosos suplementares podem ser usados em todas as fases produtivas do sistema pecuário, como, por exemplo, no sequestro de vacas e/ou bezerros. “As principais utilizações desses volumosos ocorrem no período da seca, onde a disponibilidade e qualidade do capim são prejudicada. Assim, complementar a dieta dos animais com fonte de volumoso se torna desejável”, afirma Leite.
Da mesma forma, para o sequestro de bezerros, a suplementação de volumoso durante o período seco se torna vantajosa para um ótimo desempenho desses animais na recria, tendo um crescimento desejável e atingindo peso adequado, seja para a terminação ou para a reprodução, rapidamente.
“Além de auxiliar na produtividade durante a seca, o sequestro desses animais auxilia na redução de taxa de lotação nas demais áreas de pasto da propriedade, liberando capim para que as demais categorias também possam desempenhar bem, sem prejudicar a pastagem nesse período desafiador”, acrescenta Kondratovich.
Do ponto de vista de produtividade agronômica, segundo estudo apresentado na Revista Brasileira de Zootecnia, a cultura de cana-de-açúcar destaca-se com maior rendimento por unidade de produto animal e de receita líquida por área explorada, bem como sua competitividade em custo por unidade de massa seca e de nutriente contido.
“Na simulação de engorda confinada, a receita líquida sobre o custo alimentar da arroba foi 19,75%, superior. No caso da produção de leite, 7,48% maior que aquelas apontadas para a silagem de milho”, informa o gerente.
Nesse estudo, as silagens de capins tropicais, embora apresentassem elevada produtividade, tiveram alto custo de matéria seca e nutrientes, decorrente das perdas importantes no processo de conservação e dos custos dos conjuntos mecanizados utilizados nas operações de colheita, transporte e compactação.
“A decisão final pelo volumoso mais interessante deverá considerar situações específicas, tendo a função de otimização das características do sistema adotado”, pontua Leite.
O gerente salienta que é importante explorar ao máximo o potencial da forrageira que a propriedade resolver adotar como volumoso suplementar e observar os ganhos de eficiência na capacidade de colheita e conservação de forragens de alta produtividade.
Benefícios ao meio ambiente
A escolha do volumoso suplementar frente aos desafios ambientais é um assunto em crescente evidência, uma vez que o uso eficiente da energia pelos setores da agricultura é uma das condições para se garantir a sustentabilidade.
Atualmente, a preocupação mundial com as mudanças climáticas do planeta tem aumentado, em função principalmente da emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa (GEE), como o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).
Promover a comparação de culturas forrageiras para fins de suplementação de animais é uma função estratégica e fundamental para a exploração de maior produtividade por área e menor consumo de energia nos sistemas de produção. A cultura de cana-de-açúcar vem sistematicamente assumindo posição de destaque nesse sentido, mas ainda existem poucos trabalhos científicos nessa área.
Leite informa que o balanço energético das dietas onde essas forragens são incluídas aponta vantagens na obtenção de maior valor nutritivo nesses volumosos e reitera o interesse pelas boas práticas agronômicas e de conservação, frequentemente justificadas pela redução do custo unitário do nutriente veiculado.
“A decisão final pelo volumoso mais interessante remete às considerações integradas de competência agronômica, zootécnica e ambiental, revelando diversas opções de ótimo para situações específicas, sobrepondo-se a solução única e generalista, caracterizando-se como sistema-dependente”, conclui o gerente.