Para produzir a carne de frango halal, que é exportada para o mercado saudita, empresas brasileiras tiveram de adaptar suas fábricas e efetivos. As aves, por exemplo, devem ser abatidas com o peito voltado para a Meca e os sangradores têm de ser muçulmanos praticantes. Foto: Marcelo Min (in memorian)/Divulgação
O serviço sanitário da Arábia Saudita divulgou, recentemente, a nova relação de frigoríficos brasileiros autorizados a vender carne de frango para seus consumidores. Ao todo, 25 estabelecimentos do País foram habilitados, cinco a menos em comparação ao ano passado.
Para o mercado, ainda é um mistério o real motivo para que cinco plantas fossem excluídas, dentre elas uma da JBS e outra da BRF, que estão entre as maiores do setor, de acordo com informações da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Especula-se que a motivação tenha sido de cunho religioso.
Chamada de “frango halal”, a carne comprada pelo mercado árabe segue os princípios do Islã, tanto no abate quanto na produção. E é exatamente por seguir as normas religiosas do islamismo – que priorizam, inclusive, o bem-estar animal – que o Brasil alcançou o patamar de maior exportador de frango halal do mundo.
Para produzir esse tipo de carne, empresas nacionais tiveram de adaptar suas fábricas e seu corpo de funcionários. As aves, por exemplo, devem ser abatidas com o peito voltado para a cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita, e os sangradores têm de ser muçulmanos praticantes. O abate também deve ser feito manualmente.
Exigências do abate
Na prática, o termo halal significa “legal”, “permitido para consumo”, mas o conceito vai além, passando por princípios que vão desde o respeito a todos os seres vivos às questões sanitárias. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a preocupação com a higiene do alimento também se estende ao bem-estar do animal, no caso dessas proteínas.
Para os islâmicos, o ritual de abate do boi ou do frango deve ser feito apenas pela degola, como forma de garantir a morte instantânea do animal. No sistema tradicional de abate bovino, a insensibilização, por meio de métodos que levam ao atordoamento, deve ser feita antes da sangria.
Segundo o Mapa, “todos os procedimentos com o abate devem ser realizados por um muçulmano praticante, em geral árabe, treinado especificamente para essa função”.
Ainda conforme o Ministério da Agricultura, o oficio do degolador é estritamente ligado às tradições religiosas e o abate envolve diversos ritos. Um deles estabelece que cada animal, que passa pela mão desse profissional, seja oferecido a Alá antes de ser morto.
Nesse momento, ele deve pronunciar, em árabe, a expressão “em nome de Deus” e só depois sacrifica o animal. Esse oferecimento ocorre na intenção de que o animal não sofra e que o sacrifício seja apenas para o sustento de quem dele se alimenta.
Missão recente pode ter identificado falhas
A aprovação das 25 plantas frigoríficas e a exclusão de cinco delas, para a comercialização de carne de frango ao mercado árabe, vieram após a realização de uma missão técnica saudita, enviada ao Brasil em outubro de 2018. Na ocasião, profissionais daquele país visitaram frigoríficos, fazendas e fábricas de ração em todo o Brasil
Segundo o Ministério da Agricultura, os 25 empreendimentos brasileiros habilitados já respondiam por 63% do volume de carne de frango embarcada com destino à Arábia Saudita. As plantas aprovadas foram avaliadas satisfatoriamente pela autoridade sanitária saudita Saudi Food and Drug Authority (SFDA).
No dia 21 de janeiro, o Mapa tomou conhecimento do relatório publicado pelo serviço sanitário do país parceiro e, de acordo com sua assessoria de imprensa, o documento está sendo examinado para que os estabelecimentos sejam informados, em detalhes, sobre as recomendações encaminhadas pelos sauditas.
A Associação Brasileira de Proteína Animal se pronunciou dizendo que “as razões informadas para a não autorização das demais plantas habilitadas decorrem de critérios técnicos” e que “planos de ação corretiva estão em implementação para a retomada das autorizações”.
