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Os ventiladores devem ser mantidos funcionando durante toda a etapa de “pega” das aves – Foto: Marília L. Queiroz
Aparentemente, retirar as aves dos galpões de criação para o abate parece ser um trabalho simples, porém, exige muito treinamento e força física por parte dos prejuízos envolvidos neste processo
O setor produtivo de frangos de corte sempre direcionou sua atenção para as áreas de nutrição, sanidade e genética. Pouco dedicou a devida importância para áreas diretamente ligadas à qualidade final do produto. Este é o caso da fase de “pega” ou captura das aves, etapa inicial das chamadas operações pré-abate. Atualmente, reduzir perdas durante este período é um dos grandes desafios dos produtores de frangos, já que o pré-abate pode gerar elevados índices de perdas. Porém, até então, nem todo o prejuízo e danos ocorridos com as aves durante a pega eram percebidos ou contabilizados pela cadeia avícola em geral.
Talvez devido ao fato de que muitos dos danos ocorridos durante a atividade de pega ou apanha das aves, como hematomas e fraturas, só são realmente percebidos após a depenagem.
Redução de perdas
Assim, é de fundamental importância uma abordagem acerca deste tema, levando-se em consideração principalmente os princípios do bem-estar animal e a redução de perdas.
Aparentemente, retirar as aves dos galpões de criação para o abate parece ser um trabalho simples, porém, exige muito treinamento e força física por parte dos envolvi dos neste processo. Este é um momento bastante dinâmico, pois, constantemente, pessoas entram e saem dos galpões carregando os frangos até o caminhão de transporte, sendo necessário bastante esforço e agilidade por parte dos trabalhadores.
Menos lesões e traumas
Sabendo destes aspectos, durante a pega, alguns cuidados devem ser tomados a fim de minimizar lesões e traumas nas aves.
São mudanças simples no manejo que podem gerar grandes benefícios. São elas:
- O primeiro e mais importante passo, é treinar, de forma adequada, os funcionários que trabalham na apanha. Cada pessoa envolvida neste processo deverá saber exatamente a função que vai desempenhar e conhecer bem suas responsabilidades. Se possível, todos deverão seguir instruções detalhadas passadas previamente.
- Antes que ocorra a pega, deve ser feita uma avaliação da ambiência interna do galpão. Caso os valores de temperatura e umidade relativa do ar estejam elevados, fora do nível de conforto das aves, a operação de pega deverá ser interrompida, devido ao maior grau de estresse a que as aves estarão submetidas, o que poderá aumentar, ainda mais, as perdas.
- Devem ser feitos “círculos de captura”. Esta é uma prática que facilita a pega pelo fato de se trabalhar com pequenos grupos de aves e evitar grandes movimentações e aglomeração das mesmas;
- Antes de serem feitos os círculos de captura, os comedouros e bebedouros devem ser suspensos, para evitar golpes no peito e nas pernas das aves e acidentes com o pessoal responsável pela apanha.
- O ambiente do galpão, se possível, deverá ter iluminação reduzida durante a pega. As aves apresentam menor nível de atividade com a diminuição da luz e ambientes mais escuros minimizam as reações de medo entre as aves, diminuindo, assim, o estresse.
- É preciso que os ventiladores sejam mantidos ligados durante toda a pega das aves. Deve haver ventilação adequada na altura das mesmas, para minimizar os efeitos do estresse térmico. Ventiladores ligados também reduzem o nível de pó e poeira dentro do ambiente.
- Os trabalhos devem ser feitos de forma silenciosa. É necessário evitar-se procedimentos que possam gerar reações de medo e pânico nas aves. Elas deverão ser manejadas de forma calma, propiciando o mínimo de agitação entre elas. Muitas vezes a rapidez com que a pega é executada gera traumas nas aves e, dependendo da gravidade das lesões, pode ocorrer condenação parcial ou até mesmo total da carcaça dos animais afetados.
- As aves devem ser pegas pelo dorso (método japonês), usando as duas mãos e pressionando as asas contra o corpo. Os animais devem ser contidos de maneira confortável, evitando que elas se debatam. A pega pelo dorso oferece maior proteção, causa menos estresse e reduz os riscos de fraturas nas aves, resultando em uma menor condenação de carcaça.
- Enquanto as aves estão sendo carregadas é bom evitar que as mesmas se debatam ou levem pancadas (visando minimizar os arranhões, hematomas e outros machucados), por isso, a distância que as aves serão carregadas até o caminhão deverá ser a menor possível. Para isto, o caminhão de transporte deverá ser posicionado bem próximo de onde as aves sairão do galpão.
- As portas e passagens dos galpões devem ser suficientemente largas para permitir a remoção segura das aves.
- As aves devem ser colocadas dentro das caixas de transporte da forma mais cuidadosa possível. Se jogadas de forma brusca, podem sofrer danos e fraturas.
- As caixas carregadas com as aves precisam ser manejadas de forma cuidadosa, para evitar solavancos demasiados, ou que as mesmas escapem no momento da formação da carga na carroceria do caminhão.
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Os “círculos de captura” facilitam a pega…
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…e evitam danos às aves até o carregamento do caminhão – Fotos: Marília L. Queiroz
Pré-abate
Para que as aves cheguem da maneira correta até o final do processo de pré-abate, serão necessários, ainda, diversos cuidados nas fases que seguem a operação da pega. Porém, a atenção durante a apanha das aves é de extrema importância, pois é onde tudo se inicia, e, caso este começo ocorra de forma inadequada, sérios problemas envolvendo o bem-estar dos animais poderão ocorrer e perdurar até que as aves sejam abatidas.
A preocupação é tamanha que, atualmente, muitos estudos têm sido conduzidos com enfoque voltado ao pré-abate dos animais. O NEAMBE – Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal – vem pesquisando maneiras de otimizar o manejo das aves durante a etapa de pega ou apanha, visando promover melhores condições de bem-estar para os animais e geração de benefícios para toda a cadeia avícola brasileira, através da redução das perdas nos processos produtivos.