“A ABPA está em contato com o governo brasileiro para que, em tratativa com a Arábia Saudita, sejam solvidos os eventuais questionamentos e incluídas as demais plantas”, diz a Associação, em nota divulgada em seu site.
Instituição que representa e defende as indústrias de abate e processamento de aves no Estado de Santa Catarina, a Associação Catarinense de Avicultura (Acav) também se pronunciou: “Em primeiro lugar é imperioso enfatizar que a suspensão das importações não decorre de nenhum problema técnico, sanitário ou logístico por parte das indústrias avícolas. A missão oficial da Arábia Saudita esteve no Brasil em 2018, para inspecionar as unidades e proceder a renovação da certificação do abate halal e, desse processo, resultou que algumas plantas não foram certificadas”.
Importação
Em 2018, o Brasil enviou 486,4 mil toneladas de carne de frango para a Arábia Saudita, o equivalente a 12,1% do total embarcado no ano. A China foi o segundo maior mercado.
Em 21 de janeiro, os chineses acertaram um acordo com exportadoras para encerrar uma disputa por conta do preço, segundo notícia veiculada pelo Portal G1.
Veja a lista dos frigoríficos autorizados, atualmente, a exportar frango para a Arábia Saudita, segundo o Ministério da Agricultura:
- BRF de Dourados (MS)
- BRF de Videira (SC)
- BRF de Capinzal (SC)
- SHB (BRF) de Francisco Beltrão (PR)
- SHB de Buriti Alegre (GO)
- SHB de Dois Vizinhos (PR)
- SHB de Nova Mutum (MT)
- Frigorífico Nicolini (BRF) de Garibaldi (RS)
- JBS de Passo Fundo (RS)
- JBS de Montenegro (RS)
- Seara (JBS) de Brasília (DF)
- Seara de Campo Mourão (PR)
- Seara de Itaiópolis (SC)
- Seara de Amparo (SP)
- Seara de Itapiranga (SC)
- Seara de Ipumirim (SC)
- Vibra Agroindustrial de Itapejara D’Oeste (PR)
- Vibra Agroindustrial de Sete Lagoas (MG)
- Vibra Agroindustrial de Pato Branco (PR)
- Jaguafrangos de Jaguapitã (PR)
- Zanchetta Alimentos de Boituva (SP)
- Bello Alimentos de Itaquiraí (MS)
- Frigorífico Nova Araçá de Nova Araçá (RS)
- DIP Frangos de Capanema (PR)
- LAR Cooperativa Agroindustrial de Matelândia (PR)
SC: precursor em vendas para mercado árabe
Santa Catarina possui cinco plantas frigoríficas habilitadas a exportar carne de frango para a Arábia Saudita e todas elas foram mantidas: Seara de Itaiópolis, BRF de Capinzal, Seara de Itapiranga, Seara de Ipumirim e BRF de Videira.
De acordo com o secretário estadual da Agricultura e da Pesca, Ricardo de Gouvêa, Santa Catarina é o Estado precursor nas exportações para o mercado árabe, mantendo sua forte tradição no fornecimento de carne de frango para aquele país.
“As suspensões possuem critérios técnicos e o Brasil fará o possível para atender às exigências do serviço sanitário da Arábia Saudita. É importante lembrar que ainda não temos informações sobre plantas frigoríficas catarinenses impedidas de exportar”, destaca Gouvêa.
A carne de frango é o principal produto da pauta de exportação catarinense. No ano passado, foram mais de um milhão de toneladas embarcadas para mais de 135 países, gerando receitas de 1,8 bilhão de dólares.
A Arábia Saudita foi o terceiro maior comprador da carne de frango produzida em Santa Catarina, em 2018. O Estado embarcou 113,7 mil toneladas do produto com destino ao mercado árabe, faturando mais de 183,4 milhões de dólares, o que significou um aumento de 40% nas receitas, em comparação com 2017.
Santa Catarina é responsável por 23,37% de toda a exportação brasileira de carne de frango para Arábia Saudita.